Título: Anac pode exigir tempo mínimo para escala de vôo
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Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Brasil, p. A2

A duração das escalas de vôos está na mira das autoridades aeronáuticas. Por avaliar que as companhias aéreas muitas vezes subestimam o tempo gasto, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pretende apertar as regras e criar uma duração mínima para toda a logística de embarque e desembarque dos passageiros. Para o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, é inviável planejar escalas que demorem menos do que 45 minutos.

Hoje, as empresas freqüentemente levam em conta, ao planejar e vender seus vôos, paradas inferiores a meia hora, para economizar tempo em solo e otimizar o uso de seus aviões. O problema é que, se esse procedimento for mais demorado, o que é comum, ocorre um efeito-cascata na malha das companhias. Com atrasos crescentes à medida que acumula escalas na rota realizada, a aeronave pode chegar ao destino final algumas horas mais tarde que o previsto.

"Em 30 minutos não se embarca. Isso pode acontecer em um pequeno aeroporto, em que descem e sobem cinco passageiros em cada vôo. Mas em aeroporto grande, em que desce e sobe metade do avião, não dá", diz Gaudenzi. Há imprevistos que podem complicar o cumprimento à risca do planejamento de horário feito pelas empresas. Um deles é a parada longe das pontes de embarque (fingers) que conectam o avião diretamente à área de desembarque. Quando desligam suas turbinas na chamada "área remota", é preciso acionar o transporte por ônibus até o terminal de passageiros - o que, obviamente, demora mais.

Gaudenzi também antecipou que a Anac fechará o cerco à prática das empresas aéreas de acumular "slots de gaveta". Trata-se da estratégia de, mesmo com autorização para fazer diversos vôos de uma determinada rota em horários próximos, cancelar alguns dos vôos mais vazios para concentrar os passageiros em um único avião. Ao transportar o mesmo número de passageiros em uma só aeronave, a companhia reduz custos operacionais, mas cria transtornos e gera cancelamentos desnecessários. A prática é adotada em rotas como a ponte aérea Rio-São Paulo, em que há grande oferta de vôos em horários próximos.

"Cancelamento dá a impressão de que faltou tripulação ou houve problema com a aeronave", afirma Gaudenzi. "Se a companhia tem quatro vôos entre 8h e 8h30, ela espera encher o primeiro. Se não encheu, segura os passageiros. Se acontecer a mesma coisa às 8h10 e às 8h20, só faz o embarque no vôo das 8h30. O que fica na estatística? Três vôos cancelados. Mas é mentira, a Anac está observando. Se não fizer o vôo, perde o direito." (DR)