Título: Economia real resiste à crise externa
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Finanças, p. C1

A crise internacional começa a prejudicar alguns dos fluxos financeiros do balanço de pagamentos, como os investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores, mas não atingiu até agora os movimentos de capitais ligados à economia real, como os investimentos estrangeiros diretos. Ontem, o Banco Central divulgou dados preliminares sobre o balanço de pagamentos de janeiro, cobrindo até o dia 28. O dado mais preocupante é uma saída líquida de US$ 1,8 bilhão de investimentos estrangeiros aplicados em ações e em renda fixa. A informação positiva é que o ingresso de investimentos estrangeiros diretos soma surpreendentes US$ 4 bilhões e que, nas projeções do BC, poderão chegar a US$ 4,5 bilhões até o fim de janeiro.

A saída de US$ 1,8 bilhão da Bolsa e de aplicações em renda fixa é uma baixa importante nas contas externas, considerando que o BC espera que, neste ano, ingressem US$ 26 bilhões. Mas, mesmo assim, no cenário traçado pelo BC, haveria sobra de US$ 25 bilhões no balanço de pagamentos de mercado. Sem o dinheiro na Bolsa, as contas externas empatam. "Os investidores tiraram dinheiro das Bolsas de todo o mundo, o Brasil não foi exceção", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. A projeção de ingresso de US$ 26 bilhões não será revista agora. "Nada impede que o fluxo negativo se reverta mais à frente."

"Ainda é cedo para afirmar que esse número negativo de janeiro vai se consolidar como nova tendência", diz o estrategista sênior para América Latina do Banco WestLB, Roberto Padovani. "Temos ainda que esperar alguns meses para dizer isso." Padovani diz que a saída de recursos da Bolsa reflete o atual clima de incerteza. Mas, afirma, os fortes ingressos de investimentos diretos indicam que a crise não afetou ainda a economia real.