Título: Sarney confirma favoritismo
Autor: Jeronimo, Josie; Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Política, p. 9

Eleito pela quarta vez presidente do Senado, peemedebista diz que faz um "sacrifício pessoal" e anuncia despedida: Meu último mandato

Uma eleição de cartas marcadas reconduziu José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado, ontem. O único ruído na escolha da Mesa Diretora da nova legislatura foi o novato Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). O conterrâneo eleitoral de Sarney decidiu concorrer e interrompeu o acordo costurado pela candidatura única. Em sua primeira participação no plenário do Senado, Randolfe ganhou o apoio de 10% dos colegas. No placar final, Sarney foi reeleito com 70 votos, enquanto o senador do PSol levou oito. Dois parlamentares votaram em branco e um anulou. Apesar dos oito votos na candidatura socialista terem surpreendido a Casa ¿ a candidatura de Sarney era vista como consenso absoluto ¿, a disputa de ontem foi a mais folgada desde 1997. Nas últimas cinco eleições para a presidência do Senado, nenhum segundo colocado teve menos do que 28 votos. Com voz embargada, Sarney agradeceu por ter vencido pela quarta vez a disputa pela presidência da Casa e classificou sua jornada como um ¿sacrifício pessoal¿. ¿Tenho nesta posse o gosto da despedida, pois cumprirei o meu último mandato. Espero fazer todo o esforço, toda a doação de mim mesmo, para servir esta Casa que é um pouco da minha vida.¿

Dos 11 votos que não foram dados a Sarney, um foi do estreante Pedro Taques (PDT-MT). ¿Disse a ele que não tinha nada contra sua pessoa, e que respeitava sua história¿, afirma. Taques, no entanto, não quis revelar se foi um dos oito eleitores de Randolfe.

Acordo com o DEM A eleição para a Mesa Diretora deu uma amostra do que será a legislatura da Casa Alta durante o mandato da presidente Dilma Rousseff. Diferentemente do front de guerra enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva, o Senado agora conta com maioria governista ¿ 62 parlamentares dos 81. Os acordos para a distribuição de cargos na Mesa foram feitos a portas fechadas, sem reclamações públicas ou ataques. O único descontentamento foi manifestado pelo DEM, mas Sarney tratou logo de colocar panos quentes na situação, criando um cargo para acomodar o partido: a ¿Ouvidoria-Geral do Senado¿. A função, apesar de ter sido criada em ato de 2005, nunca existiu. Mas indicar a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) para o cargo criado foi uma solução política.

Indagado sobre a função da ouvidoria, José Agripino (DEM-RN) resumiu: ¿Está no regimento¿. Sarney deu a mesma a resposta. A ouvidoria funcionará como uma espécie de corregedoria, mas voltada à fiscalização e investigação da administração do Senado. Na prática, o DEM vai acompanhar os passos da Primeira-Secretaria, posto que comandava na legislatura anterior e que agora ficará nas mãos de Cícero Lucena (PSDB-PB). A 2ª Secretaria ficou com João Ribeiro (PR-TO), a 3ª Secretaria com João Vicente Claudino (PTB-PI) e a 4ª Secretaria com Ciro Nogueira (PP-PI).

Seguindo o acordo de revezamento fechado com José Pimentel (PT-CE), Marta Suplicy (PT-SP) foi indicada para a Vice-Presidência do Senado. A petista afirmou que ser mulher foi o ¿diferencial¿ para escolha, mas ressaltou sua trajetória. ¿Não posso dizer que é só por ser mulher, porque isso é jogar a biografia no lixo.¿ O revezamento, porém, foi questionado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O parlamentar apresentou questão de ordem sobre a constitucionalidade da divisão do mandato de dois anos, pois o acordo do PT estipula a renúncia após um ano na vice-presidência do Senado. Wilson Santiago (PMDB-PB) será o segundo vice-presidente.

Afago no cara-pintada

Depois de quase 20 anos, dois personagens de um dos mais importantes momentos políticos do país se encontraram. Em campos opostos em 1992, os senadores Lindberg Farias (PT-RJ) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL), se cumprimentaram e até conversaram durante a posse dos novos parlamentares no Senado. O parlamentar fluminense, que na época era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), liderou o movimento dos caras- pintadas, que culminou com a renúncia de Collor, então presidente da República.

¿Eu o vi na minha frente e estiquei a mão para cumprimentá-lo. Foi um encontro casual¿, contou Lindberg, afirmando que Collor retribuiu o aperto de mão. Os dois conversaram por alguns minutos, quando o ex-presidente ofereceu auxílio ao senador do Rio de Janeiro. ¿Ele falou que, caso eu fosse para a Comissão de Infraestrutura, ele tinha vários relatórios tirados de seminários realizados nessa área¿, disse o senador petista, que ressaltou a cordialidade do parlamentar de Alagoas e evitou comentar o passado. ¿Aquilo foi um momento político da história do país¿. Antes, na mesma sessão, Collor já havia se encontrado com Randolfe Rodrigues (PSol-AP), que também foi do movimento caras-pintadas. ¿Ele me parabenizou pelo discurso, disse que foi firme. Depois perguntou minha idade e me parabenizou por ter alcançado o Senado ainda jovem¿, disse Randolfe.

Ao contrário da Câmara, onde a renovação foi maior, no Senado, poucos parentes dos novos parlamentares estiveram na posse. O que mais chamava atenção era o cantor Supla ¿ de terno lilás e sapato vermelho ¿, filho do casal de senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Martha Suplicy (PT-SP). (JJ e EL)

Itamar quer mínimo de R$ 600 » Itamar Franco (PPS-MG) tomou posse ontem no Senado com discurso afiado de representante da oposição. Enquanto parlamentares do DEM e do PSDB ainda analisam como será a atuação legislativa no primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente da República já chegou cheio de ideias para marcar presença no Senado. ¿Fomos eleitos pela oposição. É preciso cobrar da presidente as promessas feitas na campanha.¿ Itamar afirmou que a oposição lutará por reajuste maior do salário mínimo e relembrou a proposta do adversário de Dilma na disputa presidencial, o tucano José Serra, de elevar o vencimento para R$ 600. O ex-presidente da República informou que assim que as comissões estiverem constituídas vai apresentar requerimento convidando José Serra para apresentar à Casa relatório elaborado pelo tucano para chegar ao cálculo de R$ 600 para o mínimo, sem desestabilizar as contas públicas. ¿Durante a campanha, o candidato Serra dizia que o país tinha a condição de chegar a um salário de R$ 600. Temos que convidar o candidato para saber como ele chegou a essa conclusão.¿ (JJ e EL)