Título: Brasil transfere produção para a Ásia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2008, Empresas, p. B5

Reis, presidente da Karsten, planeja, depois de ganhar musculatura no mercado nacional, abrir uma unidade fabril no exterior para ganhar competitividade A Teka tentou durante anos lutar contra os chineses, mas diante da força dos asiáticos e do dólar em queda, a tradicional fabricante brasileira de cama, mesa e banho decidiu se juntar a eles.

A Teka está fabricando uma parte de sua produção na China, Índia e Paquistão, países onde o preço FOB (produto já embarcado para exportação) é, em média, 50% menor, podendo em alguns casos chegar a 120%, quando comparado ao Brasil.

Para este ano de 2008, a previsão é que 8% do faturamento da Teka seja proveniente de produtos importados da Ásia. "Nossa meta é aumentar significativamente as importações, enquanto o dólar estiver nesse patamar", disse ao Valor Marcello Stewers, diretor de exportações e relações com investidores da Teka. O executivo participa da Heimtextil, a principal feira do setor de cam, mesa e banho e que abriu as portas ontem em Frankfurt.

A empresa tem fornecedores de toalhas de banho na China e de artigos de cama e mesa no Paquistão. Já os indianos produzem os três tipos de produtos para a Teka, porém são itens mais sofisticados. "Passamos seis meses escolhendo as empresas que iríamos trabalhar. Nossos parceiros têm certificações de qualidade e ISO (normas internacionais de padronização)", diz Stewers. Os principais países compradores dos produtos da Teka feitos na Ásia são o próprio Brasil e a Alemanha. Com a nova logística montada na Ásia, a empresa reinaugurou neste mês seu escritório em Stutgard, que possui ainda um depósito e showroom. A unidade de negócios ficou fechada entre 2003 e 2007. Atualmente, a Teka produz 2 mil toneladas por mês em suas quatro unidades produtivas, localizadas em Santa Catarina e São Paulo. Deste total, 25% são exportados. Em 2006, a o faturamento chegou a R$ 403 milhões.

Não é só a Teka que está aderindo a esse modelo de negócio. Outro exemplo é a Tecelagem São Carlos, que fabrica cerca de 400 toneladas de toalhas por mês e há cerca de dois anos tem um quarto da produção feita na Ásia. "Fazemos toalhas no Paquistão, Índia e Turquia. A diferença de preço varia de 15% a 18%", diz Eduardo Abdelnur, diretor comercial da São Carlos, que também possui escritório em Hamburgo há mais de 15 anos.

Diferentemente de sua concorrente, a São Carlos informa que quase não trabalha com os chineses. Mas, ontem, na Heimtextil o pavilhão mais movimentado, com grande número de visitantes fechando negócios, era o dos asiáticos, com destaque para a China.

O clima no pavilhão asiático é o de um grande mercado. Logo na entrada, uma paquistanesa faz tatuagens nos visitantes. O cheiro de comida se sobressai entre os corredores lotados de pequenos estandes com dezenas de produtos pendurados. Há também outros estandes gigantescos, que se assemelham a uma sofisticada tenda indiana. Há mais de 100 estandes de fabricantes da China. Apenas para comparação, há 23 expositores do Egito, 29 ingleses e apenas seis brasileiros - Teka, Buettner, Buddemeyer, São Carlos, Pictura e Atelier Aline & Junior -; além da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

A Karsten, que neste ano não está participando da Heimtextil, que termina amanhã, por causa da queda das exportações, também tem produção na Ásia. E, um dos planos da empresa catarinense, que desde 2006 é administrada por gestão profissionalizada, é ainda mais ambicioso. A idéia é no futuro ter uma unidade fabril em outro país, cujo custo seja mais acessível. "Primeiro queremos ganhar musculatura no mercado nacional e depois pretendemos abrir algo lá fora para ganharmos competitividade", disse Luciano Eric Reis, presidente da Karsten.