Título: Risco de recessão paira sobre a campanha americana
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Fonte: Valor Econômico, 11/01/2008, Internacional, p. A7

Em pesquisa feita pelo "Wall Street Journal", economistas americanos vêem um aumento no risco de recessão este ano e também pressões inflacionárias, uma mistura desconfortável que pode ter um papel importante na campanha presidencial de 2008 e complicar a vida do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano).

Na pesquisa mensal, os economistas calcularam o risco de recessão em 42%. Em dezembro, puseram o risco em 38% e, seis meses atrás, 23%.

Na média, os 54 especialistas que participaram da previsão acreditam que a economia vai crescer numa taxa anualizada inferior a 2% no primeiro e segundo trimestres deste ano.

"A economia dos Estados Unidos vai ser em 2008 como um gato num teto de zinco quente que já usou seis de suas sete vidas", diz Stuart G. Hoffman, do PNC Financial Services Group. Em meio a um aumento no desemprego, à alta dos preços do petróleo e a problemas nos mercados de crédito e imóveis, "você se preocupa com o efeito cumulativo que isso tudo provoca na cabeça das pessoas".

Na frente política, a maior parte dos consultados acha que o Partido Democrata elegerá o presidente este ano, apesar de preferirem um republicano. Cerca de 56% desaprovam a maneira como o atual presidente, George W. Bush, lida com a economia, um porcentual bem parecido com os 59% de desaprovação do público em geral numa recente pesquisa "Wall Street Journal"/NBC News.

Três economistas prevêem uma recessão em 2008. O que fez soar o alarme foi um salto da taxa de desemprego americano do mês passado, para 5%.

"Historicamente, isso sempre é associado com recessão, geralmente começando logo e quase sempre dentro de três meses", comentou a Goldman Sachs numa nota de análise.

Os economistas pesquisados prevêem uma taxa de desemprego de 5,1% em junho e 5,2% em dezembro; ambas as previsões superam anteriores.

Eles também esperam que a economia gere 74 mil novas vagas por mês nos próximos 12 meses, o mais baixo nível desde que a questão foi incluída na pesquisa, em 2004.

Pressões inflacionárias devem crescer este ano. A previsão média para o índice de preços ao consumidor foi de 2,7% para junho. Na pesquisa passada, era de 2,5%. Isso deve dificultar o trabalho do Federal Reserve.

Embora os economistas prevejam que o índice inflacionário preferido pelo Fed - o índice de despesas de consumo pessoal, que exclui alimentos, energia e combustíveis - subirá só 2% em 2008, dentro das previsões do banco central e na parte mais alta da faixa que se considera aceitável, a alta do petróleo deve conduzir a inflação pelo menos no curto prazo.

Embora o Fed vá se preocupar com preços em alta, economistas ainda esperam que o banco central corte os juros pelo menos mais meio ponto porcentual no primeiro semestre. De fato, ontem o presidente do Fed, Ben Bernanke, fez um discurso em que abriu a porta para cortes de juros "substanciais" ao dizer que "as perspectivas para a atividade real em 2008 pioraram". Mas Bernanke disse que não espera uma recessão.

A continuidade das incertezas e a resposta do Fed a elas até agora parecem ter tirado um pouco do brilho de Bernanke. Quando solicitados a dar uma nota para o presidente do Fed, a média dos economistas foi 80 (o máximo era 100), a menor marca de sua gestão.

"Se ele fosse um patinador olímpico, sua nota técnica seria perto de 9 ou 9,5, porque tivemos muito estímulo em política monetária nos últimos meses. Sua nota artística, ou a execução desses movimentos, contudo, está perto de 3,5 ou 4, o que o poderia tirar da faixa para medalha. Não há performance sem paixão e convicção", disse Diane Swonk, da Mesirow Financial.

Com as chances de uma recessão em alta, a economia está ultrapassando o Iraque como principal preocupação dos eleitores. O Estado de Michigan, onde o Partido Republicano terá sua próxima primária, foi bastante afetado com execuções hipotecárias e perda de empregos industriais.

Quando questionados sobre quem deve vencer a eleição presidencial em 2008, 63% dos economistas na pesquisa escolheram alguém do Partido Democrata - com suas escolhas divididas entre os senadores Barack Obama, 33% do total, e Hillary Clinton, 30%. (A pesquisa foi feita antes da vitória de Clinton nas prévias do partido em New Hampshire.)

Entre os republicanos, o senador John McCain, do Arizona, foi a escolha de 30% dos economistas e o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani e o ex-governador de Arkansas Mike Huckabee ficaram com 3% cada.

Contudo, quando indagados sobre suas preferências individuais, os economistas favoreceram republicanos. McCain ficou na frente com 39% dos votos. Obama foi o democrata mais votado, com 14%.

"As pessoas querem mudança", disse Susan Sterne, da Economic Analysis.