Título: Anadarko fortalece operações em poços no Brasil
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Empresas, p. B7

Com um portfólio que inclui dez concessões de blocos exploratórios no país - sendo sete no chamado pré-sal - e em meio aos preparativos para iniciar o desenvolvimento da produção de petróleo no campo de Peregrino, a americana Anadarko Petróleo prevê investir US$ 150 milhões no Brasil em 2008. Isso é parte dos investimentos totais de US$ 4,5 bilhões a US$ 4,8 bilhões, programados pela empresa para investir no mundo este ano.

No Brasil, a empresa está prestes a entrar no ainda pequeno grupo de produtores de petróleo. Ela tem 50% de Peregrino, onde é sócia da StatoilHydro, e está assumindo a operação do projeto, o que significa que vai ter o comando dos investimentos de US$ 1 bilhão programados para que o campo atinja seu pico de produção. Como Peregrino é o maior projeto da companhia no exterior, ela está aumentando sua base de operações no país. Vai contratar mais 30 funcionários e até o início da produção de Peregrino, previsto para o fim de 2010 ou início de 2011, a companhia deve ter 100 pessoas contratadas, quase 60 funcionários a mais que o quadro atual. Agora ela aguarda a chegada ao país de um grupo de expatriados noruegueses e americanos, cerca de 15, que hoje trabalham no projeto Peregrino diretamente da sede da companhia, em Houston (EUA).

Para acomodar seu pessoal, a empresa alugou dois andares do prédio da Esso na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O local foi totalmente decorado e preparado para ser a base da companhia no Brasil. A sede tem um "data center" que vai permitir o processamento e armazenagem de dados e em outra sala especialmente preparada será possível acompanhar remotamente toda a produção do campo, que fica no litoral do Rio, em frente às cidades de Arraial do Cabo, Búzios e Cabo Frio. A estimativa é de que o campo produza 100 mil barris de petróleo pesado por dia quando atingir seu pico de produção. Como as reservas no local são estimadas entre 300 e 600 milhões de barris recuperáveis, a área deve produzir petróleo por 30 anos.

Mas não é só. A filial brasileira venceu uma "disputa" com áreas da companhia que operam em outras partes do mundo, e conseguiu reservar a sonda "Millenium" - um ativo valioso dada a escassez de sondas de perfuração no mercado mundial - que está chegando ao Brasil nos próximos meses. Com a sonda, a Anadarko iniciará a perfuração dos blocos que tem em parceria no país, onde tem como sócias, além da norueguesa StatoilHydro, a Petrobras, a canadense EnCana, a também americana Devon e a coreana SK. A companhia já tem experiência na exploração de áreas pré-sal no Golfo do México, com sucesso, e pretende trazer para o Brasil esse "know-how" nas perfurações que irá fazer a partir deste ano.

O presidente da Anadarko, Kurt McCaslin, explica que a vinda da Millenium para o Brasil pode ser uma oportunidade para a empresa aumentar sua participação no país, negociando a cessão do equipamento em troca de parcerias em novos blocos exploratórios. "Temos dez ótimos blocos e não estamos desesperados por outros, mas podem surgir oportunidades interessantes", ressalta o executivo.

Outro trunfo que a empresa tem na manga é o que o diretor executivo, Cláudio Araújo, chama de "excelência tecnológica" na perfuração, imageamento sísmico e interpretação de dados de áreas no pré-sal. Ele conta que a Anadarko já perfurou 7 mil a 10 mil metros de camadas pré-sal em águas profundas do Golfo do México e domina totalmente essa tecnologia.

O primeiro poço da "Millenium" deve ser perfurado no bloco BM-C-30, que fica na faixa pré-sal da bacia de Campos no Espírito Santo, onde é sócia da Devon (25%), EnCana (25%) e SK (20%).

Outra perfuração deve ser feita no bloco BM-ES-24, na bacia do Espírito Santo, onde ela é sócia da Petrobras (40%) e Encana (30%). Ambas fazem parte das sete áreas da Anadarko e são sócias no pré-sal das bacias de Campos e Espírito Santo, onde a Petrobras afirma ter descoberto uma nova fronteira geológica com reservas gigantescas que podem somar entre 80 bilhões e 100 bilhões de barris de petróleo e gás incluindo as descobertas já feitas na bacia de Santos. As áreas foram compradas na segunda, sexta e nona rodadas da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Em 2006, a Anadarko adquiriu a Kerr McGee (que operava no Brasil desde a abertura) e a Western Gás, tornando-se uma das maiores empresas independentes em operação no mundo. Hoje, ela tem aproximadamente US$ 48 bilhões em ativos.

O termo "independente" é usado para as companhias que têm foco apenas na exploração e produção de petróleo e gás, sem operar de forma verticalizada. As independentes não têm atividades de refino e distribuição de combustíveis, por exemplo. Nos Estados Unidos, a Anadarko opera em águas rasas e profundas do Golfo do México e em terra. Tem ainda operações na China, Indonésia e África (Gana, Moçambique e Nigéria).