Título: Luta contra a leishmaniose
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Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Saúde, p. 21

Pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde a seis universidades brasileiras pretende verificar eficácia e segurança de três medicamentos usados no país contra a doença Belo Horizonte ¿Um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde vai, pela primeira vez, avaliar a eficácia dos medicamentos usados no tratamento da leishmaniose visceral ¿ também conhecida como calazar ¿ no Brasil. O objetivo é que, a partir do resultado da pesquisa, seja melhorado o tratamento e aumente o índice de cura da doença, que é endêmica em 62 países e na América Latina e tem maior ocorrência no Brasil. Entre 1987 e 2006, foram registrados no país 53,7 mil casos, com uma média de 2.689/ano e 1.650 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

O ¿Estudo multicêntrico de eficácia e segurança dos fármacos recomendados para o tratamento da leishmaniose visceral no Brasil¿ será realizado em nível nacional, com a participação de pesquisadores de seis universidades das regiões Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, entre as quais a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), no norte de Minas Gerais, e as universidades federais do Piauí (UFP), de Mato Grosso do Sul (UFMS), de Tocantins (UFT) e de Sergipe (UFS). Também envolve o Centro de Pesquisa Renê Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediado em Belo Horizonte.

O objetivo do estudo é avaliar a eficácia e a segurança de três medicamentos usados contra o calazar no país: antimoniato de N-metil glucamina, desoxicolato de anfotericina B e anfotericina B lipossomal. Entre outros aspectos, serão observados a taxa de cura e o tempo decorrido até a recuperação clínica e hematológica dos pacientes tratados com os três remédios. ¿Esses medicamentos são usados há muito tempo no tratamento da leishmaniose. Mas, até hoje, não há no país uma pesquisa que comprove como eles funcionam, qual é o melhor dos três e qual a dose recomendada. Finalmente, teremos respostas para essas perguntas¿, afirma o professor Silvio Fernando Guimarães de Carvalho, coordenador da pesquisa. Ele também coordena o Centro de Pesquisa em Doenças Parasitárias e Infecciosas do Hospital Universitário Clemente de Faria, da Unimontes, que é referência no atendimento de portadores do calazar.

O pesquisador salienta que, até agora, o tratamento da doença com os três medicamentos disponíveis no mercado vem sendo feito por meio de ¿consenso¿ entre os profissionais que atuam na área. ¿O tratamento deixará de ser baseado em consenso e terá como referência um estudo científico, que vai permitir que os pacientes sejam tratados com drogas mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Com isso, o índice de cura será elevado, diminuindo os riscos de complicações para quem tiver a doença. Além disso, o tempo do tratamento poderá ser mais curto¿, enfatiza Guimarães de Carvalho.

Ele ressalta que outro objetivo é que a pesquisa venha reduzir a taxa de mortalidade nos casos de leishmaniose visceral, que, atualmente, é da ordem de 10%. O pesquisador lembra ainda que há uma preocupação em relação ao controle do calazar porque a doença, que antes era restrita a algumas áreas, hoje se espalhou por todo o país. Recentemente, foi confirmado um caso da moléstia na Região Sul, onde, até então, não existiam registros da leishmaniose. Orçada em R$ 1 milhão, a pesquisa sobre os medicamentos usados contra a doença visceral é financiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, pela Financiadoraa Nacional de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), contando ainda com o apoio do Ministério da Saúde. O trabalho deverá ser concluído dentro de dois anos.

O estudo sobre a eficácia e segurança dos medicamentos para combater a moléstia vai ser feito a partir do acompanhamento de pacientes nos centros de referência para o tratamento da doença instalados em hospitais públicos de Belo Horizonte, Montes Claros, Campo Grande (MT), Palmas (TO), Teresina (PI) e Aracaju (SE). Em Belo Horizonte, serão acompanhados portadores do calazar atendidos no Hospital João Paulo II, que pertence à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Ainda na capital mineira, o Centro de Estudos René Rachou vai servir como suporte para a realização de análises em laboratórios. Em Montes Claros, a unidade de referência para o acompanhamento dos pacientes será o Hospital Universitário Clemente Faria, que recebe pessoas de todo o norte de Minas, onde a leismaniose é endêmica.

Em todas as unidades envolvidas, serão acompanhados 660 pacientes entre adultos e crianças, divididos em quatro grupos. Haverá a avaliação dos efeitos colaterais e da evolução do tratamento e da cura com o uso do desoxicolato de anfotericina B, da anfotericina B lipossomal e do antimoniato de N-metil glucamina. O estudo será comparativo, observando a eficácia e outros aspectos de cada um dos três medicamentos em relação aos outros remédios usados no tratamento do calazar.