Título: Aporte em geração de energia limpa aproxima Estado da auto-suficiência
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Especial, p. A20

O Estado onde o sol se põe às 5 horas da tarde e os ventos não param nunca de soprar está mais perto de alcançar sua auto-suficiência energética. A meta do Rio Grande do Norte é zerar seu balanço energético até 2010. Em abril, entra em operação a termoelétrica Termoaçu, em Alto do Rodrigues, que produzirá 310 MW - podendo chegar a 500 MW em 15 anos.

A construção começou em 2002, mas ficou parada entre 2003 e 2005. À época, a Petrobras detinha 20% de participação e o restante pertencia ao grupo Neoenergia (ex-Guaraniana) e a outros sócios. Para agilizar a obra, comprou a participação do grupo, passando a deter 80% de participação no projeto. O investimento total na usina é estimado em R$ 1,2 bilhão.

Quando entrar em operação, a Termoaçu vai consumir 2,15 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. A produção de gás no Estado hoje é de 3,2 milhões de m3/dia. "O vapor gerado pela usina será injetado nos campos de petróleo, contribuindo para aumentar a extração de petróleo e gás", afirma Tibúrcio da Silva Filho, secretário extraordinário de energia do Rio Grande do Norte.

O Estado é hoje um dos maiores produtores de gás natural no país. O consumo em terras potiguares gira em torno de 400 mil m3 por dia e o restante é distribuído para Ceará, Paraíba e Pernambuco. Fernando Lima, gerente-geral de exploração e produção no Rio Grande do Norte e Ceará da Petrobras, explica que a injeção de vapor da termelétrica nos poços da Petrobras permitirá à estatal incrementar a sua extração de petróleo no Estado de atuais 82 mil barris/dia para até 115 mil barris/dia em 2011. A injeção de gás nos poços, além de empurrar o óleo, o aquece e o torna menos viscoso.

Segundo ele, a Petrobras investirá no Estado R$ 3,2 bilhões até 2011. A maior parte dos recursos será usada na perfuração de 407 poços, ante 253 em 2007. "A Petrobras decidiu adotar uma postura agressiva de perfuração em poços maduros (em Campo do Assoro e Ubarana, região oeste do Estado)", afirma. Os investimentos também permitirão elevar a produção de gás natural de 3,2 milhões de m3/dia para 6 milhões até 2011.

De acordo com a Secretaria de Energia, os investimentos totais no setor estão estimados em R$ 6,2 bilhões, com aplicação prevista para até 2010. Boa parte dos recursos será destinada à ampliação da produção de energia eólica. O Estado é favorecido por correntes de vento constantes, com velocidade entre 29 e 36 km por hora, o que permite a produção de energia eólica.

Atualmente, o Rio Grande do Norte mantém em funcionamento dois parques eólicos - Rio do Fogo, do Grupo Iberdrola, com capacidade de geração de 49,3 MW, e Macau, da Petrobras, de 1,8 MW. Há outros dois projetos autorizados, em Guamaré. Alegria 1 e Alegria 2 terão juntos capacidade de 152 MW e consumirão investimento de R$ 600 milhões. Com sua entrada em operação, diz Silva Filho, o Estado alcançará a auto-suficiência energética em 2008. Hoje o Rio Grande do Norte consome 500 MW e compra energia da hidrelétrica de Paulo Afonso.

A implantação dos novos parques eólicos, à cargo do grupo mineiro New Energy Options (Grupo NEO), se inicia neste ano, com conclusão prevista para 2009. Conforme o secretário, outros pedidos de grupos privados somam uma capacidade de 2.700 MW. "Com esses projetos saindo do papel, o Estado poderia exportar energia limpa", afirma. A exigência das empresas, diz, é que o governo federal programe leilões exclusivos para energia eólica. Outro entrave, observa, é que, para participar do Proinfra - programa para financiamento de projetos em infra-estrutura - as empresas precisam utilizar 60% de equipamentos nacionais. "Hoje só uma empresa no país produz equipamentos para parques eólicos e há fila para entrega." (CB)