Título: Escassez faz Chile discutir racionamento
Autor: Souza, Marcos de Moura e; Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Internacional, p. A11

O Chile está discutindo a implantação de um racionamento de energia, num momento em que a demanda elétrica está prestes a ultrapassar a oferta.

O governo afirma que a situação se deve fundamentalmente a três fatores: diminuição do gás natural enviado pela Argentina - o único fornecedor de gás natural para o país; a maior seca em 50 anos; e a alta dos preços dos combustíveis no mercado internacional.

O Chile importa quase todo o combustível que usa e já vinha sofrendo com a falta do gás que compra da Argentina desde que Buenos Aires começou a diminuir o envio do produto nos últimos anos, para combater a sua própria escassez energética.

A oposição conservadora chilena afirma que o maior problema é a falta de planejamento.

Na semana passada, o governo chileno anunciou um pacote de medidas para economizar energia, com a redução da voltagem em 10% e a prorrogação do horário de verão. Com a voltagem menor, o governo prevê reduzir o consumo em 3%; a prorrogação do horário de verão até o final de março pretende economizar mais 1,1% do consumo.

Essas metas entretanto parecem paliativas, se comparadas ao crescimento do consumo no país, que passa dos 7% anuais.

Nos anos 1998 e 1999, o Chile teve de racionar energia elétrica para consumidores residenciais e industriais, mas, desde então, conseguiu evitar uma medida drástica desta natureza.

Para o analista Rodrigo Adanur, da FIT Research, as medidas podem ao menos evitar a instituição de racionamento, contanto que não se produzam resultados negativos advindos de "fatores pouco controláveis", como a falta de chuvas. Atualmente, o nível das represas chilenas está em média 40% abaixo do registrado na mesma época do ano passado.

As iniciativas chilenas para substituir a Argentina como principal fornecedor de gás natural demandam tempo para serem implementadas. A construção de uma usina processamento de gás liquefeito ainda está em curso no norte do país e deve ficar pronta apenas no ano que vem. Com ela, o Chile poderia recorrer a outros produtores, como o México.

As negociações para a compra de gás natural da Bolívia esbarram na questão política: os bolivianos exigem que algum tipo de acesso ao mar seja restabelecido ao país antes de falar em venda de gás. A Bolívia perdeu sua costa no Pacífico para o Chile após uma guerra no final do século XIX.