Título: Competição forte tira Gol de duas rotas sul-americanas
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Empresas, p. B2

Pressionada pela forte concorrência com a chilena Lan e a brasileira TAM dentro da América do Sul, a Gol anunciou ontem que vai cancelar os vôos diretos que ligam São Paulo e Santiago e São Paulo e Lima. A Varig, subsidiária da companhia, manterá seus vôos na primeira rota e poderá ter operações no mercado peruano.

A justificativa da Gol para os cancelamentos é a de que o público corporativo prefere serviços tradicionais em vôos que duram quatro horas ou mais, caso das duas ligações descartadas. Por ser uma companhia aérea de baixo custo e serviços reduzidos, a Gol informou num comunicado que optou por reformular "operações de média distância na América do Sul". Dentre os serviços que ela não oferece está, por exemplo, a classe executiva, um produto que é oferecido pela Varig e pelas rivais Lan e TAM nas rotas sul-americanas mais longas.

No mercado, comenta-se que a Gol estaria tendo prejuízos nas rotas canceladas, mas a empresa não confirma e afasta outros problemas operacionais. "Os cancelamentos não têm ligação com taxas de ocupação, elas estão até bastante altas", afirma Tarcisio Gargioni, vice-presidente de marketing e serviços, sem fornecer detalhes.

No dia 30 de janeiro, a malha internacional da Varig também foi alvo de cortes: foram suspensos os vôos para Paris, Roma e Londres.

No ano de 2007, a Gol registrou ocupação de 60% na sua malha internacional. Esta também inclui vôos para Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina. Já a Varig fechou o ano com 53% de aproveitamento em seus vôos ao exterior. No último trimestre de 2007, a taxa necessária para cobrir os custos operacionais (break-even) era de 59,8%, mas o número não é um parâmetro tão preciso pois corresponde a uma média das operações internacionais e domésticas das duas empresas.

A Gol vai continuar oferecendo ligações do Brasil para o Chile e o Peru em vôos com escalas e não mais diretos. A Varig, por sua vez, já realiza um vôo direto entre São Paulo e Santiago por dia. "O grupo estuda a possibilidade de operar a linha direta de São Paulo a Lima, no Peru, também pela Varig", disse Gargioni. O executivo acredita que os cancelamentos da Gol não beneficiam diretamente a Varig. "Os passageiros vão ser divididos entre todos as empresas."

Com a decisão de ontem, a Gol reiterou sua estratégia de segmentação de marcas e produtos. "Faz sentido que a Varig assuma as operações mais longas, porque ela oferece um nível mais alto de serviços e pode cobrar mais por isso", afirma o analista chileno Felipe Mercado, do Santander Investment. Ele lembra que a Lan fez a mesma separação de produtos no ano passado, porém com uma mesma marca. A companhia chilena adotou o modelo de baixo custo nos mercados domésticos do Chile e do Peru e este ano deve implementá-lo em todos os seus vôos da América do Sul com menos de quatro horas.

A Lan oferece cinco vôos diários entre São Paulo e Santiago e mais quatro a partir do Rio de Janeiro. A empresa também tem um vôo por dia para Lima, operado em code-share com a TAM. Esta tem um vôo próprio diário para Santiago.

Num dia em que o Ibovespa fechou com alta de 2,65%, as ações da Gol subiram 5,86% e as da TAM, 4,36%. Para Caio Dias, do Santander no Brasil, os investidores estrangeiros estão voltando a comprar papéis brasileiros e têm buscado as "pechinchas" do mercado.