Título: 'Arranha-céus' e campos de golfe invadem o litoral norte
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Especial, p. A20

Sob o céu aberto da plana Natal despontam os primeiros "arranha-céus", como são chamados pelos moradores locais os condomínios em construção, de 20 a 30 andares. No litoral norte, vastas áreas de mata e dunas já foram cercadas para receber os complexos hoteleiros do espanhol Grupo Sánchez, do norueguês Brazilian Development e do grupo francês Ultra Classic, que juntos investirão o equivalente a US$ 8 bilhões em condomínios de segunda residência para estrangeiros e resorts, elevando o número de leitos no litoral potiguar de atuais 45 mil para 80 mil dentro de dez anos.

O projeto mais antigo é do Grupo Sánchez, iniciado em 2007 e que receberá 300 milhões de euros de aporte na parte de infra-estrutura, afirma João Maria Medeiros, diretor-comercial do grupo no Brasil. "O tsunami que ocorreu na Ásia desviou a rota de turismo dos europeus para a costa brasileira", afirma Medeiros. Segundo ele, a proximidade (são 7 horas de vôo até Lisboa), a existência de uma costa pouco explorada e as vantagens fiscais levaram a empresa a investir no Estado. O complexo hoteleiro do grupo está na região de Pitangui e terá 30 mil novos leitos, entre hotéis e apartamentos de segunda residência - além, é claro, de cinco campos de golfe. "É um esporte muito praticado na Europa e a existência de vários campos de golfe podem colocar Natal no circuito internacional de competições profissionais", diz Medeiros.

Conforme Fernando Fernandes, secretário de Turismo do Estado, os projetos das redes hoteleiras englobam a construção de dez campos de golfe, entre a Praia do Pipa (em Tibau do Sul) e Cabo de São Roque (Maxaranguape). Segundo Fernandes, a cadeia de turismo movimenta por ano US$ 600 milhões, com a vinda de 2,25 milhões de turistas, mas serão necessários novos estímulos para elevar o número de visitantes e preencher as novas vagas nas redes hoteleiras.

Mesmo antes da conclusão das obras, a corrida dos grupos estrangeiros trouxe outro efeito para a população local. Grupos nacionais, como Cyrella, Gafisa, Inpar, Trisul e Rossi também começaram a investir em prédios de luxo para moradores locais. "A disputa por área fez o preço do metro quadrado subir 500% desde 2004, para R$ 4,7 mil", afirma Renato Gomes Netto, presidente do Sindicato da Habitação do Estado do Rio Grande do Norte (Secovi-RN). Apenas neste ano, as construtoras lançam 8 mil unidades residenciais em Natal. (CB)