Título: Controladores da Roche descartam fusão com Novartis
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2008, Empresas, p. B7

O sonho de formação de uma gigantesca empresa farmacêutica suíça unindo duas das maiores companhias do mundo - Roche e Novartis - parece ficar mais distante. O presidente mundial da Roche, Franz Humer, afirmou ontem que os atuais controladores da centenária farmacêutica vão ficar à frente do comando da empresa assim que terminar o acordo atual de acionistas. "Eles já indicaram que vão manter o controle sobre a empresa", afirmou Humer ao Valor.

A declaração põe fim a especulações existentes desde o início da década. Em 2001, a rival Novartis comprou 20% da Roche das mãos de um investidor privado, insatisfeitos com os rumos da empresa. Nos anos seguintes, a Novartis acumulou ações suficiente para controlar 32,7% da Roche, alimentando ainda mais os rumores de uma aquisição ou fusão entre as duas empresas.

Unidas, as duas empresas, coincidentemente localizadas na cidade suíça de Basiléia, na fronteira entre França e Alemanha, formada às margens do rio Reno, criaria a maior companhia farmacêutica do mundo, com vendas superiores a US$ 80 bilhões por ano, desbancando a americana Pfizer e a inglesa GlaxoSmithKline. Seria líder em vendas em medicamentos para o tratamento do câncer e problemas cardiovasculares, as duas doenças que mais matam no mundo.

Mas um acordo de acionistas mantido pelas atuais famílias controladoras da Roche, válido até 2009, impedia mudanças na atual estrutura. A decisão dos controladores, segundo Humer explicou, é que o acordo seja renovado por mais um período, ainda indefinido, nas mesmas condições. As famílias Hoffman e Oeri, herdeiras dos fundadores da Roche, criada em 1896, detêm juntas 50,01% das ações - uma maioria apenas suficiente para controlar a companhia.

Executivo de confiança dos acionistas, Humer deixará o comando executivo da Roche no início de março e ficará apenas no conselho de administração da farmacêutica que já preside desde 2004. Ele será substituído por Severin Schwan, de 40 anos, responsável pela área de diagnóstico.

Uma das razões apontada por analistas é que a Roche, que tinha portfólio de produtos pouco focado no fim da década passada, passou a ter bastante sucesso em seus negócios. No período em que Humer permaneceu no comando, a Roche passou por grande mudança. Vendeu ativos, como vitaminas e medicamentos de venda livre, para concentrar seu foco em remédios sob prescrição e mecanismos de diagnósticos de doenças.

Em sua última apresentação como executivo, ontem, Humer mostrou um crescimento de vendas de dois dígitos pelo sétimo ano consecutivo - alta de 10%, para 46,1 bilhões de francos suíços (US$ 41,9 bilhões). Pela primeira vez, a Roche ultrapassou a Novartis em vendas, que registrou US$ 39,8 bilhões no ano passado. Quando Humer assumiu o cargo de presidente em 1998, a Roche faturava cerca de US$ 12 bilhões. A Novartis, que havia sido constituída um ano antes a partir da fusão entre Sandoz e Ciba Geigy, tinha receita superior a US$ 20 bilhões.

Em 2007, o lucro líquido da Roche avançou 24%, para US$ 10,4 bilhões, graças as vendas globais de medicamentos de biotecnologia como Mabthera, Herceptin e Avastin, todos usados no tratamento de câncer e licenciados pela americana Genentech, uma farmacêutica estrategicamente controlada desde 1989 pela Roche.

Mas Humer previu que o desempenho para 2008 não será tão bom, com crescimento de um dígito. As vendas de Tamiflu, um antigripal que impulsionou as vendas da Roche nos últimos anos, foram mais lentas na última metade de 2007. Vários governos estocaram o remédio diante do temor de que a vírus chegasse, o que não aconteceu. Mas a Roche, que tem hoje 50% das vendas em oncologia, percentual que deverá subir nos próximos dois a três anos, começa a explorar outros campos, como os tratamentos para diabetes e alzheimer, doenças cada vez mais comuns diante dos maus hábitos de saúde (fumo, obesidade, etc) e longevidade da população.

O repórter viajou a convite da Roche