Título: Nuvem de dúvidas paira sobre acordo
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Economia, p. 13

No dia seguinte ao qual Silvio Santos disse estar livre de dívidas, BTG Pactual nega ter assumido encargos com o FGC

Instituição já estava saneada quando foi adquirida, diz o grupo comandado por André Esteves Acompra do PanAmericano pelo BTG Pactual, anunciada na noite de segunda-feira, ainda está cercada de mistérios. O BTG Pactual, por meio de sua assessoria de imprensa, garantiu que não assumiu nenhuma dívida do grupo Silvio Santos e que o montante de R$ 450 milhões será pago diretamente à holding do ex-controlador, sem qualquer participação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é o grande credor do grupo.

¿O BTG Pactual adquiriu um banco já saneado¿, garantiu a assessoria de imprensa da instituição que tem à frente o banqueiro carioca André Esteves. Procurado, o Fundo Garantidor de Crédito não se manifestou, assim como a Caixa Econômica Federal, que continua com a mesma participação no PanAmericano, inclusive em relação à gestão.

¿O BTG Pactual fechou o negócio por causa da Caixa, que, aliás, concordou e acompanhou toda a negociação. O Pactual não tem rede e, para a instituição, é vital essa parceria¿, observou uma fonte com acesso à negociação. O anúncio da compra provocou, de imediato, uma supervalorização das ações do PanAmericano. Ontem, primeiro dia útil após a notícia da aquisição, os papéis dispararam, subindo mais de 22,54%, fechando cotados a R$ 5,22.

O que não está claro é a quitação da dívida com o Fundo Garantidor de Crédito. Foi o próprio Silvio Santos quem declarou que, com a venda do banco, não devia mais nada ao FGC e ainda conservaria as demais empresas do grupo. Para conseguir o dinheiro necessário para evitar a quebra do banco, o apresentador de TV obteve, inicialmente, um empréstimo de R$ 2,5 bilhões com o FGC. Depois, outro R$ 1,5 bilhão foi necessário para fechar a conta.

Quitação Na negociação com o banco PanAmericano, o BTG Pactual pode optar pelo pagamento à vista ¿ R$ 450 milhões ¿ ou em parcelas até 2028. O contrato de compra da totalidade das ações antes controladas pelo grupo Silvio Santos prevê a correção dos R$ 450 milhões por 110% da taxa DI (calculada pela média diária das operações no mercado interfinanceiro) até a data do efetivo pagamento que, a critério do BTG Pactual, pode ser no máximo 31 de julho de 2028. O valor limite desse pagamento é R$ 3,8 bilhões.

Analistas avaliam que o valor acertado para a venda do PanAmericano é o suficiente para a quitação da dívida do grupo Silvio Santos com o FGC, trazida a valor presente. Ninguém se atreve, no momento, em fazer uma estimativa de prejuízo para o fundo. ¿O FGC não raciocina em termos de lucro, mas em termos de não ter despesa¿, observou uma fonte. O Fundo Garantidor de Crédito é uma entidade privada, cujo conselho de administração é composto pelos representantes dos cinco maiores bancos do país.

Ganho de R$ 835 milhões Além de ter se livrado do rombo contábil que pode passar dos R$ 4 bilhões e salvar as demais empresas do grupo, o ex-controlador do PanAmericano embolsou pouco mais de R$ 835,4 milhões com os dividendos recebidos desde a abertura de capital, há pouco mais de três anos, e com a venda de parte das ações para a Caixa, em 2009. No total, o PanAmericano distribuiu R$ 133,3 milhões em lucros aos acionistas.