Título: Indefinição na Petrobras tensiona aliados
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2008, Politica, p. A13

A indefinição sobre os cargos no setor elétrico não envolve apenas uma disputa entre PT e PMDB. De olho em uma das principais diretorias da Petrobras, o PP também não abre mão da permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria de abastecimento da estatal, cargo para o qual o sindicato dos petroleiros pretende nomear Alan Kardec Pinto. A demora do governo em pacificar a disputa só aumenta a tensão e a troca de farpas entre os aliados e integrantes das próprias legenda.

Na visão de pemedebistas ouvidos pelo Valor, foi o impasse na diretoria de abastecimento que impediu o Conselho de Administração da Estatal de confirmar, na segunda-feira, Jorge Zelada para a diretoria internacional. "A Petrobras quer ver todas as pendências resolvidas para não ter que reunir o Conselho de forma picada, para resolver uma nomeação de cada vez", afirmou o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que joga nas costas do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a tarefa de pacificar a legenda.

Henrique Alves assegurou que Zelada será indicado. O líder do PMDB estaria apostando em palavras do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele negou que o nome de Nestor Cerveró tenha ganhado fôlego nos últimos dias, com o apoio inesperado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que teriam unido esforços ao senador Delcídio Amaral (PT-MS), padrinho original de Cerveró. "Eu nem sei dizer por que eles resolveram, nessa reta final, apadrinhar o Cerveró. Mas é uma causa inglória e perdida", assegurou Alves.

De férias em Maceió, Renan Calheiros irritou-se com as insinuações de que esteja participando dessa disputa. "Estou aqui em meu Estado, não tenho nada a ver com essa confusão, não quero saber de indicar ninguém para nenhum cargo do setor elétrico", respondeu Renan ao Valor. Já o petista Delcídio Amaral rebateu com veemência as especulações de que o apoio de Renan seja uma retribuição a um suposto auxílio dado a ele durante o processo que resultou na tentativa de cassação do pemedebista. "Naquela época nem havia Zelada, nem nada", sustentou.

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), é outro que está contrariado com a polêmica. Ele não aceita que o PMDB jogue a vaga do PP como desculpa para a demora da Petrobras em confirmar Zelada no cargo. "Engraçado. Eu não me meto nas indicações do PMDB. Por que eles acham que podem pegar carona nos nossos nomes?", indagou o parlamentar baiano.

Negromonte assegura que Paulo Roberto Costa permanecerá na diretoria de abastecimento da Petrobras, mas não descarta a possibilidade de ele ser deslocado para a diretoria de produção e exploração. Se isso acontecer, Costa ocupará a vaga que hoje é de Guilherme Estrela, servidor de carreira da estatal e que teria sido um dos grandes responsáveis pela descoberta das reservas de petróleo na camada pré-sal do campo de Tupi.

O líder do PP afirmou que a legenda, logo depois da reeleição de Lula, foi ao presidente dizer que estava interessada em dois cargos: o Ministério das Cidades, mantendo-se Márcio Fortes no posto, e uma diretoria da Petrobras para Paulo Roberto Costa. Como o partido sabe que Guilherme Estrela está em alta na estatal, após o trabalho no campo de Tupi, corre para desqualificar Alan Kardec Pinto, que ameaça a permanência de Paulo Roberto na diretoria de abastecimento. "Alan Kardec tinha apoio de Walfrido dos Mares Guia. Depois da denúncia do mensalão mineiro, esse apoio perde muito de sua força", provocou um influente parlamentar do PP.

Na Petrobras, o compasso é de espera. A estatal já promoveu, no ano passado, mudanças na diretoria de gás, com a saída de Ildo Sauer, um antigo aliado do presidente Lula, o que sinaliza que não é regra a mudança da diretoria em bloco. Mas ninguém sabe explicar ao certo por que a nomeação de Zelada, dada como certa em Brasília, não foi analisada pelos conselheiros na segunda-feira.