Título: Dilma quer nova diretoria do BC
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Economia, p. 12

Presidente espera que Senado aprove quatro nomes para o Banco Central até o fim deste mês. Meta é ampliar o debate sobre juros

A presidente Dilma Rousseff deu sinal verde para que a Casa Civil encaminhe ao Senado os nomes dos futuros diretores do Banco Central. A meta é aprová-los na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e no Plenário da Casa ainda neste mês, para que já se tenha uma nova formação do Comitê de Política Monetária (Copom), com reunião marcada para os próximos dias 1º e 2 de março. Apesar de estar consciente da necessidade do aumento da taxa básica de juros (Selic), que, no mês passado, passou de 10,75% para 11,25% ao ano, para conter a disparada da inflação, Dilma quer ampliar e arejar o debate dentro do BC. Com a nova configuração, o BC terá nove dirigentes. Hoje, são sete.

A expectativa é de que pelo menos quatro nomes sejam encaminhados ao Senado. Para a diretoria de Estudos Especiais, que está vaga, será indicada a economista Zeina Latif, considerada uma das profissionais mais qualificadas do mercado para a função. Ela foi uma escolha pessoal do atual presidente do BC, Alexandre Tombini, que incumbiu Carlos Hamilton Araújo, diretor de Assuntos Econômicos, de pavimentar o convite. O nome de Zeina foi avalizado por Dilma.

Carlos Hamilton, por sinal, tornou-se figura-chave na gestão de Tombini e está trabalhando ativamente no processo de substituição da equipe do BC. ¿Realmente, ele teve papel decisivo no convite à Zeina, muito ligada a Mário Mesquita, antecessor de Hamilton na diretoria de Assuntos Econômicos¿, disse um técnico do governo. Ele ressaltou que os demais nomes a serem apresentados ao Senado devem ser fechados nesta semana. ¿A burocracia do BC está finalizando os detalhes para, então, acionar a Casa Civil¿, acrescentou.

Aposentadoria Será preenchida a diretoria de Normas, antes ocupada por Tombini e, agora, acumulada por Luiz Awazu Pereira, diretor de Assuntos Internacionais, que deve ser mantido nesta função. A nova feição do BC será completada com a possível substituição de Alvir Hoffmann na diretoria de Fiscalização e de Gustavo Matos do Vale, decano entre os dirigentes do BC e responsável pela área de Liquidações e de Controle de Crédito Rural. Os dois já indicaram a Tombini o desejo de se aposentarem neste ano. ¿É bom deixar claro que tanto Alvir quanto Gustavo deixarão os cargos por vontade própria. Se dependesse de Tombini, eles continuariam tocando suas áreas normalmente¿, acrescentou.

Pelos sinais emitidos por Tombini, Aldo Luiz Mendes, funcionário de carreira do Banco do Brasil, será mantido na diretoria Política Monetária. O mesmo deve acontecer com Anthero Meirelles, diretor de Administração. Há, porém, a possibilidade de ele ser transferido para a área de Fiscalização. ¿É importante deixar claro que não há pressões sobre Tombini. Ele está tranquilo para escolher seus auxiliares e, certamente, formará uma ótima equipe¿, disse um técnico do BC.

Também não se esperam mudanças bruscas na política monetária. Dentro do BC, há a certeza de que a taxa Selic continuará subindo até o nível que a instituição considerar necessário para levar a inflação, que aponta para os 6% neste ano, ao centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. ¿O BC vive um momento de tranquilidade. E, melhor, voltou a ter uma postura técnica, livre dos interesses políticos do ex-presidente da instituição Henrique Meirelles¿, destacou o mesmo técnico do Banco Central.

A expectativa é de que Tombini se encontre, nos próximos dias, com o senador Delcídio Amaral (PT-MS), escolhido ontem para presidir a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. ¿Esse tipo de encontro é normal. É importante o presidente do BC preparar o terreno na CAE, mesmo que não haja riscos de os nomes serem rejeitados. É importante destacar que o governo tem maioria do Senado¿, afirmou um assessor do Palácio do Planalto.

11,5% nas mãos de estrangeiros » A participação dos estrangeiros no total da dívida interna brasileira é maior do que se imaginava até agora, segundo informou o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Pelo meio de apuração utilizado até o ano passado, a fatia de títulos na mão desses investidores aumentou de 10,03% para 10,25% em dezembro. Uma nova metodologia considerada a partir de janeiro aponta, no entanto, que, no fim de 2010, 11,56% dos credores da União eram não residentes. A alteração resulta do novo cadastro do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) do Banco Central, que permitiu identificar os donos de papéis depositados em forma de garantia no mercado de capitais. Até então, não era possível saber se esses ativos eram detidos por brasileiros ou estrangeiros. (GC)

R$ 236 bilhões a mais em dívida » Gabriel Caprioli

A frouxidão da gestão do ex-presidente Lula com os gastos federais obrigou o governo a ampliar a dívida brasileira em R$ 197 bilhões somente no ano passado, como forma de financiar a máquina pública. O estoque de títulos do Tesouro Nacional em circulação no mercado encerrou 2010 em R$ 1,69 trilhão, 13,1% a mais do que no fim de 2009. Apesar de repetir, desde que assumiu a cadeira mais alta do Executivo, que pretende ajustar as contas e gastar menos, Dilma Rousseff e sua equipe poderão aumentar o endividamento federal em até R$ 236 bilhões (14,2%), com o total de títulos em poder do mercado chegando ao limite de R$ 1,93 trilhão previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2011.

A maior necessidade de buscar recursos com os investidores resulta do expansionismo observado, principalmente, depois da crise mundial de 2008, segundo avaliação do economista da Consultoria Tendências Felipe Salto. ¿Parte do aumento no estoque foi graças às emissões em favor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo parece ter descoberto a fórmula mágica de fazer dinheiro e entregou R$ 80 bilhões ao banco de fomento só em 2010¿, disparou. Para Salto, a justificativa de reforçar o caixa do BNDES e garantir mais investimento é legítima, mas ele lembrou que, nesse caso, os custos ficam para o Tesouro, que é obrigado a pagar juros mais altos no lançamento dos papéis do que o cobrado pelo banco, posteriormente, nos financiamentos à iniciativa privada.

Apesar de o governo estar mais endividado, o perfil dos papéis melhorou em 2010, conforme análise do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Os títulos remunerados com base em taxas prefixadas avançaram de 32,2% para 36,6% do total do endividamento. ¿É o maior percentual da história. Mostra que os fundamentos da economia estão muito bons¿, ponderou. Em contrapartida, os papéis atrelados à variação da taxa básica de juros (Selic) diminuíram sua participação de 33,4% para 30,8%.

Essa relação, mais vantajosa para o Tesouro, deve, porém, voltar a ficar desfavorável em 2011, segundo o economista da Austin Ratings Leonardo dos Santos. ¿O movimento deve ser revertido nos próximos meses, com o aumento da taxa Selic. É natural que o ciclo de aperto monetário aumente a procura dos investidores por esses títulos¿, afirmou.

Colchão reforçado Para financiar os R$ 422,9 bilhões em dívidas que vencem somente em 2011, o governo precisará emitir mais títulos e buscar mais recursos no mercado financeiro. As reservas atuais do Tesouro Nacional (chamadas de colchão de liquidez) são suficientes para honrar cinco meses de vencimentos sem novas emissões, cerca de R$ 176 bilhões. A folga, segundo o secretário da instituição, Arno Augustin, permite que o governo evite pressões dos investidores pelo pagamento de juros maiores para financiar a dívida federal.