Título: Para privatizar, Gaudenzi sugere dividir Infraero em subsidiárias
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Brasil, p. A2

Ruy Baron / Valor Sérgio Gaudenzi, presidente da Infraero: em estudo, planos para expandir Viracopos e estender pista de Congonhas A abertura de capital da Infraero poderá vir acompanhada de mudanças na estrutura da estatal. Uma das idéias, lançada pelo presidente da empresa, Sérgio Gaudenzi, é dividi-la em várias subsidiárias regionais, sob o comando de uma nova holding, cujas ações seriam negociadas no mercado, mantendo o governo como sócio majoritário. Gaudenzi sugere a entrada da iniciativa privada em até 49% do capital da Infraero e diz que o modelo atual de administração está esgotado.

O presidente da estatal, às voltas com especulações sobre sua demissão do cargo, vê a possibilidade de replicar na gestora dos aeroportos uma estrutura já adotada no setor elétrico, em que a Eletrobrás comanda subsidiárias responsáveis por regiões - Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul. "Não existe em nenhum país do mundo, com exceção da Índia, uma empresa com 67 aeroportos espalhados por um verdadeiro continente, como é o Brasil", disse Gaudenzi ao Valor.

Na quinta-feira passada, com participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a abertura de capital da Infraero foi discutida em detalhes pela primeira vez, no Planalto. Técnicos do Ministério da Fazenda apresentaram um esboço do rumo a ser seguido com o lançamento de ações, mas ainda não há estimativas de quanto pode ser arrecadado, segundo Gaudenzi. Antes de levar adiante a medida, explicou, é preciso uma série de ajustes patrimoniais, transferindo à Infraero a propriedade de ativos. Toda a área dos aeroportos, incluindo pistas, hangares e terminais de passageiros e de cargas é propriedade da União, pela legislação atual. A Infraero administra esses bens e possui receita própria, vinda das taxas aeroportuárias.

Apesar dos ajustes necessários tomarem tempo, Gaudenzi afirma que a abertura de capital é "indispensável" e que essa percepção está consolidada no governo. "Esse modelo atual está esgotado. A Infraero é uma empresa no nome, mas funciona como autarquia. É preciso injetar o acionista aqui dentro e oxigenar a empresa, trabalhar com mais agilidade e ter uma fiscalização mais pró-ativa."

Gaudenzi tem ressalvas quanto à concessão para o setor privado de aeroportos existentes. Ele lembra que só 10 - "no máximo 15, com algum esforço" - dos 67 administrados pela Infraero são rentáveis. Mas não se opõe a parcerias com empresas, por exemplo, para a construção de um novo aeroporto em São Paulo. Na sexta-feira, o governo incluiu o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, no Plano Nacional de Desestatização. Sua pista está sendo construída com recursos públicos, mas a perspectiva é repassar ao setor privado a construção e a administração dos terminais.

No plano de investimentos da Infraero para 2008, cuja previsão é aplicar R$ 1,646 bilhão (sem contar gastos de custeio), uma das maiores prioridades é o Galeão, no Rio. O pedido de "estadualização" do aeroporto, feito pelo governador Sérgio Cabral, não é visto como solução por Gaudenzi, que promete mudanças. A conclusão do terminal 2, que nunca foi feita, ocorrerá em 2009 e permitirá a concentração de todos os vôos ali. E o terminal 1 será totalmente reformado, em um processo de três etapas, que terminará apenas em 2010. "O caso do terminal 1 é refazer tudo. Está tudo largado, não há sistema que funcione - elétrico, hidráulico, de comunicação. Vamos recuperá-lo", assegura.

Em Guarulhos, a intenção é inaugurar o terceiro terminal de passageiros até o fim de 2010 e construir dois novos pátios de estacionamento para aeronaves. Essas obras, somadas a pequenas intervenções nas pistas de taxiamento, possibilitarão aumentar o número de pousos e decolagens de 45 a 54 por hora em Cumbica.

Para Viracopos, em Campinas, a Infraero acabou de concluir um plano de expansão que prevê até quatro pistas de pouso e novos terminais de passageiros. O aeroporto poderá receber, no futuro, até 80 milhões de passageiros por ano - mais de quatro vezes a capacidade de Guarulhos. No fim do mês, em visita a Campinas, Lula deverá anunciar os planos para Viracopos. Se deslanchado, ele pode tornar-se uma alternativa à construção do terceiro aeroporto de São Paulo, principalmente se for resolvido o acesso viário à cidade.

Para Congonhas, Gaudenzi diz que há estudos em andamento para avaliar a possibilidade de prolongar a extensão das pistas principal (1.940 metros) e auxiliar (1.435 metros), do lado do bairro de Jabaquara. Em princípio, seria um prolongamento em torno de 400 metros, mas os estudos ainda estão em fase inicial e não há estimativas de investimentos ou gastos com desapropriações. Ainda neste ano, a Infraero deverá expandir a área de check-in e promover mudanças no lay-out do aeroporto, dando mais espaço aos passageiros, transferindo algumas lojas e estabelecimentos comerciais.