Título: Internacionalização impõe desafios
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Empresas, p. B3

Competir no mercado internacional, como quer o governo, será um grande desafio para a empresa que resultar da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar). Do ponto de vista técnico, não será fácil reproduzir fora do país o modelo no qual ambas apóiam sua estratégia comercial por aqui.

O alicerce que sustenta as duas operadoras em suas respectivas áreas de atuação é a convergência entre as plataformas de telefonia fixa e móvel. Jogando com essas redes, tanto a Oi quanto a Brasil Telecom aproveitam-se de sinergias que lhes possibilitam obter custos menores.

O mecanismo que está por trás dessa estratégia é chamado de interconexão. É o nome dado à ligação entre redes de telecomunicações que permite que o usuário de uma operadora comunique-se com alguém atendido por outra empresa.

Conforme as regras do setor, quando o cliente de uma operadora telefona para um assinante de outra empresa, esta paga uma tarifa de interconexão àquela companhia em cuja rede a chamada foi originada. Isso vale para qualquer tipo de ligação. Mas as tarifas mais elevadas são cobradas nas chamadas de telefones fixos para celulares. Como, nesse caso, a empresa móvel é que recebe a interconexão, o mecanismo foi fundamental para financiar a expansão dos telefones móveis pré-pagos.

Nessa lógica, é vantajoso para uma empresa do setor ter uma operação integrada de telefonia fixa e móvel. Quanto maior sua rede, maiores as chances de seus clientes ligarem para outros assinantes dentro dela própria, o que significa menos tarifas de interconexão a pagar.

Com essa estratégia, as operadoras oferecem preços bem menores nas ligações feitas por seus clientes para outros telefones fixos ou móveis mantidos por ela. Também conseguem vender serviços mais integrados. A Oi, por exemplo, vende um cartão pré-pago com créditos que podem ser usados no celular ou no orelhão. A operadora, assim como a Brasil Telecom, lançou um produto em que o mesmo aparelho pode funcionar como telefone fixo ou móvel, com tarifas diferenciadas em cada caso.

Tratam-se de vantagens que uma operadora não-integrada - como a Telefônica, concessionária de São Paulo - não consegue oferecer. A espanhola Telefónica, que controla a empresa de telefonia paulista, é dona de apenas metade da Vivo, e por isso precisa manter as operações fixa e móvel atuando separadamente, sem tirar proveito das sinergias.

É justamente essa dificuldade que a grande operadora brasileira deverá encontrar quando ultrapassar as fronteiras do país. A não ser que faça aquisições de operadoras integradas no exterior - o que lhe custará caro e levará tempo -, a "supertele" precisará de um novo modelo de negócios se quiser ter assinantes em grande escala.

Além disso, já faz algum tempo que Oi e BrT não adotam mais uma política de grandes subsídios à venda de aparelhos de celular a clientes de planos pré-pagos - fórmula fácil para conquistar assinantes em volume (e macular a rentabilidade).

Isso não significa que crescer fora do país seja inviável. As mexicanas Telmex (telefonia fixa) e América Móvil (celular), controladas pelo bilionário Carlos Slim Helú, tiveram sucesso em boa parte da América Latina, embora não atuem de forma totalmente integrada. Os espanhóis da Telefónica também têm presença marcante fora de seu mercado de origem.

Esses grupos, porém, têm escala, o que significa poder de barganhar e negociar a compra de equipamentos e aparelhos de celular a preços menores. A Telefónica fechou 2006 com receita líquida de US$ 66,4 bilhões. O grupo mexicano faturou quase US$ 40 bilhões. Juntas, Oi e BrT teriam obtido receita de US$ 12,7 bilhões no mesmo período. Os números referentes a 2007 ainda não foram divulgados.

Um caminho que poderá ser utilizado para implementar aos planos de internacionalização é atender, fora do Brasil, empresas que já são clientes da Oi e da BrT no país. O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, já manifestou essa possibilidade em algumas ocasiões. O executivo acredita que há potencial para prestar serviços a assinantes empresariais que tenham presença em diversos países da América Latina.

Para isso, a companhia terá como opções, ao menos inicialmente, alugar infra-estrutura de outras operadoras e utilizar sua própria capacidade em satélite.

A Oi tem participação societária na Hispamar, empresa controlada pela Hispasat, que mantém um satélite cobrindo América Latina, sul dos Estados Unidos, parte da Europa e o norte da África. A operadora poderá se valer desse recurso para atender a clientes fora do Brasil.

A BrT, por sua vez, possui infra-estrutura de cabos submarinos que liga o país ao mercado americano. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio)