Título: Desequilíbrio perigoso
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Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Economia, p. 15

Para o diretor-gerente do FMI, descompasso no crescimento e desigualdade de renda podem gerar nova crise mundial

À medida que as tensões aumentam entre países, nós podemos ver um protecionismo crescente - de comércio e de finanças" Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, chamou a atenção ontem para dois desequilíbrios econômicos ¿perigosos¿, que podem dar origem a uma nova crise global. O primeiro é a recuperação num ritmo diferente entre os países, com os emergentes crescendo muito mais rapidamente, perto do superaquecimento, do que as economias desenvolvidas. O segundo são as tensões sociais em nações com desemprego elevado e crescente desigualdade de renda.

Ao longo da próxima década, 400 milhões de jovens entrarão na força de trabalho mundial, desafiando os governos, afirmou Strauss-Kahn. ¿Nós enfrentamos a perspectiva de uma geração perdida de jovens, destinados a sofrer suas vidas inteiras com desemprego e condições sociais piores. Criar empregos precisa ser uma prioridade não só em países avançados, mas também nos mais pobres¿, disse o número um do Fundo.

Guerras Segundo ele, o desemprego e a inflação crescente podem incitar o protecionismo comercial e até gerar guerras entre países. A alta dos preços de alimentos e combustíveis nos últimos meses já afetou as nações mais pobres e é um dos fatores que estão por trás dos protestos contra o governo no Egito e na Tunísia.

¿À medida que as tensões aumentam entre países, nós podemos ver um protecionismo crescente ¿ de comércio e de finanças. E, à medida que as tensões aumentam dentro de países, nós podemos ver uma instabilidade social e política crescente dentro das nações ¿ até guerras¿, disse Strauss-Kahn durante discurso em Cingapura.

Apesar do alto desemprego, as barreiras comerciais ainda não atingiram os níveis temidos por muitos analistas. Alguns países, como a China, buscam manter suas moedas desvalorizadas para ajudar as exportações nacionais. ¿O padrão pré-crise de desequilíbrios globais está surgindo de novo¿, afirmou. O FMI prevê um crescimento de 2,5% nas economias avançadas neste ano e de 6,5% nas emergentes.

Ajuda à Islândia » O Fundo Monetário Internacional abriu negociações com o governo da Islândia para a quinta rodada de financiamento ao país, dentro do pacote de ajuda oferecido após o colapso dos principais bancos islandeses em 2008. No mês passado, o FMI aprovou o empréstimo da quarta parcela do socorro. ¿Uma equipe do FMI está em Reykjavik (capital) entre 31 de janeiro e 7 de fevereiro para reuniões com as autoridades islandesas¿, afirmou o organismo em comunicado. O programa total era de cerca de US$ 10 bilhões, incluindo os recursos desembolsados pela Grã-Bretanha e pela Holanda para refinanciar correntistas locais em uma instituição financeira.

Exportação bate recorde » Sílvio Ribas

O salto nos preços (151%) do minério de ferro garantiu o melhor resultado das exportações brasileiras para o mês de janeiro: US$ 15,21 bilhões. Mesmo com importações também recordes para o período, de US$ 14,79 bilhões, a balança comercial acabou registrando um inesperado superavit de US$ 424 milhões. ¿O saldo reflete basicamente os elevados embarques e cotações de commodities minerais e agrícolas, além da diversificação de mercados¿, explicou o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira. Ele lembrou que a melhora do apetite de compradores tradicionais da Europa e dos Estados Unidos refletiu a recuperação da economia nessas regiões.

Para Teixeira, o superavit de janeiro, o primeiro desde 2009, mas ainda inferior aos US$ 922 milhões de 2008, é animador. No momento em que o governo tenta evitar mais estragos com o real valorizado, o secretário reforçou a aposta numa exportação recorde de US$ 228 bilhões em 2011. Ele reconheceu que produtos básicos, como minérios e alimentos, ainda definem o perfil do país no comércio global, mas que houve importantes progressos no primeiro mês de 2011 ¿em todos segmentos exportadores¿.

O secretário destacou o avanço de máquinas de terraplanagem e de perfuração, cujas exportações cresceram, em janeiro, 118% na quantidade e 159% no valor. A expansão maior dos embarques se deu para África e Oriente Médio. ¿As autopeças e motores de veículos mostraram a posição estratégica que conquistaram, subindo 40% em valores¿, acrescentou.