Título: Rivais da Nokia miram emergentes
Autor: Ewing, Jack
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Empresas, p. B3

Daniel Barry / Blooomberg News Rick Simonson, diretor financeiro da Nokia: "Estamos preparados" Quem ainda duvida de que as pessoas de baixa renda são bons consumidores deveria falar com os executivos da Nokia. A empresa finlandesa deve sua participação de 40% no mercado global de aparelhos em grande parte a moradores de cidades como Calcutá, Lagos e Xangai, muitos dos quais vivem apenas com alguns dólares por dia. Agora, com a Motorola, terceira maior do setor, à beira do abismo, a Nokia tem a chance de ampliar ainda mais a liderança. As rivais, no entanto, estão atentas ao sucesso dos finlandeses e intensificam os esforços para atrair o mesmo tipo de consumidor.

O infortúnio da Motorola traz uma abertura substancial. A empresa enfrenta problemas após passos em falso em países emergentes e o fracasso em desenvolver um novo modelo tão popular quanto o bem-sucedido Razr. A direção da empresa poderia vender as operações de fabricação de telefones celulares. A Motorola é particularmente vulnerável na América Latina, onde junto com a Nokia disputa o mercado cabeça a cabeça, com 26% de participação para cada. "A Motorola está se mantendo bastante bem em seu território doméstico", observa o analista Neil Mawston, da Strategy Analytics. "Mas, se a debilidade se disseminar, há chance para que os rivais arrebatem participação de mercado."

Apesar da posição intimidadora da Nokia - possui 46% do mercado na Ásia e 66% na África, segundo estimativas de Mawston -, os desafiantes sentem que há uma abertura, uma vez que os consumidores mais pobres começam a comprar modelos melhores, com mais funções, como câmeras digitais. A Sony Ericsson, por exemplo, lançou em janeiro dois novos modelos na Índia, incluindo um com alto-falante e rádio. "Se quisermos elevar nossa participação, precisamos atender o mercado [de baixa renda]", diz Howard Lewis, diretor da Sony Ericsson na área de aparelhos básicos.

A Nokia, contudo, provou que pode explorar mercados turbulentos para elevar as vendas e entra na batalha com vantagens excelentes. A empresa teve margem de lucro operacional de 25% com a venda de telefones celulares no quarto trimestre de 2007, a melhor do mercado. É uma das fabricantes mais eficientes do planeta e possui fábricas em quase todos os maiores mercados. No ano passado, investiu mais de US$ 8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Isso a ajudou a oferecer modelos para todos os segmentos, desde aparelhos de primeira linha com serviços de GPS até telefones para o mercado de massa.

Mesmo sem destronar a Nokia, os rivais poderiam reduzir sua liderança. No ano passado, a Samsung, vice-líder mundial, abandonou a estratégia de focar-se nos telefones de primeira linha. Sua participação na Índia, de 6%, mal se compara à de 57% da Nokia, mas é o dobro da que tinha em 2006. A Samsung também almeja os consumidores de classe média na China e América Latina. Nos últimos 13 meses, a companhia vendeu 18 milhões de unidades do modelo E250, com câmera, reprodutor de MP3 e rádio. "Quando os mercados começam a evoluir do segmento básico para o mais moderno, a Nokia normalmente começa a cair", afirma o analista Jari Honko, do eQ Bank, em Helsinque.

A companhia também se depara com o desafio das empresas iniciantes asiáticas que oferecem telefones baratos. Os aparelhos mais baratos da Nokia saem no varejo a US$ 32. Os diretores da empresa admitem estar atentos à concorrência. "Voltou a falar-se que os outros vão agir mais" nos países emergentes, comenta o diretor de finanças da Nokia, Rick Simonson. "Estamos preparados."