Título: Aumenta pressão da base por cargos no governo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2008, Política, p. A9

O governo terá um longo e duro caminho a percorrer para contemplar todos as indicações de aliados para os cargos federais nos Estados. Líderes de partidos da coalizão avaliam que, do universo total de vagas disponíveis, apenas 3% foram preenchidas. Baseando-se em um percentual conservador feito por um líder pemedebista, de que 60% das vagas não serão trocadas, restam pouco menos que 40% dos cargos em disputa.

"Estamos diante de uma demanda represada de 10 meses. Não sei dizer se são 3% ou 5% pedidos atendidos. Mas posso garantir que foram muito poucos", declarou o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, que ontem reuniu-se com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para começar a analisar os pedidos e os cargos disponíveis.

Esse montante considerável torna praticamente inviável o desejo inicial de Múcio de resolver todas as pendências até o início de fevereiro, quando os trabalhos legislativos serão retomados. Da reunião de ontem participou também, além de Múcio e de Paulo Bernardo, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. Foi a primeira reunião do grupo, pois Múcio assumiu a Pasta no auge das negociações da CPMF e com deputados pressionando pela liberação das emendas parlamentares antes do término de 2007.

Durante a reunião, ficou decidido que, neste primeiro momento, o foco deve ser a definição dos indicados que são fruto de consensos locais, confirmados pelos partidos interessados e sem disputa com outras legendas.

Múcio foi ontem ao Ministério da Agricultura, conversar com Reinhold Stephanes (PMDB). No fim do dia, fez uma visita ao ministro da Justiça, Tarso Genro (PT). "Muito da demora é fruto de briga de poder, de grupos locais que se rivalizam", acrescentou o ministro, prometendo um périplo pela Esplanada para resolver seus problemas.

Para exemplificar as dificuldades, Múcio afirma que uma indicação para um Ibama local pode estar acertada, mas uma ONG regional não concordar. Em outros casos, o partido define um secretário para determinado órgão, mas o superintendente local não abre mão do atual quadro em exercício. "Depois dos consensos, que espero resolver o mais rápido possível, vamos partir para resolver aquelas situações de disputa entre partidos", afirmou o ministro.

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA) espera que, finalmente, as coisas saiam do papel. "O ministro Múcio deveria criar, em sua Pasta, o PAC da credibilidade. O governo precisa cumprir suas promessas".

No caso do PP, a legenda tem indicações para alguma diretoria da Anvisa, a presidência do BB Seguros, qualquer diretoria da Chesf e a Secretaria Nacional de Programas Urbanos, ligado ao Ministério das Cidades. Além de vagas regionais, entre elas, a presidência da Conab, no Ceará. "A bancada já concordou com a indicação, feita pelo deputado Eugênio Rabelo (CE). Levamos ao Planalto e até hoje ele não foi nomeado", criticou Negromonte.

Vice-líder do PMDB na Câmara, Tadeu Filippelli (DF) reconheceu que é grande a pressão dos deputados para que o governo confirme suas indicações. "O PT não pode achar que as reivindicações que faz são fruto de governo de coalizão e a de outros partido, é puro fisiologismo", comparou Filippelli. Além do setor elétrico - que será definido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - a legenda reclama não ter ocupado espaços políticos nos diversos ministérios em que comanda, como Saúde, Integração Nacional e Agricultura, dentre outros.

O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), ouviu do Planalto a promessa de que o ex-governador do Ceará, que já foi tucano, Lúcio Alcântara, teria um cargo no setor elétrico. Até hoje, nada. A legenda também espera indicar nomes para os DNITs de Santa Catarina, Paraíba e participar das conversas para a substituição da atual diretoria da ANTT, cujo mandato vence em fevereiro.