Título: Caro em 2007, frete da soja subirá mais
Autor: Cruz , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2007, Agronegócios, p. B10

As perspectivas de safra robusta de soja em um momento de avanço do preço no mercado internacional comporiam o cenário ideal para os produtores do grão. O custo do frete, entretanto, dá sinais de aumento mais vigoroso neste ano, o que pode macular, associado ao câmbio, os resultados de um ciclo que se mostra promissor.

No pico da safra passada, os embarques feitos em Sorriso (MT) com destino ao porto de Paranaguá, uma distância de 2.179 quilômetros, chegaram a custar entre R$ 180 e R$ 200 por tonelada. Neste ano, alguns dos contratos de frete a partir da mesma origem, uma das mais que mais envia soja para Paranaguá do Estado que mais produz soja no país, têm sido fechados por R$ 220 ou até R$ 230 por tonelada. E tendem a subir para quem ainda não contratou o transporte.

Em ano de safra forte, repete-se o script: a demanda por frete sobe, o que puxa os preços para cima. No ano passado, o preço do frete entre Sorriso e Paranaguá subiu 7% na comparação com 2006, segundo o Sistema de Informações de Fretes (Sifreca), da Esalq/USP. "Para este ano, o aumento vai ser daí para mais", diz Seneri Paludo, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea).

Toda a cadeia de custos da soja, exceto a do transporte até o porto, tem preços com base em dólar. Esse fator "mascara", na visão dos analistas o grande aumento do preço do frete. Com o fortalecimento do real, o preço aproxima-se de US$ 120 por tonelada. Na média apurada em 2007, os contratos nessas mesmas regiões, mais ao norte de Mato Grosso, foram fechados por pouco mais de US$ 80.

A depreciação das rodovias, principal via de escoamento dos grãos, e o aumento do petróleo são os fatores recorrentes nesse novo movimento de alta do custo do frete. "A renovação da frota não acompanha o aumento da produção e as estradas perdem qualidade ano a ano", diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora. "Olhamos para a frente e não vemos nenhum sinal de solução do problema. A não ser que ocorra uma quebra de safra, o preço do frete vai continuar a subir".

Neste ano, outros fatores devem pesar nessa conta. A entrada em vigor do programa de mistura obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel é um deles. Segundo as perspectivas iniciais do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), o preço do diesel nos postos tende a aumentar até R$ 0,02 por litro.

Outro componente extra nos custos surgiu em dezembro, quando foi publicada a resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que trata da aferição de peso de veículos. O órgão permite que os caminhões trafeguem com um peso até 5% superior a um limite que, no caso dos caminhões bi-trem, com duas carretas, utilizados no embarque de soja, é de 37 toneladas (de carga). Não é mais permitido, entretanto, discriminar esses 5% adicionais, que elevam a capacidade para 39,850 mil toneladas na nota fiscal.

Na prática, a mudança, que parece sutil, reduz a capacidade de cada uma dessas carretas em quase 3 toneladas, ou pouco menos de 10%, afirma o diretor-executivo da Associação dos Transportes de Carga do Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes. "Vai faltar mais caminhão do que já falta em toda safra", diz.

O setor também aguarda com apreensão o desdobramento da decisão da Justiça de limitar a carga horária dos motoristas a 44 horas semanais, ou oito horas diárias, como prevê a Constituição. A decisão liminar foi dada pelo juiz Ângelo Henrique Peres Cestari, da 1ª Vara do Trabalho de Rondonópolis (MT), em dezembro. A Confederação Nacional do Transportes (CNT) entraria com um mandado de segurança ainda nesta semana. "Se a liminar não for derrubada, uma viagem a Paranaguá, que pode ser feita em um dia, pode demorar três", diz Mendes.

O atraso no plantio da soja deve encurtar o período de colheita, o que também pesa na composição do custo do frete, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira. "Em ano de preço bom, quando achamos que vamos ganhar algum dinheiro e pagar dívidas antigas, o frete sobe desse jeito", diz ele. "Se a soja sobe, tudo sobe".