Título: Dilma desbanca Sarney e define comando na Eletrobrás
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Política, p. A11

Leo Pinheiro / Valor Temer queixa-se da demora: "O governo tem de agir com clareza. Se pode, diga que pode; se não pode, diga não pode" A chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, deve emplacar Flávio Decatt na presidência da Eletrobrás, apesar de o senador José Sarney (PMDB-AP) ter colocado o nome de Evandro Coura no páreo na semana passada. Diante da resistência da ministra, Sarney, segundo apurou o Valor, já teria dado demonstrações de que não se opõe a abrir mão de sua sugestão. Primeiro, disse que a indicação de Coura não era dele, mas do presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Depois, afirmou que Decatt, ex-presidente da Eletronuclear, é um técnico respeitado.

No próprio mercado de energia, o nome de Evandro Coura, que preside o grupo privado Rede e a Associação Brasileira das Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE), não foi bem recebido. Mas é o temor de comprar uma briga com Dilma que faz com que o PMDB pise um pouco no freio. Desde que tomou posse no Ministério das Minas e Energia, Edison Lobão tem feito reuniões com Dilma, indicando que todas as nomeações serão tomadas de forma consensual.

No fim da manhã de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com Lobão e o ministro da articulação política, José Múcio Monteiro. A previsão inicial era que o encontro com o PMDB acontecesse na tarde de ontem. Mas, "como ninguém bateu o martelo", nas palavras dos dois ministros, o encontro foi adiado para hoje, sem a presença do presidente. No PMDB, o adiamento das escolhas incomoda. "Isso é desgastante para todos os lados: governo, PMDB e indicados", reclamou o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP).

Temer considera ideal que todas as pendências sejam resolvidas até o fim desta semana. Depois, vem o carnaval e mais uma semana será perdida nas negociações, caso não haja as confirmações dos nomes. "O governo tem de agir com clareza. Se pode, diga que pode; se não pode, diga não pode", queixou-se Temer.

A maior angústia da legenda é, de fato, a Eletrobrás, onde dois cargos estão em disputa: além da presidência, será indicado o nome do diretor financeiro da estatal. Este último caso está praticamente resolvido. O nomeado deve ser Astrogildo Quental, ligado a Sarney e ex-diretor da Eletronorte. No início das negociações, Quental chegou a ser cotado para presidir a Eletrobrás. O nome dele apareceu em dobradinha com o de Márcio Zimmermann, quando, em julho do ano passado, o PMDB apresentou esse nome para substituir Silas Rondeau.

Na ocasião, o governo preferiu manter Nelson Hubner na interinidade. Com a ida de Lobão para o ministério, Zimmermann foi confirmado como secretário-executivo. O nome de Quental permaneceu em alta até que Decatt, apadrinhado por Dilma, tornou-se o favorito.

Na semana passada, houve nova reviravolta. O nome de Coura começou a circular pelo Senado e chegou a ser anunciado como futuro presidente da Eletrobrás. O próprio Lobão reconheceu que Coura era um dos mais fortes para ocupar o cargo. Mas, uma série de reuniões e conversas podem ter mudado o cenário.

Sarney indicou Lobão e Astrogildo. Dilma passou por cima do PT - mais especificamente do senador Delcídio Amaral (MS) - e avalizou a indicação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras, em substituição a Nestor Cerveró. Num gesto de boa vontade, embora Lobão tenha assegurado que não deseja ser servil à Dilma, não custaria nada manter Decatt na presidência da estatal.

Outro nome praticamente fechado é o de Lívio de Assis para a presidência da Eletronorte. Ex-diretor do Detran do Pará, Assis é afilhado político do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Jorge Boeira, indicado pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), já havia sido confirmado como novo presidente da Eletrosul.

Ontem, no Rio, a reunião do conselho de administração da Petrobras terminou sem mudança. Havia a expectativa de que Zelada assumisse a diretoria internacional. A troca não estava na pauta da reunião mas a avaliação de fontes ouvidas pelo Valor é de que ocorreria ontem. Também não houve indicação para a diretoria financeira da BR Distribuidora. (Colaboraram Thiago Vitale Jayme, de Brasília, e Cláudia Schüffner, do Rio)