Título: ONU estima baque de eventual recessão americana
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2008, Internacional, p. A9

O Brasil pode ter seu crescimento reduzido para 2,9% em 2008 se a economia dos Estados Unidos entrar em recessão, estima a Organização das Nações Unidas (ONU). Em seu relatório "World Economic Situation and Prospects 2008", publicado ontem, a entidade aponta "claro e presente" perigo de a economia internacional estar próxima da paralisação.

"A probabilidade de recessão nos EUA é de 50% em nossas projeções", disse Rob Vos, um dos principais autores do relatório.

Esta semana, em Basiléia (Suíça), os principais banqueiros centrais do planeta apontaram incertezas e insistiram que a questão é se os EUA vão ou não entrar em recessão. Henrique Meirelles, do BC brasileiro, disse esperar que na próxima reunião, em 10 de março, o cenário global esteja mais claro.

Nesse ambiente, a ONU preparou dois cenários. Pelo moderado, a economia global desacelera, mas ainda assim terá crescimento robusto de 3,4%, comparado a 3,7% no ano passado. Nesse caso, a economia brasileira expande mais, os 4,5% previstos pelo governo, estimulada pela demanda interna.

Já no cenário pessimista, os EUA entram em recessão no rastro da turbulência financeira e da crise do setor imobiliário. Com isso, o crescimento da economia mundial será cortado pela metade, ficando em 1,6%. A economia brasileira só expande 2,9%. Mas o impacto é maior em emergentes altamente dependentes da economia americana, como o México.

Para a ONU, o cenário pessimista pode ocorrer em 2008. A consequência seria redução adicional de 15% nos preços dos imóveis na maior potência do planeta, afetando a demanda do consumidor e cortando 2% da expansão americana, praticamente paralisando a economia.

Por sua vez, o dólar sofre uma "aterrisagem brutal", com desvalorização suplementar de 20% em relação a um grupo de moedas, somando aos 30% de desvalorização já registrados desde 2002. Essa queda do dólar deprime ainda mais a demanda dos EUA por produtos do resto do mundo. As importações americanas representam 15% do total mundial e 50% vêm de nações em desenvolvimento. O impacto maior seria sobre o Canadá (82% das exportações destinadas aos EUA), a América Latina e Caribe (48%) e a Ásia (17%).

Nas projeções para 2008, a dívida externa americana excede US$ 3 trilhões, cerca de 25% do PIB, alcançando um nível considerado insustentável.

O efeito dominó da recessão americana atinge também a expansão das exportações de China, Europa e Japão, que, por sua vez, reduzem suas importações procedentes de outros países em desenvolvimento.

Para a ONU, o Japão e a Europa Ocidental, já operando próximos do limite de produção, não estão em condições de dar o impulso necessário à economia global.

Em 2007, a expansão global foi robusta. Dos 160 países monitorados pelos economistas da ONU, 102 tiveram expansão econômica acima de 3%. Os países em desenvolvimento acumularam reservas internacionais superior a US$ 4 trilhões, e não podem diversificar mais para evitar derrubada adicional do dólar.

Para a ONU, em 2008, qualquer que seja o cenário, o comércio mundial cairá, depois de expansão de 7% em volume no ano passado.

A América Latina também vai desacelerar, moderadamente para 4,7% ou mais drasticamente para 2,6% na hipótese de recessão americana. A ONU mostra que a expansão regional tem sido puxada pelo desempenho do Brasil, com forte demanda doméstica, investimentos públicos e privados.

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