Título: Petrobras desiste de vender bônus
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini ; Goes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2008, Finanças, p. C1

Em um claro sinal de tempos mais bicudos de crédito externo às empresas do país, a Petrobras desistiu de vender US$ 500 milhões em títulos de vencimento em 2016 e cupom (juro nominal) de 6,125% ao ano, segundo confirmou o diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa. "Isso demonstra que o mercado não está para peixe", avaliou. Os analistas são unânimes em apontar que agora as grandes corporações brasileiras terão de ser cada vez mais cautelosas ao emitir eurobônus, além de aceitar pagar prêmios de risco mais elevados.

Segundo o mercado, a Petrobras tentou reabrir emissão de menor interesse nas condições adversas de hoje, pois ainda pouco líquida. Há apenas US$ 899 milhões em títulos de vencimento em 2016 nas mãos dos investidores, após duas emissões, uma em 2006 e outra em 2007. A leitura inicial das condições de mercado teria sido também um pouco rósea demais e os prêmios pedidos, muito apertados.

A Petrobras queria pagar na reabertura um prêmio de 5 a 10 pontos básicos sobre o rendimento do título de vencimento em 2016 no mercado secundário, segundo o mercado. Mas os investidores, que já haviam comprado US$ 750 milhões em papéis de vencimento em 2018 da empresa em janeiro, quiseram de 20 a 25 pontos. "Os investidores pediram rendimento maior do que o que estávamos dispostos a pagar", confirmou Barbassa.

Ele afirmou que o objetivo da Petrobras era ampliar a emissão com prazo de vencimento em 2016 para dar mais liquidez ao papel. O baixo interesse dos investidores levou a empresa, porém, a cancelar a nova oferta anteontem. "O mercado piorou muito ao longo do dia e decidimos sair", disse. Teve impacto fulminante no apetite dos investidores o anúncio feito pela AIG, gigante americana do setor de seguros, de perdas de US$ 4,8 bilhões com derivativos de crédito anteontem. Segundo Barbassa, houve outros cancelamentos e adiamentos de emissões.

Barbassa disse que o cancelamento da emissão da Petrobras é resultado do aperto de crédito pelo qual passa o mercado em função da crise de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. Segundo ele, a empresa não tem programada nenhuma nova tentativa de retomar a emissão e não depende desta captação para desenvolver os seus projetos. Ele preferiu não comentar a análise feita pelo mercado de que o papel com vencimento em 2016 tem baixa liquidez e atrai menor interesse dos investidores.

"A Petrobras foi cautelosa e sondou os investidores sobre o seu real interesse nos papéis da empresa", disse Luis Berlfein, do BNP Paribas, que, junto com o Morgan Stanley, era o líder da operação cancelada. "A Petrobras se aconselha com diversos bancos o tempo todo e não apenas com os bancos líderes dessa operação específica", disse. De acordo com ele, o mercado está volátil demais e vai "do céu ao inferno" dentro do mesmo dia.

"Não estamos enxergando condições que venham a impedir as emissões externas ao longo de todo o ano", disse o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, em seminário em São Paulo. Segundo ele, está entre os objetivos do governo vender títulos de dívida em reais no exterior com um prazo mais longo do que o atual, de 20 anos. (colaborou Fernando Torres, do Valor Online)