Título: Crise e IOF podem encarecer o crédito
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2008, Finanças, p. C3

A combinação de crise internacional com o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) poderá desacelerar o processo de queda nas taxas de juros bancárias ocorrido nos dois últimos anos. "Os bancos ficarão com uma margem mais apertada para cortar o 'spread' do crédito bancário", afirma o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

Em dezembro, os juros médios dos empréstimos bancários seguiram em queda, de 34,7% para 33,8% ao ano, apesar de a crise internacional ter aumentando o custo de captação dos bancos, que no mês passou de 11,2% para 11,4%. Num ambiente de acirrada concorrência, os bancos vinham cortando suas margens para manter a competitividade. O "spread" médio encolheu de 23,5 pontos percentuais para 22,4 pontos em dezembro.

Lopes avalia que os "spreads" ainda são altos, sobretudo para pessoas físicas, e que os bancos ainda podem repassar para os clientes os ganhos que estão obtendo com a maior escala das operações. Também há espaço para "spreads" menores porque os clientes continuam a procurar alternativas mais baratas, como o crédito consignado, o que puxa para baixo a taxa média.

Mas Lopes pondera que boa parte desses ganhos vai ser consumida, devido a dois fatores. Um deles são as novas altas esperadas nos custos de captação dos bancos - apesar de o BC ter mantido inalterada a taxa básica de juros. A remuneração paga pelos bancos nos depósitos está diretamente vinculada à taxa de juros nos mercado futuros, que subiu nas últimas semanas.

Outra pressão de custo é o aumento feito pelo governo nas alíquotas do IOF. O tributo é pago separadamente pelo cliente na contratação do crédito, mas, para fins estatísticos, é computado dentro dos juros totais dos empréstimos. O impacto do IOF, explicou Lopes, deverá ser incorporado às taxas já em janeiro.

Em 2007, os juros bancários caíram seis pontos percentuais, de 39,8% para 33,8% ao ano. Uma parcela pequena dessa queda se deve à redução do custo de captação dos bancos, que encolheu 1,2 ponto percentual durante o ano, de 12,6% para 11,4%. A queda no custo de captação foi menor do que os cortes acumulados na taxa Selic durante 2007 (dois pontos percentuais, de 13,25% para 11,25%) porque no início do ano o mercado futuro o mercado já contava com o afrouxamento monetário e, no fim do ano, esperava um aperto. O grosso da redução do juro bancário se deve à queda do "spread", que encolheu 4,8 pontos, de 27,2 pontos para 22,4 pontos.

A redução dos juros bancários foi mais pronunciada nas linhas a pessoas físicas (baixa de 8,2 pontos, de 52,1% para 43,9%) e mais suave nos empréstimos às empresas (baixa de 3,3 pontos, de 26,2% para 22,9%). "Os 'spreads' nos empréstimos a pessoas jurídicas são menores, por isso a queda foi mais suave", afirma Lopes.

Apesar da queda generalizada nos juros bancários em dezembro, algumas linhas tiveram alta. É o caso dos financiamentos ao consumo de bens duráveis, exceto carros, que subiu de 43,2% para 45% ao ano. "Como costuma ocorrer nos meses de dezembro, as instituições financeiras emprestaram para um público que não toma empréstimos durante o resto do ano. Por isso cobraram taxas um pouco maiores para cobrir os maiores riscos de inadimplência", afirma Lopes.