Título: Novos e usados
Autor: Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Opinião, p. 16

luciovaz.df@dabr.com.br O que esperar do novo Congresso? Para começar, é preciso lembrar que não se trata exatamente de um novo parlamento. No Senado, 32 dos 81 senadores são estreantes na Casa. Seria um número até significativo, mas o fato é que a grande maioria dos novatos vem de outros mandatos, seja como deputado, governador ou mesmo presidente da República. A Câmara teve uma renovação de 46%. Mas apenas 12% dos 513 deputados são estreantes.

A composição da Casa também não mudou muito. Há quase uma centena de advogados, dezenas de médicos, professores, engenheiros, empresários, administradores, ruralistas. Mas há escassos operários. Se bem que temos uma novidade nesta legislatura que se inicia: um palhaço assumido. E semianalfabeto. A forma como ele chegou ao parlamento foi um tanto artificial, para arregimentar mais votos e ampliar a bancada do PR. Mas é um brasileiro autêntico. Afinal, os políticos vivem nos fazendo de palhaços.

Lembro de uma análise crua e um tanto triste de um presidente da Câmara sobre a real representatividade do Congresso. Corria o ano de 1992, fim de mandato. ¿Apenas um terço da população brasileira está bem representada aqui. Uma outra terça parte está subrepresentada. O restante não tem representação nenhuma¿, comentou o então presidente Ibsen Pinheiro (PMDB-RS). Ele comentava com desânimo a pressão das corporações sobre o Legislativo. Falava de todos os tipos de interesses corporativos, de empresários a servidores públicos. Outro deputado comentou de outra feita, para justificar por que fazia lobby na Casa: ¿Aqui tem de tudo. Tem bandido, maconheiro, jornalista (não entendi o `jornalista¿), só não tem bobo. Os bobos não estão aqui representados¿.

A oposição diminuiu de cerca de 150 para 110 deputados neste mandato, o que prenuncia um Congresso ainda mais submisso à vontade do Executivo, com suas implacáveis medidas provisórias. O poder de fiscalização fica muito reduzido com essa composição. Alguns otimistas ainda falam em reforma tributária, reforma política. Mas o que faz falta mesmo é uma reforma moral, ética, de costumes. Precisamos de um parlamento sem fisiologismo, sem corporativismo, sem barganhas, sem mordomias. Um parlamento que também saiba dizer não. Ou seria querer demais? Se eles ficarem mais tempo em Brasília já será um avanço.