Título: Indústria do Rio teme nova crise
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2008, Brasil, p. A5

A difícil acomodação da oferta de gás para consumidores industriais e a frota de GNV no Rio está sendo agravada pela dificuldade que as indústrias estão encontrando junto à Secretaria de Meio Ambiente para converter suas instalações de modo a poderem substituir o gás por óleo combustível, como prevêem os novos contratos flexíveis da Petrobras. O Valor apurou que algumas empresas, incluindo a Bayer e a Basf, já foram informadas de que podem ter a licença ambiental cassada por não terem permissão para usar o óleo combustível, que é mais poluente. Uma nova licença demoraria cerca de seis meses.

A medida afeta planos da Ceg e Ceg Rio que em meio a uma queda-de-braço com a Petrobras e na iminência de gerar energia térmica tentam converter contratos de venda de 700 mil metros cúbicos de gás para a modalidade flexível.

Atualmente, o Rio consome 7,5 milhões de m3/dia de gás. O consumo industrial é de 3,8 milhões de m3/dia (cerca de 51% do total), dos quais 71% são comprados por grandes clientes como a CSN, Gerdau, Rio Polímeros, Guardian e Votorantim, só para citar alguns. Outros 3 milhões de m3 ficam com a frota movida a GNV. Mas esse volume, se cortado, garantiria apenas a geração de 600 MW de energia.

Como o cobertor é curto, sobram críticas veladas de todos os interessados uns contra os outros. Há quem critique a redução do IPVA para carros a gás no Rio, e o não-acionamento da térmica de Santa Cruz, que pertence a Furnas e é bicombustível. A própria Firjan recomenda a rápida conclusão do gasoduto Vitória-Cabiúnas e do terminal de regaseificação de Pecém, no Ceará, que vai receber GNL. E os defensores do programa estadual de GNV questionam o corte do fornecimento apenas para os consumidores do Rio, sem que a conta seja distribuída entre a frota de outros Estados.

O Rio abriga quatro gigantescas termelétricas (TermoRio, Norte Fluminense, Leonel Brizola e Barbosa Lima Sobrinho). Juntas elas têm capacidade de gerar 3.078 MW. Mas se forem acionadas não há gás contratado em volume suficiente para atender a todos. O problema veio novamente à tona ontem, quando a Firjan divulgou nota apontando sua preocupação com a possibilidade de nova crise, caso seja necessário acionar essas térmicas para compensar queda dos reservatórios das hidrelétricas.

O temor é que uma crise que leve ao país a precisar de mais energia térmica em fevereiro traga prejuízos milionários à economia do Rio. Pelos cálculos da Firjan, cada dia de corte no suprimento de gás para a indústria representa prejuízo diário de R$ 19,6 milhões, considerando uma redução de 17% do suprimento para o Estado. Ela se refletiria em perda de 4,5% do PIB, o equivalente a R$ 5 bilhões.

Dos 7,5 milhões de m3 de gás por dia que o Rio consome, 2 milhões estão acima do contrato com a Petrobras. Mas liminar obtida pelo Estado impede a estatal de cortar o fornecimento. Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, diz que objetivo é evitar nova crise. "Queremos evitar a repetição dos problemas de outubro. É preciso atenção porque o regime de chuvas está pior que o normal."