Título: Companhias de TI rumam para a bolsa
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2008, Empresas, p. B3

A Bolsa de Valores de São Paulo tem tudo para adquirir uma tonalidade mais digital ao longo deste ano. A se basear pelas expectativas, o setor de tecnologia da informação (TI) nunca se mostrou tão empenhado quanto agora em fazer do mercado de capitais o passo definitivo para a sua consolidação. Atualmente, ao menos oito empresas do segmento correm para ajustar suas operações com o propósito de estrear na Bovespa ao longo de 2008. São elas: Alog Data Center, CPM Braxis, Grupo TBA, Locaweb, Politec, Senior Solution, Stefanini e Tivit. Para se ter uma idéia, a despeito de todo o barulho em 2007, apenas uma empresa de tecnologia - a Bematech, especializada em produtos de automação comercial - realizou a sua oferta inicial de ações no ano passado.

Em comum, as candidatas à bolsa sustentam a característica de não terem mais a oferta de ações apenas em seu "radar", como é usual dizer. Todas, na prática, já vêm gastando tempo e dinheiro para atingi-la.

Tome-se como exemplo a Politec, especializada em desenvolvimento e integração de sistemas. Nos últimos dois anos, lá se foram US$ 10 milhões em reestruturação e governança corporativa. No ano passado, a empresa deixou de ser uma companhia Ltda. para de se tornar uma S.A., contratou a Deloitte para auditoria e adquiriu a certificação de tecnologia CMM nível 5, praticamente um passaporte para empresas de software que querem exportar serviços. Mais recentemente, a Politec implantou um pacote de sistema de gestão para controlar de suas operações. "Tudo para chegar preparado na bolsa", comenta Hélio Santos de Oliveira, presidente da empresa. "Agora negociamos contrato com um banco e uma boa banca de advogados para nos orientar."

Mais ou menos adiantada, é essa a situação vivida pelas companhias já citadas. A prioridade atual é dar conta da avalanche de exigências que faz parte de qualquer processo de abertura de capital e, ao mesmo tempo, tocar o dia-a-dia dos negócios. "Eu já não sou mais dona do meu tempo", diz Cristina Boner, presidente do conselho do Grupo TBA, empresa que nos últimos oito meses tratou de contratar auditoria e consultoria financeira, reformular sua estrutura societária e adquirir um sistema de gestão interna. Não foi só a empresa que mudou. Cristina, que passou o último Natal em sua casa, em Brasília, já fez as malas rumo a São Paulo. "Sei que vou ter que trabalhar muito em road show e quero estar mais próxima dos empresários."

As novas candidatas à bolsa poderão trazer ao investidor um novo perfil de negócio que, até agora, é completamente estranho à sua carteira: o de serviços de tecnologia, um dos segmentos de informática que mais tem crescido em todo o mundo. Embora diferentes entre si, todas as companhias mencionadas são, basicamente, prestadoras de algum tipo de serviço de informática, com alguma exceção feita a Senior, que também é dona de um pacote de software. Em um bloco estão empresas como CPM Braxis, Grupo TBA, Politec e Stefanini, especializadas em prestar consultoria, desenvolver e integrar sistemas. Em outro estão as companhias mais ligadas a hospedagem e gestão de sites e operações de empresas. É o caso da Alog, da Locaweb e, de forma menos direta, da Tivit, que tem se aproximado mais de serviços de teleatendimento.

O risco de tanta novidade pode, no entanto, flertar com o ceticismo do investidor, mais acostumado a negociar ativos de fácil liquidez. Soma-se a isso o fato de o setor de TI ser ainda um novato na bolsa, comenta Alex Pardellas, analista da Banif Investments. Até hoje, as empresas do setor que abriram capital são praticamente fabricantes de software - Totvs e Datasul - ou de equipamentos - Positivo Informática, Bematech e Itautec.

Cristina Boner, do Grupo TBA, é cautelosa sobre o assunto. "O mercado ainda não está tão preparado para comprar bens intangíveis", comenta. "As empresas terão de contratar especialistas de marketing para empacotar tecnologia."

Os bons resultados do setor de serviços, porém, podem ajudar a minimizar um eventual receio do investidor. Segundo estudo elaborado pela Associação Brasileira de Software (Abes), mais de US$ 10 bilhões foram gastos com sistemas e serviços relacionados no ano passado e a taxa de crescimento do segmento é de ao menos 12% até 2010. A CPM Braxis, que tem a meta de ampliar em 30% a sua receita com serviços, faturou cerca de R$ 1,1 bilhão no ano passado. A Tivit, que em 2007 comprou a Telefutura e a Softway, ligadas ao setor de teleatendimento, faturou cerca de R$ 700 milhões. Mesmo entre as companhias de porte bem menor - como Alog, Locaweb e Senior, onde o faturamento ainda não atinge a casa mágica dos R$ 100 milhões - o objetivo é fazer fusões e aquisições para engordar as contas antes de ir a mercado.

Sidney Breyer, presidente da Alog, diz que, orgânicamente, sua companhia tem a meta de faturar R$ 85 milhões em 2008. Neste primeiro trimestre, porém, a companhia pode anunciar uma aquisição que eleve seu resultado para R$ 110 milhões. "Ainda não está fechado, mas estamos próximos disso." A Alog, que recentemente contratou um diretor financeiro, já criou seu conselho de administração, é auditada pela BDO Trevisan e acabou de fechar acordo com um banco para ir, ao que tudo indica, para o Novo Mercado. "Estamos praticamente prontos, vamos esperar apenas o melhor momento."

A idéia de adquirir ou se fundir a outra empresa antes de estrear no pregão faz parte dos planos da maior parte dessas companhias de TI. Com exceção da Locaweb e a da Tivit, que não atenderam ao pedido de entrevista alegando estar em "período de silêncio", todas as demais afirmam que estão em fase avançada de negociações que deverão ser concluídas antes de se listarem. "A verdade é que não tem outro caminho para esses executivos", comenta Ivair Rodrigues, analista da IT Data. "Eles sabem muito bem que, se não partirem para a bolsa, serão engolidos por empresas maiores."

Mercado para consolidar é o que não falta. Atualmente há no país 7,8 mil empresas ligadas apenas à produção e prestação de serviços relacionados a software. Entre as que atuam em atividades de desenvolvimento, 94% são de pequeno e médio porte. Isso ajuda a entender a verdadeira varredura que companhias como Totvs e Datasul têm feito no mercado de sistemas de gestão depois que se capitalizaram na bolsa, movimento bem similar aos que as novas candidatas do pregão estão empenhadas em promover.