Título: Governo pode desviar gás para termelétricas, afirma Hubner
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2008, Brasil, p. A5

Leo Pinheiro/Valor Hubner, de Minas e Energia: nivel de reservatórios é "bastante confortável" O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, descartou ontem a possibilidade de racionamento até 2009 e entrou em conflito direto com o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. Apesar de admitir preocupação com a falta de chuvas, Hubner disse que o nível dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste ainda é "bastante confortável". Segundo ele, "se caminharmos para uma situação de emergência", que não existiria por enquanto, "todas as medidas serão tomadas". Isso inclui, conforme informou o ministro, o acionamento de mais usinas térmicas.

Hoje, as represas do Sudeste/Centro-Oeste estão com 44,7% da capacidade máxima. Se não chegarem a 53% no dia 1º de fevereiro, considerado o patamar mínimo de segurança para a operação do sistema elétrico, as demais térmicas deverão ser ligadas, a fim de poupar água dos reservatórios. Isso gera uma incógnita sobre o fornecimento de gás natural. A Petrobras assinou um termo de compromisso, com a Aneel, pelo qual se compromete a abastecer as termelétricas com 2.500 megawatts (MW) médios de gás - o equivalente à geração permanente de energia de uma hidrelétrica do rio Madeira - ao ao longo do primeiro semestre.

Hubner deixou claro ontem que o termo de compromisso não é o limite para o envio do insumo às termelétricas e mais gás pode ser mandado pela Petrobras. Pelo cronograma acertado entre a estatal e a Aneel, esse envio aumentaria progressivamente e atingiria 6.700 MW apenas no fim de 2011. "Se estivermos indo para uma situação que exija mais cuidados em termos de suprimento energético, teremos condições de retirar gás do consumo próprio da Petrobras, fazendo substituição por outros combustíveis, a fim de gerar o máximo de (energia) térmica possível", adiantou o ministro.

Ele acrescentou, inclusive, que o ministério já tem pronto um plano de contingência para o gás natural - sobre o qual evitou dar detalhes. Hubner só comentou que o plano "já existe" e foi discutido com as distribuidoras. Esse plano pode ser acionado por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), com o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Garantiu, porém, que não há risco de racionamento do gás e citou que a Petrobras está prestes a colocar no mercado seis milhões de metros cúbicos provenientes do Espírito Santo. Ontem a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) alertou para a hipótese de falta de gás no Estado, em fevereiro.

Hubner tentou passar, no entanto, uma imagem de controle sobre a situação. Lembrou que 60% da capacidade dos reservatórios costuma encher entre janeiro e abril. O último trimestre de 2007 e a primeira semana de janeiro tiveram um índice de chuvas bem abaixo da média histórica, mas "estamos só começando o período úmido e temos muito por acontecer". O ministro interino, que pode ser substituído a qualquer momento pelo senador Edson Lobão (PMDB-MA), enfatizou que se trata de um cenário energético bem diferente daquele vivido em 2001. "Foi criada uma série de mecanismos para que se repita aquela situação, com a qual o brasileiro ficou bastante traumatizado", disse.

Para o ministro, não há chance de um racionamento em 2008 ou em 2009, "de forma alguma". Ele demonstrou irritação com o diretor-geral da Aneel, que considerou "improvável, mas não impossível", um apagão neste ano.

"Ele colocou uma posição individual, que não reflete o pensamento dos diretores da Aneel", rebateu Hubner, em referência às declarações de Kelman. "Temos espaço para a discussão de todas as divergências", complementou Hubner. Quanto à defesa feita por Kelman de uma campanha para otimizar o uso de energia, com economia por meio de lâmpadas mais eficientes, por exemplo, o ministro afirmou que ainda não é o momento de pensar nesse tipo de medida. "Se não chover de jeito nenhum, no Brasil, falta energia, falta água, falta alimento, falta tudo. Mas ainda temos uma situação confortável nos reservatórios do Sudeste."