Título: Em sintonia com Lula, Cabral articula nome de Paes
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Política, p. A8

Um dos principais aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PMDB, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho se afastou do prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM) na sucessão municipal deste ano. O governador, que trabalha para se tornar o parceiro preferencial de Lula no Estado, tenta impor ao PMDB a candidatura do ex-deputado Eduardo Paes à prefeitura da capital, contra pelo menos três outros aliados do governo federal na cidade: o senador Marcelo Crivella (PRB), a ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB) e o nome do PT, posto disputado por três pré-candidatos: os deputados Edson Santos e Alessandro Molon e a ex-governadora Benedita da Silva.

Ao afastar-se do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) e remover indicações políticas de áreas estratégicas do governo, como a Segurança, Cabral aproximou-se do DEM de Cesar Maia e do PSDB para manter a governabilidade na Assembléia Legislativa. No fim do ano passado, surgiu a possibilidade do secretário da Casa Civil, Regis Fichtner, filiar-se ao DEM e tornar-se assim um candidato comum entre Cabral e o prefeito. A possibilidade de um acordo eleitoral chegou a ser anunciada publicamente por Cesar Maia.

Mas a hipótese hoje é descartada pelo governador, segundo comentam dirigentes pemedebistas, em função da posição de destaque do prefeito no cenário oposicionista. O filho do prefeito, o deputado Rodrigo Maia, é o presidente do DEM.

Dentro do Palácio das Laranjeiras, a avaliação é que Cesar Maia desgastou-se ao trocar a sua base de apoio nas eleições: por esta visão, o prefeito buscou alianças com lideranças comunitárias e políticas nas favelas e na periferia do Rio que o afastaram do perfil de ordenador urbano que o caracterizou nas eleições de 1992 e 1996. É comentado o fato de o prefeito ter em seu partido o vereador Naldinho, preso no fim de novembro, acusado de ter mandado matar um policial que seria comandante de milícias na favela do Rio das Pedras. Na visão da cúpula do governo estadual, aí estaria o espaço para Eduardo Paes crescer no processo eleitoral: procurando encarnar o perfil de gestor moderno e distante do clientelismo que teria sido abandonado por Cesar Maia.

O governador tenta abrir caminho no meio governista e em seu próprio partido para Paes, um ex-tucano que destacou-se na CPI dos Correios. Cabral já foi ao presidente acompanhado do ex-deputado e recebeu de Lula uma sinalização favorável em relação a Paes, que enfrenta resistências de lideranças como o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani e o deputado Eduardo Cunha. A postura oposicionista do ex-deputado é relativizada no círculo próximo a Cabral, ele próprio um ex-tucano que permaneceu relativamente distante do governo federal enquanto esteve no Senado entre 2003 e 2006. O que não impediu Lula de dividir o seu apoio no ano retrasado entre o pemedebista e Crivella.

O governador recusou um pedido de Lula para que tentasse uma aproximação com Crivella e rejeitou as tentativas do senador em negociar um apoio. Segundo avaliação corrente dentro do Palácio das Laranjeiras, tanto Crivella quanto Jandira ainda aparecem com destaques nas pesquisas de opinião pública em função de terem sido candidatos a cargos majoritários na eleição passada (o primeiro tentou o governo estadual e a comunista, o Senado).

Crivella é sobrinho do dono da TV Record, Edir Macedo, e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Pessoas próximas ao governador o atacam como uma expressão do "populismo fundamentalista". Mas uma eventual vitória de Crivella no Rio criaria um novo pólo de poder no Estado na esfera dos aliados do governo federal.