Título: Quero ser grande
Autor: Zaparolli , Domingos
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2008, Empresas, p. F1

Em 2007, a fabricante de fornos profissionais Prática Produtos, de Minas Gerais, viu seu faturamento crescer 30%, alcançando R$ 32 milhões. Não foi um resultado excepcional para os padrões atuais da empresa, que já cresce nesse ritmo acelerado desde o início da década, enquanto o mercado no qual ela está inserida evolui 12% ao ano.

O desempenho da Prática é resultado de uma bem-sucedida estratégia de crescimento, que envolve investimentos constantes em inovação, capacitação, programas de qualidade, análise mercadológica e planejamento anual, revisado mensalmente. "Crescimento não ocorre por acaso, é resultado de objetivos claros e muita disciplina na execução", define o presidente da companhia, André Luiz Rezende.

No contexto das pequenas empresas brasileiras, a trajetória da Prática é uma exceção. Ainda são poucos os empreendimentos que trilham o caminho do crescimento sustentado e tornam-se médios ou até mesmo grandes. Na verdade, a maioria não faz mais que lutar pela sobrevivência. Nem sempre com sucesso.

Segundo o IBGE, no estudo Demografia das Empresas Brasileiras, apenas 51,6% dos empreendimentos criados no país em 1997 continuavam ativos em 2005. O estudo, utilizando-se do critério de número de pessoas ocupadas, aponta também que entre as empresas sobreviventes o declínio das atividades ao longo do tempo foi mais comum que o crescimento.

Entre as empresas criadas com 5 a 19 funcionários, 42,4% viram seus negócios minguar gradualmente a ponto de passarem a figurar entre as que geravam ocupação para até 4 pessoas. Menos de 11% das empresas criadas com até 19 funcionários cresceram de forma significativa, mudando de patamar, passando de micro para pequena empresa ou de pequena para média.

A origem do baixo dinamismo dos pequenos empresários brasileiros, avalia o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella, está na própria motivação para se abrir um negócio. "No Brasil, a maioria dos empresários monta uma empresa por necessidade, por falta de opções de trabalho", diz o executivo. O sucesso, conclui Tortorella, é mais comum entre os empresários que abrem seus negócios porque enxergam oportunidades no mercado ou entre aqueles que, ao longo do tempo, desenvolvem uma mentalidade empreendedora e transformam a empresa em meio de ascensão social.

Paulo Veras, diretor geral do Instituto Empreendedor Endeavor, tem opinião semelhante. Veras lembra que o desempenho de uma pequena empresa está diretamente atrelado ao comprometimento do empreendedor com o negócio. Portanto, o sucesso depende dessa disposição em se qualificar e adotar um plano de negócios da empresa. O executivo diz ainda que é fundamental que o empreendedor tenha um planejamento de longo prazo para seu negócio, que vise a inovação constante e o crescimento. "O mundo dos negócios é competitivo. Quem se acomoda, sai do mercado", afirma Veras.

Engajar-se em uma empreitada para reinventar a empresa foi uma ação decisiva para André Rezende e seu irmão e sócio, Luiz Eduardo, conseguirem fazer da Prática um empreendimento de sucesso. Entre 1991, quando foi criada como uma fabricante de estantes de aço, e 1999, a empresa, como diz Rezende, "manteve-se no limite da sobrevivência". A virada na história da Prática teve início em 1998, quando os Rezende perceberam que não tinham escala que garantisse rentabilidade no mercado em que atuavam e também não possuíam expertise gerencial para dar grandes saltos.

A primeira ação foi buscar um novo segmento de negócios, com menor concorrência e maior valor agregado, onde uma pequena empresa poderia se destacar. Optaram por migrar para o mercado de fornos para cozinhas industriais. Ao mesmo tempo, trataram de buscar capacitação gerencial. Para isso procuraram o Sebrae, que os incentivou a implantar um programa de qualidade total.

O grande impulso na empresa veio a partir de 2000, quando os irmãos empreendedores passaram a investir de forma sistemática em P&D, em busca de uma maior eficiência energética em seus fornos. Seguiram-se parcerias com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e com as universidades federais de Itajubá (MG) e Santa Catarina. Os investimentos em inovação levaram a empresa a desenvolver uma linha de fornos combinados que realizam, por meio de um sistema de convecção de ar e vapor, tarefas variadas como assar, cozinhar, fritar, grelhar e descongelar alimentos.

Em 2006, os Rezende adquiriram a Klimaquip, especializada em equipamentos de resfriamento e ultra congelamento. Foi um passo estratégico que levou a Prática a se posicionar de forma inédita no mercado em que atua, ao ser a primeira a comercializar todas as etapas do sistema Cook & Chill, que prevê o preparo, o congelamento e o reaquecimento dos alimentos de modo a manter suas qualidades originais e evitar a proliferação microbiológica. Já em 2007, eles lançaram uma nova linha de produtos no mercado, a Prática Techinipan, para equipamentos de panificação.

O planejamento estratégico da Prática desde 2005 é orientado pela Fundação Dom Cabral. Os irmãos Rezende já estabeleceram suas metas para 2010, quando pretendem ter uma forte atuação internacional. Atualmente, a Prática obtém 10% de seu faturamento com exportações, principalmente para países da América Latina. O objetivo é que as vendas externas respondam por 26% dos negócios.

Estabelecer uma estratégia de crescimento, como fez a Prática, ainda é uma ação pouco usual entre as pequenas empresas. E não é uma tarefa simples. O professor da Fundação Getúlio Vargas e consultor Francisco Guglielme, especialista em pequenas empresas, diz que o primeiro passo desse planejamento é o empresário definir aonde quer chegar e por que. Em seguida, analisar os desafios mercadológicos, as possíveis ações dos competidores, os gargalos estruturais de sua empresa, o custo do capital que deverá ser empenhado e os riscos da perda de controle do processo. "A estratégia deve prever um crescimento sólido. E solidez mede-se pela rentabilidade da operação e a sustentabilidade do negócio a longo prazo", afirma.

"Não dar um passo maior que a perna" é uma preocupação constante de Fernando Baldin e seus três sócios na Premier TI. A empresa curitibana foi criada em 1989 com o objetivo de vender equipamentos de informática. Desde 2000, porém, mudou seu foco e passou a oferecer serviços de suporte técnico, service desk, gestão e monitoramento, além de impressão sob demanda. O novo posicionamento levou a empresa a um crescimento vigoroso.

Em 2000, a Premier TI contava com 50 funcionários e um faturamento anual na casa dos R$ 3,5 milhões, dos quais 80% originados com a venda de equipamentos. Já em 2007, a empresa empregava 263 funcionários e registrou um faturamento de R$ 18 milhões, 90% provenientes da área de prestação de serviços, negócio mais rentável. Além do Paraná, a empresa também passou a atuar em Santa Catarina e abriu um escritório em Brasília, onde atende alguns clientes paranaenses e o Ministério da Fazenda.

Fernando Baldin relata que o crescimento da Premier TI poderia ter sido ainda mais forte, uma vez que não faltaram oportunidades para a entrada em novos mercados, como São Paulo. "Nossa meta é crescer sem comprometer a cultura da empresa nem perder o controle das ações", diz o empresário. Para isso, a estratégia é investir em qualidade, na certificação de processos e na gestão de pessoas.

Para 2008, a expectativa é alcançar um faturamento de R$ 20 milhões. Até o final de 2009, os empresários programam expandir suas atividades para o Rio Grande do Sul. O planejamento das próximas ações tem consultoria da Fundação Dom Cabral.