Título: Saúde de Fidel pode impedir encontro de presidentes
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Especial, p. A12

A saúde precária de Fidel Castro levou a diplomacia dos dois países a evitar a confirmação do encontro entre o ditador cubano e o presidente brasileiro. A menos que a situação de Fidel seja grave - seu estado de saúde é motivo de especulação da imprensa internacional -, a conversa entre os dois deve ocorrer entre as noites de hoje, quando Lula chega a Havana, e de amanhã, quando volta a Brasília.

Antes de seguir para Havana, o presidente fará uma escala na Guatemala, para participar da posse do novo presidente do país, Álvaro Colón. Os temas sociais são a preocupação comum dos dois presidentes, segundo o Palácio do Planalto. Colón já esteve com Lula por ocasião da posse de Cristina Kirchner na presidência da Argentina.

As relações comerciais do Brasil com a Guatemala são praticamente inexistentes, mas Brasília vê nos guatemaltecos um grande potencial de desenvolvimento no setor de biocombustíveis. Lula foi à Guatemala há pouco mais de um ano, para a reunião do Sistema Integração Centro-Americana (Sica). "O Brasil tem política de reforço crescente das relações com a América Central e Caribe, no contexto da qual, no ano passado, o presidente visitou Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana", destacou o porta-voz do presidente, Marcelo Baumbach.

Apesar dos esforços diplomáticos brasileiros, os presidentes da Colômbia e da Venezuela, Alvaro Uribe e Hugo Chávez, que também estarão presentes à posse de Colón, estão chamando mais a atenção da opinião pública local do que a vinda de Lula.

Em Cuba, além da conversa prevista com Fidel, o presidente Lula agendou encontros com autoridades e personalidades cubanas. Deverá encontrar-se com o vice-presidente Raul Castro, que na ausência de Fidel está no comando do país, e com Ricardo Alarcon de Quesada, presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular.

Desde o ano passado, Lula tenta agendar uma visita oficial a Cuba. A primeira tentativa foi em setembro. Autoridades americanas chegaram a sugerir publicamente que Lula, ao se encontrar com Fidel, cobrasse respeito aos direitos humanos na ilha. Depois Lula pensou em fazer a visita em novembro, quando já se prenunciava uma derrota do governo na votação da emenda que prorrogava a CPMF.

Varias razões pesaram para o adiamento da viagem, inclusive o estado de saúde de Fidel . Além da votação da CPMF, Lula também teve de lidar com o problema de refugiados cubanos que pediram asilo político ao Brasil. Esse foi um tema que em 2007 causou constrangimento nas relações dos dois países: embora tenha inicialmente dado abrigo, o Brasil devolveu dois boxeadores que desertaram durante os Pan-Americanos do Rio.

Mas uma das razões para os adiamentos é certa: as negociações para os acordos e investimentos que Lula deve anunciar em Cuba ainda não estavam maduras. Lula quer que essa visita tenha os resultados que sua eleição gerou em Cuba e no próprio PT. (RC)