Título: Disputa nos EUA se afunila e só quatro têm chances
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2008, Internacional, p. A14

Sempre que alguém sugere que um homem da sua idade não tem condições de liderar os Estados Unidos, o senador John McCain, 71, menciona sua mãe. Roberta McCain está com 95 e há uma semana surgiu lúcida e espirituosa numa entrevista para um canal de televisão. Quando perguntaram sobre os adversários do filho no Partido Republicano, ela respondeu: "Eles vão ter que tapar o nariz e aceitá-lo."

McCain deu nos últimos dias dois passos importantes para consolidar sua liderança entre os republicanos na corrida à Casa Branca e cumprir a profecia da mãe. Anteontem, venceu as primárias do partido na Flórida, ganhando enorme impulso para enfrentar seu principal oponente, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, nos mais de 20 Estados que irão às urnas na próxima terça-feira (a chamada "superterça").

Ontem, McCain recebeu o apoio do ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani. Apontado como favorito entre os republicanos até poucas semanas atrás, Giuliani resolveu abandonar a disputa após sofrer uma derrota humilhante na Flórida, onde ficou em terceiro lugar. Sua adesão tem valor simbólico. Ela é mais um indício de que uma parcela crescente da elite conservadora está disposta a pôr de lado suas diferenças com McCain e embarcar na sua caravana.

A disputa no Partido Democrata também ganhou contornos mais nítidos ontem. O ex-senador John Edwards, que ficou em terceiro lugar na maioria dos Estados que votaram até agora, resolveu jogar a toalha. A briga pela candidatura do partido ficou entre a ex-primeira-dama Hillary Clinton e o senador Barack Obama. Ambos falaram com Edwards, que vai esperar mais um pouco antes de definir qual dos dois terá o seu apoio.

McCain, um ex-prisioneiro de guerra que chegou a ser declarado fora da disputa quando sua campanha entrou em crise no ano passado, reanimou sua candidatura ao persuadir o eleitorado republicano de que tem mais capacidade que seus rivais de enfrentar os democratas na eleição presidencial de novembro. As pesquisas sugerem que ele é o único republicano com alguma chance de ganhar a eleição presidencial de novembro.

Se a votação fosse realizada hoje, McCain teria 47% das intenções de voto numa hipotética competição com Hillary, que conseguiria 45%, segundo uma média das pesquisas mais recentes calculada pelo site Real Clear Politics. Se o candidato democrata fosse Obama, McCain teria 45% dos votos e Obama, 43%. As simulações sugerem que os dois candidatos democratas seriam capazes de derrotar Mitt Romney com uma vantagem superior a dez pontos percentuais.

Outra vantagem de McCain é a atração que ele exerce sobre uma fatia do eleitorado que tem crescido muito e deve ter um papel decisivo na eleição de novembro, formada por eleitores independentes que não são filiados a nenhum dos dois partidos que dominam a política americana. O apoio desses eleitores foi crucial em algumas das vitórias obtidas por McCain nas últimas semanas.

Mas a direita republicana e muitos grupos conservadores não gostam de McCain, que no passado se afastou com freqüência de alguns dogmas do partido. Essa resistência parece ter diminuído com as vitórias colhidas por McCain nas últimas semanas, que motivaram declarações públicas de apoio de diversas lideranças partidárias. Mas ela ainda é forte o suficiente para manter no páreo o direitista Romney como um competidor respeitável.

Pesquisas feitas com os eleitores que votaram nas primárias da Flórida reforçaram essa impressão. De cada dez republicanos que foram às urnas na terça-feira, quatro vão à igreja toda semana e Romney saiu-se melhor do que McCain entre eles. Mais de dois terços ainda se dizem satisfeitos com a maneira como o presidente George Bush tem governado, e Romney também é o candidato preferido entre eles.

No campo democrata, a saída de Edwards afasta da disputa o candidato que realçou primeiro o tema que agora domina a campanha, a ansiedade da classe média americana com o futuro da economia. Edwards adotou um discurso de tom populista, no qual que atribuía às grandes corporações e ao comércio internacional os problemas enfrentados pelos trabalhadores americanos. De olho no apoio de Edwards, Hillary e Obama divulgaram ontem mensagens cobrindo o ex-adversário de elogios.

A disputa entre Hillary e Obama tornou-se mais acirrada nas últimas semanas, com os dois candidatos e seus aliados trocando acusações e se comportando de maneira cada vez mais agressiva. Obama, que se lançou como o candidato que desafiaria o domínio exercido por Hillary e pelo ex-presidente Bill Clinton sobre a máquina partidária, começou a ganhar o apoio de lideranças influentes, como o senador Ted Kennedy, cuja ajuda pode ser decisiva na semana que vem.