Título: Itaú dobra lucro com expansão do crédito
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2008, Finanças, p. C16

Marisa Cauduro / Valor Segundo o presidente do Itaú, Roberto Setubal, crescimento da economia sustenta demanda por empréstimos O Banco Itaú aposta no crédito imobiliário, financiamento de veículos, empréstimo a pequenas e médias empresa e consignado para expandir os lucros neste ano. A idéia é repetir a receita de sucesso de 2007, quando estabeleceu novos recordes e voltou a superar o Bradesco. No ano passado o Itaú teve um lucro líquido recorde de R$ 8,474 bilhões, 96,7% superior ao resultado de 2006 (R$ 4,309 bilhões), e acima dos R$ 8,01 bilhões obtidos pelo Bradesco.

Uma parcela de R$ 1,295 bilhão do resultado veio da venda de ativos como a participação na Serasa, Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), Bovespa e Redecard. Outros bancos também lucraram com essas operações. Excluindo, essa receita não recorrente, o lucro líquido fica em R$ 7,179 bilhões, ainda assim 15,9% superior ao de 2006, que foi de R$ 6,195 bilhões, desconsiderando o impacto também extraordinário da amortização do ágio da compra do BankBoston.

Apesar de os resultados do Itaú terem ficado abaixo do previsto por alguns analistas, como Mônica Araújo, da Ativa Corretora, as ações preferenciais do banco saltaram 6,14% para R$ 39,61, ontem, dia em que o índice Bovespa subiu 1,92%. Já os analistas Ariadne Arnosti e Ildo de Oliveira do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), consideraram o resultado do Itaú "excepcional" pois, apesar da contribuição de receitas extraordinárias, o banco apresentou "sólido crescimento da carteira de crédito, com melhora em sua qualidade, e excelentes resultados em termos operacionais, com queda de despesa e aumento de receita".

Com esse desempenho, os papéis reduziram as perdas acumuladas no ano a 12,90%. Já o índice Bovespa acumula no ano queda de 3,26%. Depois do bom comportamento de 2007, as ações dos bancos foram prejudicadas neste ano pelas medidas do governo para compensar o fim da CPMF e desacelerar o crédito, como o aumento do IOF, a criação do compulsório sobre depósitos interfinanceiros de leasings e aumento de 9% para 15% da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos.

Apesar disso, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, está otimista. Ao comentar os resultados de 2007, Setubal afirmou que "o crescimento econômico está dando fôlego ao crédito e anima o banco a expandir a rede e todas as áreas de negócio". A expectativa de Setubal é que a carteira de crédito do banco deve crescer de 25% a 30% neste ano, excluindo operações com grandes empresas que há alguns anos vêm trocando o crédito tradicional pelo recurso ao mercado de capitais.

A previsão foi traçada em um cenário de estabilidade da taxa Selic no patamar atual de 11,25% e de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5%.

O presidente do Banco Itaú acredita que a economia brasileira, por ser relativamente fechada, tem sido menos atingida pela atual turbulência internacional; e espera que o Brasil seja elevado a grau de investimento ainda neste ano, o que atrairá investidores mais conservadores.

Em 2007, a carteira cresceu 37,3%, acima da média do mercado, para R$ 115,548 bilhões em dezembro. Incluindo avais e fiança, atingiu R$ 127,589 bilhões.

A expansão foi liderada pelas operações com pessoas físicas, que cresceram 34,8% para R$ 54,416 bilhões; os empréstimos a pequenas e médias empresas, que aumentaram 34% para R$ 21,769 bilhões. Setubal destacou também o salto de 64% do financiamento de veículos, que atingiu R$ 29, 611 bilhões.

Setubal prevê para este ano uma expansão de 40% no financiamento de veículos; e de 30% nos empréstimos às pequenas e médias empresas. Mas, as novas fronteiras de expansão são o consignado e crédito imobiliário, que deverão exibir taxas de crescimento na faixa de 50%, embora em montantes menores.

O crédito imobiliário, por exemplo, já cresceu 10,9% em 2007 e chegou a R$ 2,682 bilhões. Mas Setubal espera um verdadeiro "boom", dentro de três a cinco anos, com novas quedas dos juros e a manutenção do crescimento econômico. Uma das estratégias do banco nessa área foi a parceria feita com a Lopes Filho para agilizar as concessões.

Setubal revelou que está interessado em alguma aquisição para ganhar espaço no crédito consignado. Anteriormente, o banqueiro havia admitido que avaliou mal o potencial do consignado e não escondeu que o Itaú estava um pouco atrasado na corrida. Por isso, interessou-se em comprar uma participação no BMG, com o qual tinha um acordo que lhe garantia o direito de preferência caso o banco mineiro, um líder do segmento, desejasse vender ações. Mas, o acordo venceu e não houve negócio. Atualmente, o Itaú apenas compra contratos de consignado do BMG, em operações de cessão de carteira, que ajudam a compor sua posição de R$ 2,6 bilhões.