Título: RN terá R$ 15 bi em investimentos até 2010
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Especial, p. A20

Cibelle Bouças / Valor Vagner Araújo, secretário de planejamento do Rio Grande do Norte, na pista do aeroporto de São Gonçalo: "Vocação logística entra no foco do governo" A população potiguar espera com ansiedade a conclusão da construção do que já apelidaram como o "novo trampolim da vitória". Em 1939, a cidade de Parnamirim, na região metropolitana de Natal, recebeu seu primeiro aeroporto internacional, que funcionou no período da Segunda Grande Guerra como base militar para os aviões do exército americano. O sucesso da operação garantiu o apelido ao aeroporto, cenário da foto histórica dos presidentes Franklin Roosevelt (EUA) e Getúlio Vargas (Brasil) durante a guerra.

Posteriormente, o aeroporto militar de Parnamirim passou a transportar cargas e civis. Hoje, sua capacidade de transporte, de 1,5 milhão de pessoas por ano, já se encontra no limite de utilização. "O Estado tinha uma vocação nata que agora entra no foco do governo: a logística", afirma Vagner de Araújo, secretário do Planejamento e das Finanças do Estado.

A construção do novo aeroporto, no município de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana, faz parte de um conjunto de investimentos dos governos estadual e federal para expandir a economia do Rio Grande do Norte e alavancar o investimento privado. Os aportes já anunciados para aplicação até 2010 somam R$ 15 bilhões, com projetos públicos e privados nas áreas de energia, turismo, agricultura e pesca, mineração, transporte e infra-estrutura.

Os aportes privados - que na área de turismo totalizam R$ 5,7 bilhões até 2010 e US$ 8 bilhões até 2018 - , foram atraídos pela construção do aeroporto e pela instalação da ponte Nilton Navarro, que dá acesso ao litoral norte (onde está boa parte dos projetos em turismo). Os investimentos na área turística serão feitos pelo espanhol Grupo Sánchez, o norueguês Brazilian Development e o francês Ultra Classic. Somados, os projetos de resorts e apart hotéis - a maioria no litoral norte - elevarão o número de leitos para turismo de 30 mil para 80 mil em até 12 anos.

Soma-se à melhora da infra-estrutura a criação de um programa que subsidia o preço do gás natural para as empresas que se instalam no Estado ou que investem na ampliação de fábricas. "Com a política de subsídio, o Estado consegue oferecer gás natural a um preço mais baixo que outras regiões", afirma Marcelo Rosado, secretário do Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte.

Um dos projetos recentes foi anunciado pela Votorantim Cimentos, que fará aporte de R$ 300 milhões na instalação de uma fábrica em Baraúnas para a produção de 1,5 milhão de toneladas de cimento por ano. A Cimento Tupi também vai investir R$ 200 milhões na construção de uma unidade na região de Mossoró, com capacidade para produzir 1,4 milhão de toneladas de cimento ao ano. "Só os dois projetos vão gerar 3 mil postos de trabalho e há um terceiro grupo estudando investir", afirma Rosado.

Na área têxtil, a Hering anunciou na semana passada a expansão de sua fábrica em Parnamirim, que vai aumentar de 6 mil peças por dia para 30 mil e vai gerar 400 postos de trabalho. "Além dos incentivos fiscais, Natal é pólo de produção de tecido cromo e custo operacional baixo, o que motivou a decisão da empresa de centralizar as operações em Natal", afirma Edgard de Oliveira, diretor-industrial da Hering.

O grupo Guararapes, que controla a rede de lojas Riachuelo, também anunciou aporte de R$ 139 milhões na ampliação da fábrica de Natal em 20%, com a criação de 3,5 mil postos de trabalho em 2008. "A construção civil também deve gerar 3 mil postos por conta dos projetos imobiliários em andamento", estima o secretário. Apenas na área industrial, a previsão é de que sejam criadas 10 mil vagas em 2008.

Conforme dados da Junta Comercial do Estado (Jucern), em 2007 o número de empresas em funcionamento no Estado cresceu 9,2%, para 78,5 mil. O comércio teve incremento de 11,9% em 2007, ante média nacional de 9,2%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O saldo de novos postos de trabalho foi de 15 mil, o que representou um incremento de 5,08% em relação a 2006, acima da média do Nordeste, de 4,92%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A expansão dos investimentos anima a população, mas o novo aeroporto segue como o assunto mais recorrente na capital potiguar. A obra foi favorecida pelo que Flávio Cavalcanti de Azevedo, presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiern), considera um "casamento feliz" de intenções. A idéia inicial era separar a aviação militar da civil e desafogar o aeroporto de Parnamirim.

As obras estavam em andamento quando o governo disputou com Pernambuco e Ceará o projeto de construção de uma refinaria da Petrobras, como parte do programa de aceleração do crescimento (PAC). Segundo Azevedo, que acompanhou as negociações, o Estado não teve poder político para disputar com Pernambuco a refinaria, mas negociou como espécie de compensação a criação do aeroporto. "O Nordeste já tem dois grandes portos, que são Pecém (CE) e Suape (PE). O Rio Grande do Norte vai ser a porta de entrada pelo ar", afirma Azevedo.

Cristiane Leal, coordenadora da obra pela Infraero, explica que a primeira parte do asfaltamento da obra - uma camada de 7 cm de espessura de concreto betuminoso usinado a quente (CBQO) - já foi concluída. O próximo passo é o asfaltamento. "A pista de pouso deve ficar pronta até dezembro e a edificação (feita por empresas privadas após licitação) deve ser concluída até abril de 2009", prevê Cristiane.

Neste mês, o BNDES conclui estudo que avaliará a melhor maneira de administrar o aeroporto, se por parceria púbico-privada ou concessão. "O mais certo é que será por concessão", afirma o secretário. Empresas como o grupo Odebrecht, Camargo Corrêa, o espanhol Grupo Ena e o árabe grupo Dubai Aerospace Enterprise (DAE) já demonstraram interesse.

O novo aeroporto será utilizado pela aviação civil e terá capacidade para 5 milhões de passageiros ao ano. Parnamirim funcionará como base da Aeronáutica e transporte de carga. O projeto terá R$ 500 milhões em recursos, dos quais R$ 170 milhões já foram aplicados. Do PAC virão R$ 100 milhões.

Wilma de Faria, governadora do Rio Grande do Norte (PPS), também negociou com o governo federal a concretização da zona de livre comércio (ZPE) na região, para atrair indústrias ao Estado, aproveitando o sistema de drawback - no qual a empresa importa insumos livres de impostos e reexporta o produto final. A ZPE foi aprovada por lei no governo de José Sarney, mas ainda não está regulamentada. "O governo precisa criar condições para atrair novos empreendimentos e alavancar o desenvolvimento no Estado", afirma Wilma.