Título: Argentinos fazem filas para tomar a vacina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Brasil, p. A7

As notícias sobre mortes no Brasil causadas pela febre amarela levaram uma multidão de argentinos a tomar a vacina contra a doença em Buenos Aires. São turistas que, em sua maioria, viajam para as praias do litoral Sul e Nordeste e que, portanto, nem precisavam vacinar-se.

O último balanço feito pelo Ministério da Saúde contava 57.839 doses de vacina contra a febre amarela aplicadas até o dia 25 de janeiro, em ritmo de 700 pessoas vacinadas por dia. Segundo o diretor da área de Prevenção de Enfermidades e Riscos do Ministério da Saúde argentino, Hugo Fernández, trata-se de um recorde histórico, que obrigou as autoridades a abrir dois postos adicionais ao único que atendia o público com a vacina na capital portenha.

O Paraguai e o Uruguai também entraram em alerta, avisando a população da necessidade da vacina se pretendem ir a alguma das áreas endêmicas no Brasil. Gilberto Rios, sub-diretor geral do Ministério de Saúde do Uruguai, disse que o número de pedidos de vacinação cresceu muito acima da média para os meses de janeiro.

Mas nos dois países a procura não tem sido tão grande quanto em Buenos Aires, onde as filas para vacinação chegam a três ou quatro quadras de distância dos postos. Na primeira quinzena de janeiro, quando a procura pela vacina atingiu o pico, alguns postos chegaram a ficar abertos até 23h.

"A princípio houve muita informação desencontrada sobre a situação no Brasil e por isso chegamos a atender 4 mil pessoas por dia", disse Fernández ao Valor. "Depois ficou mais claro que só quem pretende ir às áreas de selva deve tomar a vacina e o movimento caiu para mil pessoas (até o dia 15 de janeiro). Mesmo assim é atípico", explicou . O "pânico" passou, mas o ministério mantém até hoje dois postos adicionais abertos.

Na televisão, o canal C5N chegou a retransmitir a cada hora, com legendas em espanhol, um pronunciamento feito em rede nacional no Brasil pelo ministro de Saúde do Brasil, José Gomes Temporão. Temporão tentava tranqüilizar os brasileiros de que não há risco de epidemia e que só quem mora ou viaja para as regiões endêmicas, e não é vacinado, deveria procurar os postos.

A Argentina tem 300 mil doses da vacina em estoque, importadas dentro de convênio com a Organização Pan-americana de Saúde. Normalmente, o estoque serve para atender às regiões de fronteira com Brasil e Paraguai, principalmente nas províncias de Misiones e Corrientes. Fernández afirma que, por enquanto, não há necessidade de ampliar a importação. "Estamos vendo a evolução, já fizemos a distribuição no interior e esperamos para ver se será necessário ou não ampliar o estoque."