Título: Bush vai afagar árabes de olho na oferta de petróleo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Internacional, p. A9

AP O presidente Bush se reuniu ontem com o presidente dos Emirados Árabes Unidos antes de chegar à Arábia Saudita O presidente dos EUA, George W. Bush, chega hoje à Arábia Saudita num momento em que o barril de petróleo ronda os US$ 100, o que cada vez mais pesa sobre a economia americana. Entretanto é improvável que ele se queixe do preço do petróleo quando se reunir-se com o rei saudita, apesar de os preços terem quase dobrado desde a última vez em que os dois reuniram-se, em 2005. Como os americanos não se livraram do "vício em petróleo", é bom tratar bem o seu principal fornecedor.

Quando chegar a Riad, Bush estaria perfeitamente no direito de sugerir aos sauditas, líderes efetivos do cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), como conter os preços do petróleo. A Arábia Saudita, maior exportadora mundial de petróleo, produz cerca de 9 milhões de barris por dia e está vivendo um momento de grande incremento de capacidade visando aliviar o aperto na oferta mundial. "Onde estão aqueles 12,5 milhões de barris que seu ministro do Petróleo vem prometendo eternamente?", diz Thomas Lippman, analista do Middle East Institute.

No dia em que o ex-empresário petrolífero texano caminhou de braços dados com o rei Abdullah, então, príncipe herdeiro, no rancho de Bush no Texas, em abril de 2005, o petróleo custava em torno de US$ 54 o barril, um nível que, admitiam as autoridades sauditas, estava "evidentemente muito elevado". Com os preços hoje próximos de US$ 93 o barril, Bush provavelmente irá concentrar-se no processo de paz entre israelenses e palestinos.

A questão petrolífera será provavelmente deixada para o secretário de Energia dos EUA, Sam Bodman, quando este visitar a Arábia Saudita, ainda neste mês.

É difícil criticar a Arábia Saudita, quando o país está investindo cerca de US$ 50 bilhões para expandir sua capacidade de produção, diz Frank Verrastro, um especialista em energia no Centro para Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS, na sigla em inglês). "São os sauditas que estão gastando o dinheiro", diz Verrastro. "Não há muito como culpá-los."

A Arábia Saudita desempenha um papel vital na frágil cadeia americana de suprimento petrolífero. De janeiro a outubro de 2007 - período mais recente de disponibilidade de dados americanos. - os sauditas despacharam 1,4 milhão de barris por dia para os EUA. O volume foi superado apenas pelo Canadá, e ano após ano os sauditas colocam-se entre os cinco maiores fornecedores aos EUA, ao lado do México, Nigéria e Venezuela.

E embora o campo Cantarell - a jóia da coroa petroleira mexicana - venha registrando um declínio crônico e a produção nigeriana esteja sendo minada por ataques de insurgentes, a Arábia Saudita tem cumprido continuamente seus compromissos exportadores para os EUA, dizem especialistas.

Seria uma atitude "erroneamente embasada e desprovida de bom senso", por parte de Bush, pressionar os sauditas, Em vista de seu papel vital, disse Lippman em evento do Center for National Policy. Os sauditas já estão em dificuldades para encontrar compradores para aproximadamente 1 milhão de barris de petróleo de mais baixa qualidade com maior teor de enxofre, incompatível com a maioria das refinarias, disse Lippman.

Segundo os sauditas, a estatal Aramco está caminhando para atingir uma meta de capacidade de produção petrolífera de 12 milhões de barris por dia (bpd) em 2009, contra os aproximadamente 10,5 milhões bpd atuais.

O petróleo em torno de US$ 100 torna difícil, para Bush, visitar Riad sem levantar a questão, diz Simon Henderson, um analista do setor energético no Instituto de Políticas para o Oriente Próximo, em Washington. Embora os sauditas não determinem o preço do petróleo, autoridades importantes, como o ministro do Petróleo Ali al-Naimi, poderiam "persuadir" os preços a baixar, mediante fazer declarações públicas tranqüilizadoras sobre sua capacidade de, se necessário, incrementar rapidamente a produção, disse Henderson. "Os EUA deveriam incentivá-lo a divulgar esse tipo de afirmações", disse Henderson.