Título: Acordo deve permitir à Petrobras explorar petróleo e instalar fábrica de lubrificantes
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Especial, p. A12

A maior expectativa da viagem do presidente Lula a Cuba é a extensão dos acordos que serão firmados com a Petrobras. É provável que não sejam anunciados valores de investimentos, mas é certo que os entendimentos avançaram no sentido de a Petrobras explorar petróleo em lotes do Golfo do México já delimitados pelos cubanos. Em contrapartida, a estatal brasileira abriria uma fábrica de lubrificantes em Cuba. Essa condição, imposta pela Petrobras, sempre dificultou a negociação.

O regime cubano abriu discretamente a exploração de petróleo a empresas estrangeiras. Na área já atuam sete companhias globais, especialmente canadenses e espanhóis. Cuba, que já foi dependente do petróleo da antiga União Soviética, hoje responde por mais de 60% da própria demanda. O sonho dos cubanos sempre foi ter a Petrobras como parceira, por sua reconhecida excelência na exploração de águas profundas. Entre outras coisas, o impasse se deu por causa da fábrica de lubrificantes.

Para entrar na exploração das águas profundas do México, a Petrobras impôs a condição de implantar uma fábrica de lubrificantes a ser construída naquele país. Trata-se de uma estratégia de longo prazo: além do mercado cubano, essa fábrica poderia atender não só ao mercado do Caribe, como também, no futuro, entrar no mercado americano, em condições políticas novas de Cuba pós-Fidel Castro. "Se estamos chegando a um acordo é porque essa dificuldade foi superada", diz o ex-embaixador brasileiro em Havana Tilden Santiago, que hoje trabalha para o governo de Minas Gerais.

As negociações entre Petrobras e Cuba foram sigilosas, por razões de mercado. Entre os motivos apontados para as reticências da Petrobras, estariam "reais dificuldades" para se retirar petróleo das águas profundas do Golfo do México. A estatal brasileira foi advertida do problema por empresas espanholas. Outra dificuldade é a PDVSA de Hugo Chávez. Santiago concorda que qualquer acordo que sair entre Brasil e Cuba na área de petróleo terá passado pelo assentimento de Chávez, mas assegura que o sonho dos cubanos é e sempre foi a parceria entre Cuba, Chávez e Lula na exploração das águas do golfo.

"Nesse particular, existe campo fértil para parcerias com a Petrobras e para a conclusão de um acordo-quadro de cooperação", disse o porta-voz Marcelo Baumbach na exposição que fez a jornalistas sobre a viagem a Cuba. "Pretende-se discutir a construção de uma fábrica de lubrificantes em Cuba, bem como a exploração e produção no Golfo do México, e a cooperação em áreas como refino, pesquisa e desenvolvimento e formação de recursos humanos."

Cuba tem duas refinarias de petróleo. Há uma terceira, que estava sendo construída pela União Soviética, mas que foi abandonada após o fim da URSS. É certo, por outro lado, que a Petrobras fará acordos de cooperação técnica e na formação de recursos humanos.

No que se refere à energia, não é só a negociação com a Petrobras que tem passado por dificuldades. Um assunto tem sido evitado: a produção de etanol e biocombustíveis, carro-chefe das viagens de Lula, sobretudo à America Central e África. Os cubanos, assim como Chávez, já condenaram a transformação da cana-de-açúcar de alimento em combustível. Cuba é grande produtora de açúcar. (RC)