Título: Novo Nordisk tenta reconquistar mercado
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Empresas, p. B7

Magdalena Gutierrez / Valor Cláudio Coracini, principal executivo da Novo Nordisk no Brasil: proposta de produzir matéria-prima da insulina humana no país e vender mais ao governo A farmacêutica Novo Nordisk está decidida a fazer uma proposta ao governo federal para poder vender mais insulina, substância usada no tratamento do diabetes. "Somos favoráveis a desenvolver uma parceria público-privada (PPP) com o governo, podendo até produzir os cristais de insulina (matéria-prima usada para fabricação da insulina humana) no país", diz o gerente-geral da Novo Nordisk no Brasil, Cláudio Coracini. "Estamos abertos a conversar."

Como exemplo de parceria a ser negociada com o governo brasileira, Coracini cita o acordo, fechado em 2007, com Cuba, no qual a Novo Nordisk transfere parte do know how de produção ao governo e garante vendas locais. "Podemos oferecer insulina humana ou até análoga ao governo brasileira", afirma Coracini. A contrapartida pedida pela empresa, é vender mais ao governo.

A proposta é uma das tentativas da fabricante dinamarquesa de reconquistar a liderança de vendas de insulina no mercado público, o maior do país, depois de ter perdido as duas últimas licitações do Ministério da Saúde. Trata-se de um negócio de aproximadamente R$ 100 milhões. Em 2007, a americana Eli Lilly bateu, de novo, a proposta da Novo Nordisk ao oferecer R$ 9,18 por frasco de insulina NPH.

Coracini, que fez carreira por duas décadas na americana Eli Lilly e teve uma passagem pela também americana Pfizer antes de assumir a Nordisk em maio passado, afirma que a perda da licitação faz parte dos negócios. "O jogo é limpo", diz. Para ele, a empresa perdeu a licitação para o fornecimento de insulina por causa do câmbio. A Novo importa insulina em euro, a Lilly em dólar. Diante do enfraquecimento da moeda americana em relação à moeda européia, a empresa dinamarquesa, afirma, perdeu.

Mas o executivo argumenta que a empresa poderia contar com alguma "recompensa" por ter realizado investimentos no país. A Novo Nordisk aplicou US$ 200 milhões para erguer uma nova fábrica em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, e aplica outros US$ 50 milhões em obras de expansão. "Empregamos 730 pessoas", diz. É a maior fábrica da empresa fora da Dinamarca.

A unidade da Novo Nordisk no Brasil não produz a insulina mais consumida nos programas oficiais do governo. Ela fabrica as chamadas insulinas análogas, cujo uso tem crescido, cada vez mais, no país. Mais caras, essas insulinas costumam, de um modo geral, aumentar a qualidade de vida do pacientes que sofrem de diabetes. No mercado privado de insulina, a Novo Nordisk lidera, embora a Lilly já tenha sinalizado o interesse de desbancá-la. Em 2007, conforme os dados de vendas unitárias compilados pelo IMS Health, a empresa dinamarquesa teve 52,8% das vendas. A Lilly, 38,6% e a francesa Sanofi-Aventis, 10,5%. A previsão da empresa é crescer pelo menos 10%, com o avanço de insulinas mais modernas.

A Novo Nordisk comprou a Biobrás, uma fabricante ligada ao ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, em 2001. Em 2004, o vice-presidente de operações internacionais para América Latina e Caribe, o brasileiro Sérgio Noschang, se viu envolvido no escândalo da máfia dos Vampiros, um esquema de fraudes nas licitações do Ministério da Saúde. Noschang, que deixou a empresa no início de 2007, foi acusado pela Procuradoria da República no Distrito Federal de formação de quadrilha, fraude à licitação, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Entre os denunciados estão o ex-ministro da Saúde Humberto Costa e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Com mais de 70 volumes, o processo movido contra o ex-executivo da Novo Nordisk e três dezenas de réus corre na 10ª Vara Federal de Brasília, ainda sem decisão.