Título: Sujeira ao mar
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2011, Ciência, p. 22

O excesso de chuvas e o despejo de esgoto e lixo no oceano tornam várias praias do país impróprias para banho. Dos 125 pontos mais procurados pelos turistas brasileiros, cerca de 40% apresentam problemas

São Paulo ¿ No verão, pelo menos 40% dos turistas brasileiros procuram as praias que os 8 mil quilômetros de litoral oferecem aos banhistas. Mas é bom ter muito cuidado antes de dar um mergulho no mar. Levantamento feito pelas secretarias estaduais de meio ambiente dos 17 estados com praia oceânica revela que 40% dos 125 balneários mais procurados pelos veranistas estão com água imprópria para o banho por causa do alto índice de coliformes fecais.

Geralmente os destinos mais procurados, como o litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, são os que têm maior índice de contaminação. No Rio, das nove praias pesquisadas, só Búzios, Arraial do Cabo e Ilha Grande estão com águas próprias para o banho. Na orla da capital, do Leblon a Copacabana as praias estão com bandeira vermelha, indicando que o índice de poluentes está acima do recomendável. Até a paradisíaca Paraty está classificada com bandeira amarela, o que significa alerta para a sujeira. ¿As praias da capital sempre estiveram impróprias por causa das fortes chuvas e do esgoto que desemboca direto no mar¿, ressalta o agente de turismo Cristiano Santos.

Segundo o diretor do Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento do Ministério do Turismo, Ricardo Moesch, o maior problema são as praias mais povoadas que não têm saneamento básico. Ele conta que o governo federal está tentando implementar um projeto de certificação ambiental que indique as praias limpas e as sujas, o que obrigaria os agentes públicos a manter o mar propício para o banho. A iniciativa, no entanto, conta com forte resistência dos municípios que administram as orlas. ¿As cidades vivem do turismo e isso (a medida) pode prejudicar os negócios¿, analisa a agente de viagens Lorran Derzevick.

No litoral de São Paulo, o banhista deve ficar atento aos riscos de alagamentos e contaminação. Segundo um relatório divulgado na semana passada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a alta média pluviométrica registrada em todo o estado desde o início do verão fez com que 80 dos 156 pontos analisados no estado se tornassem impróprios para banho. Esse índice é recorde nos últimos três anos. Grande parte dos locais prejudicados se encontra no litoral sul, sobretudo na Baixada Santista, além de Iguape e Ilha Comprida. ¿O problema é que o excesso de chuvas aumenta ainda mais a geração de esgoto e de poluição que vai para o mar¿, diz a gerente do Setor de Águas Superficiais da Cetesb, Cláudia Lamparelli.

A 74km de Aracaju, a Praia do Saco virou uma coqueluche entre veranistas que aportam em Sergipe para curtir o verão. Pela primeira vez desde que a Secretaria de Meio Ambiente do estado passou a fazer medição nas águas, a praia ficou com bandeira amarela. Mas o técnico de Turismo da cidade, Cândido Garcia, garante que a contaminação nada tem a ver com a presença de coliformes fecais. ¿Não tem esgoto voltado para o mar. O problema são as fortes chuvas e o excesso de turistas¿, justifica.

Tubarões Em Pernambuco, onde sete das 11 praias aferidas estão impróprias para o banho, os agentes de turismo garantem que o maior problema não é a contaminação, mas a presença de tubarões, que costumam chegar perto da orla nessa época do ano, devido ao excesso de lixo despejado no mar. ¿A praia de Boa Viagem fica imprópria para o banho o ano inteiro por causa da sujeira e dos tubarões¿, atesta a agente de turismo Manuela Domingues.

Já o turista paraense costuma recorrer à Ilha de Mosqueiro, na Grande Belém, para curtir o verão. Neste ano, as 16 praias da vila bucólica estão contaminadas e impróprias para o banho. ¿A população não foi educada para não jogar lixo na praia. Tem gente que faz necessidades fisiológicas enquanto toma banho sem se dar conta do risco que essa prática oferece¿, ressalta o médico Francisco Gomes, da Secretaria de Saúde de Belém.