Título: Glencore pode ser segunda acionista da Vale
Autor: Durão , Vera Saavedra ; Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2008, Empresas, p. B9

A trading de metais suiça Glencore pode se tornar a segunda maior acionista da Vale do Rio Doce, com 8% do capital total da companhia, caso a operação de compra da Xstrata seja efetivada pela companhia brasileira com um valor da ordem de US$ 80 bilhões, numa operação que mistura US$ 40 bilhões em dinheiro e US$ 38 bilhões em ações. Este valor corresponderia a uma emissão de 1,6 bilhão de ações preferenciais PNA da Vale, de acordo com relatório elaborado pelo Citigroup Global Markets.

A participação da Valepar, controladora da Vale, cairia de 32% para 25% no capital total da Vale, conforme a operação desenhada pelo Citigroup. Os acionistas da Xstrata - que seriam pagos em dinheiro e em ações - teriam uma participação de 24% (8% para a Glencore, dona de 35% da Xstrata, e 16% para os demais acionistas da empresa) na nova estrutura de societária após a aquisição da anglo-suiça.

O Citigroup projeta um prêmio de 15% para os acionistas da Xstrata, correspondente a uma oferta de 40 libras por ação. Ontem, o papel da empresa foi cotado a 37,19 libras, alta de 5,89% na Bolsa de Londres. Na Bovespa, a ON da Vale fechou a R$ 51,08, com alta de 1,65%, e a PNA a R$ 44,25, maior 0,56%. Em Nova York, o ADR da Vale fechou a US$ 28,71, com aumento de 3,27%.

A expectativa no mercado é de que o conselho da Valepar, que reúne os acionistas controladores da Vale, possa convocar uma reunião extraordinária a qualquer momento esta semana para dar seu parecer final sobre a operação de compra da Xstrata. O Valor apurou que até ontem à tarde os acionistas da Vale, liderados por Previ, não tinham tido acesso aos números da Xstrata e nem às projeções de ganho de valor que a Vale poderá ter no longo prazo com esta aquisição. Estes dados são imprescindíveis para os conselheiros decidirem a dar ou não o "sinal verde" para formalizar a proposta.

O relatório do Citigroup avalia que uma oferta da Vale pela anglo-suíça agora parece quase inevitável. Para o banco americano, a Vale é uma compradora decidida e a Glencore é uma vendedora declarada, sem nenhum outro candidato. E considera que a parte financeira já está costurada. Também declara estar "cético" quanto ao tamanho da resistência do governo brasileiro ao negócio.

A Glencore International AG, maior trading de commodities do mundo, foi fundada em 1974, com atuação no mercado de metais ferrosos e não-ferrosos, minerais e petróleo. Depois, expandiu-se para derivados de petróleo e carvão, formando a área de energia. Outro segmento foi criado, em 1982, no setor de agronegócios.

No primeiro semestre do ano passado, a companhia teve vendas totais de US$ 67 bilhões, alta de 19% sobre mesmo período de 2006. Seu lucro subiu 11%, para US$ 3,5 bilhões, puxado pelos aumentos de preços dos metais e produtos energéticos, conforme informação da Bloomberg.

Sediada em Baar e com atividades em commodities de energia, metais e agrícolas, a Glencore é controlada por seu grupo executivo e empregados. O comando da companhia está a cargo de Ivan Glassenberg, de 50 anos. Cerca de 85% de seus lucros são destinados a um fundo de aposentadoria dos empregados, cujo valor somava US$ 13,5 bilhões no fim de junho de 2007.

A empresa foi fundada pelo financista e ex-fugitivo Marc Rich (ele ficou impedido de entrar nos EUA devido a uma fraude em operações de petróleo e só foi perdoado por Bill Clinton, ex-presidente americano). Ele teve sua participação de 25% na empresa retomada pelos executivo sêniores em 1994.

A companhia adquiriu também diversos ativos nos setores de mineração, metais, refino e processamento, a partir de 1987, passando de uma trading pura para um grupo diversificado em recursos naturais. (Colaborou Raquel Balarin, de São Paulo)