Título: Geração passa a ser prioridade na Celesc
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Empresas, p. B7

Depois de quase vender sua área de geração, a Celesc, Centrais Elétricas de Santa Catarina, está decidida a realizar parcerias e investimentos na ampliação da oferta de energia, entrando em projetos de geração renovável. Para este ano, o conselho de administração aprovou R$ 378 milhões para investimento total da companhia, sendo R$ 38,28 milhões para geração. A área, até então não-prioritária para a empresa, somente recebeu investimentos de manutenção, um volume que ao longo dos últimos quatro anos não superou a casa dos R$ 500 mil anuais.

O presidente da empresa, Eduardo Pinho Moreira, reconhece que a empresa deixou, nos últimos anos, a geração como secundária, mas diz que agora vê a área como um bom negócio, pela própria rentabilidade - os preços estão mais altos - e pelas perspectivas futuras, já que o país tem necessidade de aumento da oferta de energia. "Vamos aumentar a capacidade das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) que já possuímos e vamos fazer uma chamada pública para sermos parceiros em projetos da iniciativa privada em áreas como geração de energia eólica e biomassa", diz o executivo.

Segundo Moreira, os recursos mais fartos para geração chegam ao mesmo tempo em que é finalizada a estruturação da área dentro da companhia. "Há empregados da distribuição sendo transferidos para a geração e ela já conta com uma área física própria", afirma ele, citando ainda que a Celesc em 2007, a partir de uma mudança na legislação, também passou a vender energia das PCHs para consumidores de grande porte, depois de alterado o regime das pequenas centrais de concessão de serviço público para regime de produção independente.

A estratégia de 2008 para a geração é bem diferente dos planos que o governo do Estado, acionista majoritário, tinha para a companhia há dois anos, quando chegou a enviar para a Assembléia Legislativa do Estado projeto que previa a venda da divisão de geração, e que foi aprovado pelos deputados estaduais. Na época, Moreira era governador - substituía Luiz Henrique da Silveira, que renunciou para disputar a reeleição - e a empresa discutia a separação dos seus negócios (desverticalização), com planos de vender as participações que não faziam parte do seu negócio principal, que é a distribuição de energia.

Atualmente, a área de geração da Celesc é pequena. A empresa possui 12 Pequenas Centrais Hidrelétricas, espalhadas por Santa Catarina, cuja potência em conjunto soma 82 MW. O plano para 2008 envolve repotencializar essas PCHs, com trocas para geradores de maior porte, chegando à geração de 181 MW. Moreira diz que a empresa optou pela repotencialização e não construção de novas PCHs pela facilidade, sobretudo, nas questões ambientais, já que elevar a potência seria uma obra de menor impacto ambiental. Assim a empresa corre menos riscos de não-aprovação de seus projetos pelos órgãos competentes.

Além do aumento da capacidade de geração das PCHs, o plano da empresa para a área de geração é realizar projetos em conjunto com investidores privados, que tenham interesse em ter a Celesc como parceira em projetos, com a estatal entrando como detentora de até 49% do capital. "Não queremos ser majoritários porque isso dificultaria financiamento do BNDES para esses projetos. Isso porque há contingenciamento do setor público".

De acordo com Moreira, já existem empresários em conversações com a empresa. Ele, que esteve nos Estados Unidos há poucos meses, visitando usinas da Contour Global, que geram energia a partir de dejetos de perus, diz que é possível que a Celesc seja parceria do grupo americano em investimentos que ele já informou que pretende realizar em SC usando dejetos de aves.

Os recursos para os investimentos previstos em 2008 virão do próprio caixa da companhia e também do financiamento por meio do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC), operação de captação que a empresa realizou no fim do ano passado, quando conseguiu R$ 200 milhões.

Os R$ 378 milhões representam uma cifra um pouco maior do que os R$ 341 milhões investidos em 2007. Embora a empresa tenha previsto R$ 501 milhões para o ano passado, parte dos investimentos não foi realizada, segundo Moreira, por conta de recursos administrativos e jurídicos que foram colocados contra algumas licitações.