Título: Bolsa brasileira tem pior retorno
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Economia, p. 13

Bolsa brasileira tem pior retorno

O desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, no primeiro mês de 2011, refletiu as angústias dos analistas em relação às medidas de ajuste fiscal que deverão ser anunciadas pelo governo entre 10 e 12 de fevereiro. Apesar de não faltarem motivos para que os mercados mundiais sofressem em janeiro ¿ como o insípido crescimento dos Estados Unidos, da Zona do Euro e a artificial desvalorização da moeda chinesa ¿, a BM&FBovespa representou o pior retorno para o investidor no período. Despencou 3,94%, contra alta de 2,36% de Frankfurt, valorização 5,28% em Paris e leve baixa de 0,63%, em Londres.

Os setores de consumo, construção civil e bancos puxaram para baixo o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas. ¿Não está claro se o governo reduzirá despesas ou elevará juros¿, ressaltou Alex Agostini, economista-chefe da Consultoria Austin Rating. A alta de 0,5% da taxa básica de juros (Selic), combinada às medidas macroprudenciais (retirada de dinheiro em circulação), disse, retraiu as operações de crédito e afetou diretamente a construção civil e o consumo.

Inflação O Boletim Focus (análise dos especialistas de mercado) já apontou tendência de alta da inflação para 2011 e 2012, apesar dos esforços da equipe econômica, lembrou Márcio Cardoso, sócio-diretor da Título Corretora. ¿Os mercados se acalmaram lá fora, mas a preocupação continua sendo o cenário interno¿, salientou. Cardoso acredita que os setores que perderam atratividade vão se ajustar, caso haja corte nos gastos e entendam que a presidente Dilma tem comprometimento com a estabilidade¿, disse.

Na análise de Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Asset, o fato relevante não é só o motivo pelo qual a Bovespa se descolou das bolsas internacionais em janeiro, mas o foco do derretimento. Da perda de 3,94%, cerca de 3,5% se concentrou na última semana do mês, em consequência do desempenho abaixo do esperado da economia dos EUA e do temor de que os conflitos no Egito contaminassem países vizinhos. ¿Alguns papéis de incorporadoras, alimentos e bebidas caíram mais de 10% neste período¿, argumentou. Ontem, o Ibovespa fechou em alta de 1,91%, nos 67.847 pontos.

Ladeira abaixo

Mercado acionário brasileiro sofreu com as medidas adotadas pelo BC para conter o crédito

Bolsas - Variação em janeiro de 2011 Bovespa - -3,94% Tóquio - -1,03% Londres - -0,63% Xangai - -0,62% Nasdaq (EUA) - 1,78% Hong Kong - 1,79% Nova York (Dow Jones) - 2,72% Frankfurt - 2,36% Paris - 5,28% Milão - 9,31% Madri - 9,60%

Fonte: Austin Rating

Dólar cai 0,6%

Os investidores retomaram o clima de bom humor, com as notícias de melhora na atividade industrial norte-americana e do não crescimento do desemprego na Zona do Euro.

O dólar fechou em queda pelo segundo pregão consecutivo, em baixa de 0,6%, cotado a R$ 1,664, apesar dos dois leilões de compra, no mercado à vista, realizados pelo Banco Central. No ano, a desvalorização é de 0,19%.

No mercado interno, na tentativa de amenizar a valorização do real, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, informou sobre a possibilidade de o Fundo Soberano Brasileiro (FSB) atuar no mercado de câmbio.

¿As autoridades brasileiras tentam, e é justo, impedir que o dólar caia descontroladamente. Mas acho que o preço está se tornando muito alto. A desvalorização da moeda americana é um fenômeno mundial¿, observou um analista que não quis se identificar.

Neste cenário de apetite ao risco, nem mesmo a desaceleração na produção industrial da China e as ameaças de novas medidas de aperto monetário conseguiram conter os ânimos. Da mesma forma, foi bem absorvida a redução da nota soberana do Egito pela Agência Standard & Poor¿s, após a Moody¿s ter tomado a mesma iniciativa.