Título: Conhecimento sem fronteiras
Autor: Avila, Alisson
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Especial, p. F1

O mercado de educação executiva é um dos melhores exemplos da multifacetada demanda por qualificação que o Brasil experimenta hoje. As ofertas de MBAs (Master in Business Administration, antes concentradas no eixo Rio-São Paulo, pipocam nas maiores cidades do país, ao lado de cursos de todos os matizes. São muitas as alternativas de aprimoramento profissional e especialização, graças a fatores como o posicionamento das escolas, o desenvolvimento de cursos voltados a áreas emergentes do mundo dos negócios e as expectativas de carreira de cada aluno. A combinação destes elementos impulsiona hoje uma profusão de soluções de ensino. E a maioria das instituições do setor planeja alguma espécie de expansão para 2008.

As formações e treinamentos que se disseminaram de forma acentuada nos últimos cinco anos no país dividem-se majoritariamente entre os MBAs e em um sem-número de cursos corporativos (ou in company), criados sob medida para empresas. Mestrados profissionais, certificates (outro tipo de especialização), LLMs (para o universo do direito), formações internacionais, ensino a distância (especialmente on-line) tratam de abrigar distintos perfis de alunos: do jovem recém-formado, passando pelas reciclagens regulares de executivos de todos os níveis, até o alto escalão.

Algumas instituições como o Ibmec, a Trevisan Escola de Negócios e a Brazilian Business School (BBS) apostam em redes nacionais em sistemas de parcerias, licenciamento ou convênios, quase sempre baseados em taxas mensais, com faturamento em escala. Algumas, como o braço brasileiro da Universidade de Pittsburgh e a Escola de Marketing Industrial (EMI) optam por manter uma única base, muitas vezes com estrutura reduzida, focando o posicionamento de nicho e de dedicação ao topo da hierarquia das organizações. Já algumas "gigantes" como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP), a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) colocam suas fichas na internacionalização, com cooperações para cursos multinacionais.

A movimentação procura atender um mercado ainda mal mensurado que se amplia geometricamente diante de fatores como a descentralização da economia. Fontes do setor estimam a existência de mais de 3.000 MBAs e outros 8.000 cursos de pós-graduação lato sensu pelo Brasil. Especialistas apontam para uma inevitável regulação deste mercado de treinamento executivo e suas denominações para os próximos anos, seja por meio do governo ou dos próprios competidores.

A falta de dados oficiais sobre o segmento como um todo dentro do Ministério da Educação, ao lado da intensa movimentação de bastidores entre investidores da área, ajudam a evidenciar a atratividade da educação executiva como campo de negócios no Brasil. Um exemplo que soma ambos os fatores é a atuação da norte-americana Laureate International Universities no Brasil: presente na América, Europa e Ásia, a rede caminha para ampliar seu controle sobre a paulista Universidade Anhembi-Morumbi, de 51% para 80%, e é a nova detentora da conhecida Business School São Paulo (BSP).

É por conta disso que uma das metas da Associação Nacional de MBAs (Anamba) para 2008 é organizar um efetivo banco de dados do setor. "Precisamos dimensionar o nosso mercado sob uma perspectiva real", conta o conselheiro da entidade e diretor-geral de pós-graduação da ESPM, Carlos Monteiro. O único levantamento extra-oficial da Anamba diz respeito a profissionais brasileiros fazendo MBAs no exterior, e os resultados surpreendem: apenas 1,3 mil pessoas cursaram a modalidade fora do País entre 2000 e 2007.

A grande e histórica referência nacional de educação executiva é a Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, são cerca de 700 turmas de 30 cursos diferentes somente nos MBAs, espalhadas por mais de 80 cidades de todos os Estados brasileiros. No somatório geral, os cursos da FGV transmitiram conhecimento a cerca de 60.000 pessoas ano passado - com destaque para os 25.000 alunos de MBA, 15.000 de cursos in company e 6.700 do projeto de educação on-line.

Enquanto muitas instituições condenam o modelo de capilaridade nacional, argumentando diluição de proposta de ensino e público-alvo, a FGV faz disso justamente a sua meta. "Nossa missão é estimular o desenvolvimento nacional. Longe de nós apenas os cursos maravilhosos para 50 pessoas. Claro que também temos isso, mas nosso objetivo é chegar a todos os rincões do país, formando o futuro administrador e executivo do Brasil", conta Ricardo Spinelli de Carvalho, diretor executivo do FGV Management, parte integrante do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) da fundação responsável pelos programas de educação continuada.

Para isso aconteça com qualidade, a própria entidade, incluindo sua editora, produzem o material didático utilizado em todas as turmas. A mais recente ampliação desta estrutura deu-se graças à introdução dos cursos de pós-graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp) no escopo da FGV Management, que agora começa a replicar os programas da escola coligada em cidades próximas à capital paulista. "O trabalho com conveniados permite à fundação atingir camadas muito mais amplas de executivos", pondera o diretor da Eaesp, Francisco Mazzucca.

