Título: Sudeste perde terreno nas importações
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Especial, p. A14

A forte concentração das importações brasileiras está diminuindo. Entre 2000 e 2007, a participação do Sudeste nas compras externas caiu de 64% para 59%. No mesmo período, Centro-Oeste, Sul e Nordeste ganharam espaço. Dois fenômenos explicam a mudança no perfil das importações: a industrialização de alguns Estados e a maior renda de regiões menos favorecidas. Nas exportações, o cenário é diferente. O Sudeste manteve 56,5% de participação no período, com mudanças apenas no Sul e Centro-Oeste do país.

Embora responda pela menor fatia das importações, o Centro-Oeste mais do que dobrou a participação. A fatia da região nas compras externas subiu de 2% em 2000 para 4,8% em 2007, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As importações dos Estados mais centrais do país subiram 409% no período, somando US$ 5,8 bilhões em 2007, acima da alta de 116% das compras externas totais.

Em Goiás, as compras de peças para veículos automotores, principal item da pauta de importação, mais do que dobrou entre 2006 e 2007 para US$ 639 milhões. As importações goianas dos setores químico e alimentício cresceram, respectivamente, 112% e 123% no último ano. Em abril de 2007, a Hyundai inaugurou uma fábrica em Anápolis, o que estimulou as importações. Outras empresas do setor automotivo também possuem unidades no Estado, caso da fábrica de máquinas agrícolas da John Deere, em Catalão. No setor alimentício, a Perdigão possui indústria em Rio Verde, no Sul de Goiás.

"Goiás é um caso clássico do que está ocorrendo no país. Grande parte do crescimento das importações em outras regiões é resultado da desconcentração industrial", acredita Welber Barral, secretário de Comércio Exterior. "Com o crescimento da economia, essas empresas estão importando mais máquinas e insumos", completa. O Mato Grosso do Sul também ganhou participação. A parcela do Estado nas importações subiu de 0,3%, em 2000, para 1,8% em 2007. Barral explica, no entanto, que boa parte do crescimento é conseqüência das importações de gás da Bolívia, que são contabilizadas no Estado por conta do critério de domicílio fiscal, embora atendam várias regiões do país.

O Sul do país conquistou três pontos de "share" nas importações. Entre 2000 e 2007, seu quinhão nas compras externas cresceu de 17% para 20%. No Rio Grande do Sul, as importações subiram 153% entre 2000 e 2007. Os principais itens da pauta de importação gaúcha são coque e produtos químicos. Apesar de ser sede de pólo petroquímico importante, criado na época do regime militar, o Estado importa todo o petróleo que consome. As importações de comércio por atacado saltaram 70% no Rio Grande do Sul.

Para Adelar Fochezatto, presidente da Federação de Economia e Estatística (FEE) e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), as importações aumentaram por conta do câmbio barato e da especialização da economia do Estado. Ele diz que 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do RS provém do agronegócio e de indústrias correlatas, como máquinas agrícolas ou calçados e móveis (que utilizam matéria-prima agrícola). "Quando o câmbio é desfavorável, a economia gaúcha importa mais", diz.

Santa Catarina também aumentou sua relevância para as importações. A parcela do Estado subiu de 1,7%, em 2000 para 4,1% no ano passado. Apesar do território reduzido, os portos catarinenses aumentaram a eficiência, o que atraiu as tradings, empresas de importação e exportação, explica Barral. Essas companhias costumam declarar o porto como domicílio fiscal do produto.

A fatia do Nordeste nas importações brasileiras subiu de 8,6% para 9,8% nos últimos sete anos. Segundo Élcio Costa, coordenador do mestrado em comércio exterior da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o aquecimento da economia, o aumento da renda e o câmbio barato facilitaram as importações de bens de consumo na região. Além disso, empresas que se mudaram para o Nordeste aproveitam o momento para se modernizar.

A Bahia é o Estado nordestino que detém a maior participação nas importações brasileiras, chegando a 4,5% em 2007, contra 4% em 2000. Os principais produtos da pauta de importação do Estado são produtos químicos e metalurgia, impulsionados pelo pólo petroquímico de Camaçari e pela unidade da Ford. A comparação entre 2007 e 2006, no entanto, mostra que as importações da Bahia não foram tão pujantes. No período, as compras externas de produtos químicos e metalurgia cresceram, respectivamente, apenas 18,5% e 6%. O Maranhão também teve boa performance nas importações. Em sete anos, o Estado aumentou sua participação de 0,9% para 1,95%. Segundo Barral, o Estado foi favorecido pela instalação de mineradoras, que aproveitam o câmbio para comprar máquinas e equipamentos.

As regiões Sudeste e Norte perderam espaço nas importações. A fatia de São Paulo encolheu de 46% para 40% entre 2000 e 2007, mas ainda assim a participação do Estado é muito expressiva. No Norte, as importações do Amazonas passaram de 7% para 5,7% no período, apesar da Zona Franca de Manaus.

Nas exportações, as modificações mais relevantes aconteceram nas regiões Centro-Oeste e Sul. Enquanto o Centro-Oeste dobrou sua participação nas vendas externas de 3% para 6%, a fatia do Sul encolheu de 23,4% para 21,6%. Sérgio Vale, economista da MB Associados, explica que o avanço do Centro-Oeste está ligado ao crescimento do agronegócio, enquanto no Sul do país a valorização do câmbio prejudicou as indústrias intensivas em mão-de-obra.