Título: Planalto ameaça e enquadra aliados
Autor: Iunes, Ivan; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Política, p. 2

Palloci e Temer atuaram pela fácil vitória de Marco Maia, evitando a rebeldia da base em torno da candidatura governista

O Palácio do Planalto deu uma demonstração de força e não poupou esforços para influenciar na eleição de Marco Maia (PT-RS) como presidente da Câmara dos Deputados. Capitaneada pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, a força tarefa começou no início do ano. As ações promovidas pela dupla incluíram o enquadramento e ameaças a aliados, além do adiamento de questões polêmicas urgentes.

Ao primeiro sinal de dificuldades no relacionamento com uma parcela dos parlamentares aliados, o Planalto decidiu adotar a tática do morde e assopra. Quando o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), reclamou publicamente da divisão de cargos na Esplanada, Temer e Palocci trabalharam para tranquilizar e, ao mesmo tempo, enquadrar o parlamentar. Primeiro, disseram que as nomeações seriam adiadas, mas garantiram a Alves voz nas decisões de alguns postos importantes. Depois, pediram a ele que submergisse. O líder assentiu e só voltou a estrilar anteontem, quando o partido o reconduziu à liderança.

Controlado o PMDB, o Planalto varreu para depois da eleição na Câmara qualquer decisão polêmica. E havia várias na lista de espera. A primeira delas são os cortes no orçamento, que provavelmente atingirão as emendas parlamentares. ¿O governo realmente estuda liberar uma folga no Orçamento cortando parte dos recursos destinados às emendas parlamentares, mas isso não influenciaria na eleição da Câmara, apenas trará insatisfações pontuais¿, analisou o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).

Expulsão Depois de varrer possíveis focos de insurreição, o Planalto trabalhou para desidratar as candidaturas rivais a Maia. Depois de serem pressionados pelo governo federal, especialmente no quesito nomeações, o PCdoB, de Aldo Rebelo (SP), e o PSB, de Júlio Delgado (MG), convenceram os deputados a desistir da disputa. O único sobrevivente acabou sendo Sandro Mabel (PR-GO), mas que está ameaçado publicamente de expulsão pelo próprio partido. ¿Recebi meus companheiros de partido que disseram que o Executivo pressionou o meu partido e que eu deveria desistir da candidatura, caso contrário seria expulso¿, reclamou Mabel.

Ao final das eleições na Câmara, a dupla Temer-Palocci confirmou a tendência verificada desde a campanha eleitoral do ano passado. O principal papel de ambos no governo de Dilma Rousseff será o de promover a articulação entre Executivo e Legislativo.

Discurso de Dilma

Na mensagem que entregará pessoalmente aos parlamentares hoje, por conta do início do ano Legislativo, Dilma Rousseff deve pedir colaboração aos deputados e senadores para a formação de um pacto pela erradicação da miséria ¿ proposta de campanha da presidente. A carta não terá um teor de cobrança, mas um apelo por cooperação entre Executivo e Legislativo para cumprir a meta estabelecida.

A intenção de Dilma é acalmar a base governista, especialmente diante do provável cancelamento de emendas parlamentares já empenhadas, mas que ainda não foram processadas. A medida é tida como essencial para abrir uma brecha no Orçamento de forma a cumprir as metas fiscais do governo sem a necessidade de cortar investimentos, especialmente os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A medida será ainda mais prudente depois que o Palácio do Planalto entrou pesado nas articulações para a eleição de Marco Maia (PT-RS) na Presidência da Câmara dos Deputados.

A presidente também pedirá aos deputados e senadores auxílio para manter a inflação sobre controle e a aprovação de um salário mínimo que não prejudique as contas públicas. Dilma anunciou que pretende manter a remuneração base em R$ 545, mas as pressões das centrais sindicais por um benefício de até R$ 580 não estão descartadas. No Congresso, o principal ponto de discórdia entre parlamentares e o Executivo permanece sendo o cancelamento das emendas parlamentares.

Ao se desvincular temporariamente do cargo para tomar posse como deputado federal, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, antecipou que a estratégia atual do Planalto é a de pacificar o Congresso, em especial a Câmara. ¿A questão do cancelamento de algumas emendas é algo apenas em estudo, mas a discussão é precipitada. A equipe econômica nem sequer definiu onde serão feitos os cortes necessários na economia¿, afirmou. (II)