Título: Serra suspende saque com cartão corporativo
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Politica, p. A7

Em meio à polêmica sobre o uso de cartões corporativos em São Paulo, o governador do Estado, José Serra (PSDB), determinou a suspensão dos saques com os cartões de pagamento do governo. Só em 2007, os saques corresponderam a 44,58% dos R$ 108 milhões gastos por meio dos cartões. A medida deve ser efetivada nos próximos dias, segundo anúncio feito ontem pelo governador. Serra atribuiu as denúncias de suposto mau uso de recursos públicos à "indústria de fazer cortina de fumaça do PT".

O governador paulista negou que as medidas tenham sido tomadas por conta de problemas nos saques realizados com os cartões do governo. "Determinei a suspensão porque estava gerando muito burburinho", disse ontem, depois de participar da cerimônia de abertura do ano judiciário, no Tribunal de Justiça de São Paulo. Serra não descartou, entretanto, a possibilidade de haver irregularidades. "No caso de São Paulo não vi nenhuma evidência. Pode ter. São mais de 500 mil compras. É possível que tenha irregularidades", disse. "Nenhum instrumento é imune ao equívoco, desvio de comportamento. Em nenhuma esfera de poder." Segundo o governador, a medida foi tomada para fazer um exame nos saques já realizados.

Para o governador, há equívocos de interpretação na análise da movimentação com os cartões. Segundo ele, os saques referem-se, na maior parte, a transferências bancárias ou ordens de débito para pagamento de despesas diversas.

Ao responder ao questionamento da imprensa, ontem, Serra associou as denúncias de uso do cartão corporativo à briga política do PSDB com o PT. O governador marcou diferença com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o cartão estadual "é muito diferente do federal". "Em primeiro lugar, não há conta secreta. No governo federal tem. É um cartão de débito, não de crédito. É coisa que está no Orçamento, despesa pré-fixada. Quando aparecerem irregularidades claras, óbvias no governo federal, o PT decidiu então utilizar isso como instrumento de cortina de fumaça", atacou.

"No momento em que aparecem lambanças inquestionáveis, o PT, em seu estilo já tradicional, tenta levantar cortina de fumaça. Esses dados estão disponíveis desde 2000 e de repente eles (PT) ficam passando para imprensa coisas normais, como se fossem escandalosas", reclamou.

Os gastos do governo paulista, de R$ 108 milhões em 2007 foram mais altos do que os do governo federal, de R$ 75,6 milhões. No Estado, os saques vão de centavos a milhares de reais, segundo o Sistema de Gerenciamento Orçamentário (Sigeo) do Estado. Só na Secretaria da Saúde, por exemplo, que registra os mais altos valores de uso dos cartões corporativos, os saques vão de R$ 0,20 a mais de R$ 274 mil. Na Secretaria da Educação foram registrados gastos de mais de R$ 16 mil, apesar de o governador ter destacado ontem que a média era de R$ 300. Nos gastos com cartão desta pasta, por exemplo, um almoço na "Cege Cantina" foi detalhados como despesa com "suprimento de informática". Segundo a Secretaria de Educação, o erro é do fornecedor, que não se cadastrou corretamente. Encontra-se também alguns gastos com almoços no valor de R$ 4 mil, na "Cantina da Mama", no interior paulista. De acordo com a secretaria, "são almoços normais, após capacitações de funcionários."

Serra disse que colocará na internet os dados do Sigeo. A falta de transparência nas contas do Estado é uma das principais críticas da oposição. Mesmo nas operações feitas diretamente pelo cartão, não se tem o detalhamento da compra.

O PT afirmou que vai colher assinaturas para um apresentar um pedido de CPI, na Assembléia Legislativa, para investigar o uso de cartões de pagamentos de despesas pelo governo de São Paulo.