Título: Setor vê maior captação em começo de ano desde 2000
Autor: Monteiro, Luciana; Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2008, Investimentos, p. D2

O aumento de renda da população vem trazendo novos recursos para o setor de fundos de investimento. A captação no acumulado do ano, até dia 7 de fevereiro, soma R$ 19,160 bilhões e é a maior dos últimos oito anos nesse período. Segundo dados do site financeiro Fortuna, o valor que já ingressou no setor neste ano é 14% maior que o verificado no mesmo período do ano passado, de R$ 16,821 bilhões. O número supera também o total que foi direcionado para o setor em 2006, de R$ 18,934 bilhões e que era, até então, o melhor resultado desde 2000.

Tradicionalmente um período de forte captação de recursos, o início deste ano está particularmente interessante, pois, com mais renda, está havendo também um crescimento na formação de poupança no país, avalia Francisco Costa, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Personal Investimentos. "E é natural que a maior parte desses recursos novos que estão chegando ao setor de fundos vá para carteiras mais conservadoras".

Além do crescimento de renda, no fim do ano passado havia uma expectativa em torno da ausência da CPMF neste ano, o que fez com que muitos aplicadores represassem seus investimentos para 2008, diz Sérgio Manoel Correia, consultor da LLA Investimentos. "Muita gente segurou o 13º salário ou bônus recebidos no fim do ano para investir somente agora." Para um aplicador que recebeu a segunda parte do 13º na segunda quinzena de dezembro, valia mais a pena esperar janeiro e não pagar o 0,38% da CPMF do que rentabilizar os juros até o fim do ano, explica.

Mas não foi apenas o setor de fundos de investimento que cresceu neste início de ano. O aumento de renda trouxe impactos também para a caderneta de poupança em janeiro. A caderneta registrou em janeiro um aumento de captação expressivo, com ingresso de R$ 1,185 bilhão, para R$ 214,6 milhões no mesmo período de 2006. O mesmo aconteceu com as aplicações em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), em que as aplicações ficaram na casa dos R$ 13 bilhões ante R$ 1,591 bilhão em janeiro do ano passado.

E com o cenário de forte volatilidade no mercado financeiro, os investidores estão preferindo aplicar recursos nos fundos DI, carteiras conservadoras que acompanham a variação do juro básico da economia, em 11,25% ao ano. Os dados do Fortuna mostram que no ano, até o dia 7, R$ 8,251 bilhões ingressaram nessas carteiras. Somente nos dois primeiros dias úteis de fevereiro, a captação na categoria somou R$ 2,086 bilhões.

O resultado de 2008 é bastante diferente do registrado no ano passado. Para se ter idéia, nesse mesmo período, os DIs haviam captado R$ 1,332 bilhão em 2007. Naquele momento, a preferência dos investidores estava justamente em fundos mais arriscados. Os multimercados atraíam R$ 2,636 bilhões e as carteiras de ações, R$ 2,401 bilhões. Já os multimercados sofrem neste ano diante de retornos menos atrativos que nos anteriores. Os dados do Fortuna revelam resgates dos multimercados de R$ 6,339 bilhões.

Os investidores estão esperando o cenário ficar mais claro, ressabiados com as perdas das aplicações mais agressivas nesse período, diz Correia, da LLA. O desempenho da bolsa brasileira, por exemplo, está muito ligado ao rumo da economia dos EUA, que ainda é incerta. "Se ocorrer um cenário de recessão americana, aumentará a aversão a riscos dos investidores globais e a bolsa brasileira, apesar de ainda atrativa, poderá ter desempenho ruim por mais tempo", comenta ele.

Quem ingressou em multimercados no segundo semestre do ano passado tem menos gordura para queimar e está menos tolerante com os meses de baixo retorno, diz Costa, da Personal. "Mas esse aplicador está resgatando pelas razões erradas, já que está avaliando o gestor num horizonte de curto prazo", afirma. "Seis meses de desempenho, quando se fala em fundo multimercado, é curto prazo", avalia. Em termos de rentabilidade, os multimercados registram ganho médio no ano de 0,67% até o dia 7, para 1,05% do CDI no mesmo período, enquanto os DIs rendem, em média, 1,00%.

Os fundos de renda fixa que podem aplicar em papéis prefixados e que, portanto, podem oscilar mais caso haja uma expectativa de alta dos juros, acumulam ingresso de R$ 3,524 bilhões até o dia 7, ante R$ 1,631 bilhão no ano passado. Outro destaque está nas carteiras curto prazo, que investem em títulos públicos pós-fixados com vencimento em até 360 dias - as mais conservadoras do mercado.. Essas aplicações apresentam no ano captação de R$ 1,319 bilhão, até o dia 7, para um retorno de 1,10%. O valor é mais do que o dobro do apresentado no ano passado no período, de R$ 527 milhões.

Apesar desse aumento no ingresso de recursos em fundos de investimento, o setor ainda representa um percentual pequeno do Produto Interno Bruto (PIB) quando comparado a outros países, lembra Paulo Werneck, diretor da asset da Icatu Hartford. Aqui, o setor representa cerca de 38% do PIB, enquanto na Europa, por exemplo, equivale a 70% do PIB, diz o executivo. No caso dos Estados Unidos e França, segundo ele, o percentual é de 79% e, na Ásia, chega a 114%. "O povo brasileiro ainda não tem muito a cultura de poupança e boa parte do aumento de renda tem ido para o consumo", avalia Werneck. "Mas uma parcela da população, que antes não mantinha investimentos e, portanto, estava fora do setor de fundos começa a chegar." Pelas projeções do executivo, o setor de fundos brasileiro alcançar a marca de representar 50% do PIB é perfeitamente factível.

Os fundos de ações, apesar das perdas, continuam atraindo os investidores. Segundo o Fortuna, a categoria registra ingresso de R$ 640 milhões até o dia 7. Em termos de desempenho, essas carteiras acumulam perdas médias de 9,23% no ano, para uma queda de 7,70% do Ibovespa no período.