O modelo de negócio da FGV Management pelo país, que hoje soma 30 diferentes conveniados entre universidades, organizações e empresários diretos, é em linhas gerais o mais utilizado no mercado de educação executiva. A detentora da marca e da bandeira do ensino recebe um valor fixo por curso para disponibilizar conteúdo programático, professores (que viajam a partir das bases para ministrar as aulas) e método. Já o parceiro trabalha para recuperar o investimento promovendo e vendendo os cursos e fornecendo a infra-estrutura e logística para alunos e professores.

É assim que o Ibmec, hoje um nome autônomo em relação à sigla original (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), atua a partir do Rio de Janeiro em uma operação que espera alcançar 20 das maiores cidades brasileiras nos próximos anos. À parte de suas sedes próprias (também em Belo Horizonte e a partir deste ano em Brasília), o Ibmec começou a difundir seu modelo descentralizado em 2006, com a abertura de uma escola conveniada em Curitiba. Em 2007, ano em que alcançou a marca de 500 alunos fora de SP, foi a vez de Caxias do Sul, Juiz de Fora, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiânia e Belém receberem cursos. Em 2008, é a vez de Maceió (AL), Manaus (AM), Florianópolis (SC) e Vitória (ES), quando a rede espera saltar para 2.000 estudantes.

"Os parceiros que começaram suas atividades ano passado vão crescer e adquirir novos alunos, além de manter a base inicial, provocando esse crescimento acelerado", conta Walter Alba, diretor de programas executivos do Ibmec. À parte do Ibmec São Paulo, que opera de forma independente, a organização vem crescendo em uma média de 25% ao ano e faturou R$ 100 milhões em 2007, o que inclui negócios como a Faculdade IBTA (Campinas, São José dos Campos e São Paulo) e a recentemente adquirida Faculdade Uirapuru (Sorocaba). Seu sistema de pós-graduação vem recebendo uma média de 1,5 mil novos alunos por ano. "Esperamos adquirir mais duas instituições em 2008, uma na região Norte e outra no Sul", antecipa Alba.

A Trevisan Escola de Negócios completa nove anos em 2008 preparando uma expansão em outras praças, segundo o diretor-geral Fernando Augusto Trevisan. O movimento foi iniciado no último exercício, quando uma nova sede própria foi inaugurada no interior de São Paulo (Ribeirão Bonito), de modo a atender uma região que responde pelo segundo maior PIB per capita do Estado - 21 municípios, incluindo pólos econômicos como Araraquara e São Carlos. "Investimos R$ 600 mil vislumbrando a oportunidade de atender aos executivos da região, carentes de cursos de gestão", conta o diretor, que espera implantar cursos presenciais por meio de convênios em Campinas, Santos e São José dos Campos, que devem somar-se às unidades já instaladas em regime de parceria em Cuiabá e Vitória. Outros R$ 300 mil estão destinados para o desenvolvimento de um modelo próprio de ensino a distância. O programa de governança contábil é um dos destaques entre seus 44 cursos de educação executiva - 40 opções a mais do que as oferecidas seis anos atrás. Eles permitiram uma evolução de 20% no faturamento em 2007.

A Brazilian Business School (BBS), a exemplo da Trevisan, do Ibmec e da FGV, também investe na expansão nacional por parcerias. Com uma estrutura menor que suas concorrentes de mercado e tendo a Universidade de Richmond (EUA) como ponte externa, a BBS já atua em Curitiba em MBAs e chega a Fortaleza este ano. Em parceria com uma faculdade local, será oferecido um MBA de empreendedorismo voltado para jovens profissionais. Como ocorre na maioria dos cursos descentralizados, as aulas nas cidades distantes da sede acontecem aos finais de semana, de modo a se adequarem à agenda dos professores vindos usualmente do eixo Rio-São Paulo. No segundo semestre, segundo o diretor de educação corporativa da BBS, Edgar Costa, será a vez de Goiânia receber um posto avançado da escola. "Queremos entrar no mercado do Rio de Janeiro e estamos estudando parceiros", acrescenta.

Eleita como a quarta melhor escola de negócios da América Latina, segundo o Financial Times, a FIA/USP centra seus planos na expansão apenas local, sem pretensões de atravessar as fronteiras paulistas, segundo o professor e diretor educacional Adalberto Fischmann. A instituição registrou 48 cursos e mais de 2,3 mil alunos utilizando suas instalações em 2007, entre MBAs e programas de pós-graduação. Seu faturamento vem dobrando em todos os exercícios desde o ano 2000, segundo o diretor, o que significa mais alunos e necessidade de espaço. "É por isso que a fundação inaugura no próximo mês de março uma terceira unidade de ensino no bairro de Vila Olímpia, na zona sul da capital paulista", informa.