Título: Planalto dá um mês para investigação se esvaziar
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Politica, p. A5

O governo aposta que a CPI que vai investigar irregularidades no uso de cartões corporativos "esvaziará" em apenas um mês. Na avaliação do Palácio do Planalto, possíveis irregularidades foram cometidas por "alguns" funcionários e eles pagarão por isso, como já aconteceu com Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial. Para a cúpula do governo, as investigações não encerram "risco político".

"Vamos investigar tudo. É muito bom. Não temos com o que nos preocupar porque foi o governo quem criou o Portal da Transparência (onde estão registradas informações sobre os gastos com cartões)", teria dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo apurou o Valor, durante reunião ontem com os ministros do núcleo político.

Na reunião, o ministro da Coordenação Política, José Múcio Monteiro, fez uma exposição sobre o clima político no Congresso. Explicou que integrantes da oposição na Câmara e no Senado criticaram a criação de uma CPI Mista. "Está todo mundo atrás de um holofote", comentou um ministro que participou da reunião. Os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do Planejamento, Paulo Bernardo, também fizeram uma avaliação política, mas procuraram tranqüilizar Lula sobre o teor dos dados que serão investigados.

Lula, segundo um assessor, concordou com a criação da CPI, desde que as investigações sobre a rubrica "suprimentos de fundos" alcancem o período desde 1998, portanto, atingindo o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O cartão não é o vilão", sustentou um ministro, referindo-se ao fato de que, no governo Lula, o uso dos cartões, criados pela gestão anterior para facilitar a liberação de verbas daquela rubrica, se intensificou.

Na avaliação do governo, a oposição está fazendo "tempestade num copo d'água" e, como as informações sobre os gastos estão disponíveis na internet, as investigações perderão ímpeto rapidamente. Acredita-se, no Palácio do Planalto, que a CPI pouco prejudicará as votações de interesse do governo nas próximas semanas, embora o presidente Lula esteja preocupado com o envio de novos projetos. "Eles (a oposição) se acostumaram a um governo (Fernando Henrique) que não fazia política. Acuado, apanhava sem fazer nada", opinou um auxiliar de Lula.

Além da reunião que teve com os ministros do núcleo decisório do governo, o presidente se encontrou antes com o ministro José Múcio Monteiro e os líderes do governo no Congresso - do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), da Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) e do Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA). "Vamos para a CPI. O governo não tem o que temer e ela é o melhor caminho para que não pairem dúvidas sobre o Executivo", defendeu um parlamentar próximo de Lula.

Na conversa com os parlamentares, o presidente demonstrou preocupação com o fato de as investigações atrapalharem os trabalhos do Parlamento. Lula destacou a criação de uma comissão na Câmara para estudar um rito de tramitação das medidas provisórias no Congresso, o que tornaria o trabalho legislativo mais ágil.

O presidente reafirmou aos líderes que pretende enviar, em duas semanas, um projeto de reforma tributária ao Parlamento. "Já temos TCU, Ministério Público e Controladoria-Geral da União (CGU) investigando esse assunto. Mas esses órgãos não votam a reforma tributária. Cada um deve cumprir seu papel", defendeu Fontana.