Título: PMDB quer controle da gestão com Edison Lobão no ministério
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Política, p. A6

Ruy Baron / Valor Jucá: "Lobão é um senador experiente e não foi subordinado à Dilma" O PMDB está disposto a rejeitar eventual interferência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff no comando do setor elétrico, após a confirmação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o Ministério de Minas e Energia - aguardada para a próxima quarta-feira, em encontro dele com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem a Guatemala e Cuba.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), considerou "natural" que Dilma tenha mantido, desde o início do governo Lula, "uma relação mais próxima" com os ministros que a sucederam na pasta, o pemedebista Silas Rondeau e o interino Nelson Hubner. Mas afirmou que essa relação será diferente com Lobão - caso ele seja nomeado de fato, em razão da densidade da carreira política do indicado: Lobão está no terceiro mandato como senador e foi governador do Maranhão.

"O Lobão é um senador experiente, com respaldo do maior partido da coalizão, e não foi subordinado à Dilma. Vai ter um tratamento respeitoso, a Dilma vai poder ajudar muito, mas será uma relação de ministro pra ministro", disse, em alusão a Rondeau, que foi presidente da Eletronorte na gestão de Dilma no ministério; e a Hubner, seu chefe de gabinete.

Além da passada relação de chefia com os ministros sucessores, Jucá citou também o fato de Dilma ser especialista na questão elétrica (foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul). Isso justifica, para Jucá, a influência de Dilma na área, mesmo estando na Casa Civil.

O PMDB aguarda a nomeação de Lobão para negociar com o governo o preenchimento das demais vagas no setor. Estão pendentes de indicações definitivas, entre outros cargos, a presidência da Eletrobrás e da Eletronorte e a Diretoria Internacional da Petrobras.

Embora parlamentares do PMDB reivindiquem os principais cargos, Jucá nega. "O governo é de coalizão. Não tem nenhum ministério porteira fechada. Não há uma caça às bruxas nem mudança deliberada de tudo. Alguns lugares ocupados por interinos serão preenchidos. Mas em governo ninguém faz tudo. Temos que saber construir parceria. E o PT está aprendendo isso na prática."

O próprio Jucá tem sua atuação vista com reservas no PT. Para alguns petistas, deveria haver limites ao poder do PMDB, que ocupa a Presidência do Senado e as lideranças do governo no Senado e no Congresso. A esses, Jucá avisa: "Quem quiser a liderança peça ao presidente. Ele muda se quiser. É legítimo o PT querer ampliar seu espaço político. Mas tem que combinar com Lula."

O Ministério de Minas e Energia está desde maio de 2007 sob o comando de Hubner, um técnico petista que assumiu a interinidade após a saída de Silas Rondeau. Ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), Rondeau foi apontado como eventual beneficiário da Operação Navalha. A Polícia Federal levantou suspeita de que Silas teria recebido R$ 100 mil de uma intermediária da empreiteira Gautama.

Se Lobão assumir o ministério, o seu filho e suplente, Edison Lobão Filho (DEM-MA), assumirá a cadeira com dois problemas: acusação de usar laranja para ocultar dívidas e uma representação, que tramita no Senado, apontando suposta irregularidade na concessão de rádio e TV de suas empresas.

A acusação de que Lobão Filho transferiu ações de uma empresa de bebidas para o nome de uma empregada doméstica, usada como laranja, levou o PSDB e o DEM a pedirem explicações. Maria Luiza Thiago de Almeida, ex-sócia da distribuidora de bebidas Bemar, afirmou que em 1999 as ações de Lobão Filho na empresa foram transferidas para a doméstica dela, Maria Lúcia Martins, com o uso de procuração e documentos falsos. A intenção de Lobão Filho seria fugir de dívidas do fisco. O caso foi publicado na revista "Veja".

Lobão Filho disse ter transferido as ações a pessoas indicadas por seu então sócio Marco Antonio Pires Costa, ex-marido de Maria Luiza, e deve apresentar documentos provando a versão. Segundo Maria Luiza, a dívida da Bemar com o fisco é de R$ 7 milhões e com o Banco do Nordeste, de R$ 5 milhões.

Outro caso envolvendo o filho de Lobão está no Senado. Em agosto de 2007, a Procuradoria Geral da República mandou ao Senado cópia de representação feita pelo Sindicato de Trabalhadores em Empresas Jornalísticas "noticiando possíveis irregularidades na concessão pública para exploração de radiodifusão pela Rádio Curimã e TV Difusora", empresas de Lobão Filho. O Ministério Público Federal no Maranhão investiga se a TV foi irregularmente arrendada a uma ONG, o Instituto de Desenvolvimento Tecnológico do Rio.

Via assessoria, Lobão Filho negou qualquer ilegalidade. Informou que somente o setor comercial da emissora foi entregue a terceiros. Já seu pai, o senador Lobão disse que estão sendo noticiadas denúncias contra sua família por sua indicação ao cargo: "Vejo com profunda tristeza. Fica difícil fazer parte da vida pública. É indicado e recebe uma saraivada de tiros." Com agências noticiosas